quinta-feira, 30 de abril de 2009

48º Aniversário de Embarque da CC 115

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Quem não tiver sido contactado pode printar o cupão abaixo e inscrever-se enviando para o Vitor Hugo Simões Sá, na direcção supra

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A melhor evocação do 25 de Abril de 1974

Por deferência do Camarada Valadas Horta que me enviou estas duas preciosidades aqui fica uma referência ao "25 de Abril"

sábado, 4 de abril de 2009

A CC 115 no Úcua e Pedra Verde

Com a nova disposição das tropas a partir do princípio de Janeiro de 1962 a CC 115 foi ocupar a povoação de Úcua, onde permaneceu o Comando+ Pel Ac e dois pelotões de caçadores, indo um pelotão (o 3º) para a Roça Quibaba (Quibaba II) e outro, o pelotão do Alferes Sequeira em reforço da CC 115, para Quissacala da Pedra Verde (Quissacala II).

Não tenho grandes recordações de Úcua, senão que era a sede de uma grande fazenda produtora de sisal, café e extracção de madeira, além de ser um ponto estratégico importante para as comunicações terrestres com o norte e todo o interland de Angola, (Dembos e Quanza Norte).

A povoação propriamente dita não tinha interesse especial nem havia habitantes além da tropa porque todos haviam fugido para o mato.

Vegetação tropical com cachos de bananas como enquadramento

Agora são as palmeiras que servem de fundo

O tanque da Fazenda foi uma boa piscina de ocasião

O Noca e o Cabo Teófilo refrescam-se do calor tropical

A Fazenda do Úcua pertencia a uma companhia denominada "CUNHA & IRMÃO" e era constituída por uma grande extensão de sisal. Esta matéria prima, depois de sofrer uma primeira transformação no "engenho" existente na Fazenda, seguia para exportação, nomeadamente para a Metrópole, onde, na Cordoaria Nacional, actual Museu da Cordoaria, era transformada em cordâme para amarração dos navios nacionais e para exportação.

Plantas de sisal em plena produção

Um aspecto em que sobressai a área de floresta

Além do sisal compunha ainda esta grande Fazenda enorme extensão de floresta, santuário de produção de café que se estendia até às encostas de floresta virgem do QUESSO, (cordilheira constituída por cinco elevações em linha, aproximadamente sul-norte, e que numa das extremidades tinha a Pedra Boa e na outra a Pedra Verde ou QUESSO propriamente dito, ficando no meio três mamelões muito característicos pela sua configuração arredondada e disposição simétrica, sugerindo dois deles, os seios de uma mulher deitada, a que não faltavam os respectivos mamilos constituídos por tufos salientes de árvores, na crista topográfica).

Os ditos mamelões

O Valadas Horta, sempre na crista da onda, deixa-se fotografar em Quibaba, com os mamelões em fundo

Outra pose do Valadas Horta, agora acompanhado e carregado de ananases, tendo em fundo a extremidade sul da cordilheira do QUESSO, a Pedra Boa. Vê-se o desaterro cavado na serra por onde se circula na estrada para Quitexe.

A poente desta cordilheira localizava-se a Roça Quibaba, muito rica em café, madeiras exóticas tropicais e toda a espécie de frutos silvestres desde bananas a ananases em produção espontânea por entre a floresta. Era igualmente propriedade da tal companhia "CUNHA & IRMÃO" e para ali foi destacado o 3º Pelotão da CC 115.

Uma foto do grupo de recolha de ananases com o barracão/caserna de Quibaba II em fundo


Um exemplar de bananeira selvagem, em ambiente natural em Quibaba II


Num dia chuvoso do princípio de Janeiro, já não tenho referência de datas certas porque a minha pequena agenda terminou, o 3º Pelotão deslocou-se de Úcua para Quibaba II, numa coluna de cinco ou seis viaturas ligeiras de transporte de pessoal guarnecidas com atrelados para transporte dos equipamentos e géneros alimentícios para uma semana, no mínimo. Ao percorrer um vale, por estrada alcatroada com declive descendente, mas pouco acentuado, numa curva aberta e com velocidade reduzida, um jepão "DODGE", 3/4 TON, entrou em derrapagem e virou-se, caindo para o lado direito, valendo o atrelado que impediu que ficasse com as rodas para cima, permitindo assim que o pessoal transportado saltasse para a berma sem perigo de ser esmagado pelo próprio jepão. Reposta a viatura na posição normal, continuou a viagem que chegou ao destino sem mais novidade.

A estadia em Quibaba II foi relativamente calma, com muitos recursos naturais como se pode ver pelas fotos e o ambiente tropical em época de chuvas, bastante agradável.

Para quebrar a rotina, verificou-se uma ocorrência deveras singular: numa noite já depois do recolher, uma sentinela deu o alerta porque o barracão/caserna estava a ser "atacado".

Analisada a situação foi necessário tomar medidas adequadas para conter uma invasão de grandes formigas que, em formação ordenada e em linha que circundava quase todo o barracão, avançavam para este, sabe-se lá com que objectivo, mas não seria bom certamente.

Não havendo meio de conter tão grande invasão, alguém se lembrou e o comando sancionou que se fizesse um grande sulco cirular entre o barracão e a formação de ataque inimiga e nele se lançasse gazolina a que se deitaria fogo logo que atingida pelo inimigo, o que aconteceu, mas sem todo o cuidado porque o soldado Serra foi atingido pelas chamas ao deitar gazolina em reforço das chamas que se estavam a extinguir. Houve necessidade de o atabafar com cobertores para evitar que sofresse queimaduras graves.

O Mito da Pedra Verde

Quissacala da Pedra Verde era um povoado muito grande a avaliar pelo número de casas indígenas que se encontraram, algumas apresentando já algum conforto, denotando que os seus ocupantes eram pessoas com algum poder económico e socialmente importantes. Alguns dos seus habitantes já eram mesmo detentores de automóvel próprio, resultado do bom êxito na produção de café, que surge quase espontaneamente na região e valor de mercado deste produto.
Esta realidade social não era do interesse de "CUNHA & IRMÃO" com quem existia um litígio de direito de passagem.
Estávamos ali em presença de um dos casos mais típicos de colonialismo: os habitantes locais não estavam dispostos a dar mão de obra para a safra do café e outros trabalhos do fazendeiro e este "importava mão de obra" de outras regiões de Angola, nomeadamente do planalto do Bié, mais precisamente do Bailundo.
Além disso os habitantes de Quissacala para chegarem à estrada alcatroada tinham de atravessar uma parte da Roça Quibaba. Enquanto o faziam a pé, o colono não se importou, mas quando surgiram os automóveis as coisas alteraram-se: para passar na picada que atravessava a roça era preciso autorização do "patrão", que colocou duas grandes colunas de concreto ligadas por grossas correntes de ferro e presas por forte cadeado a atravessar a picada, sendo impossível contornar esse obstáculo devido à presença de gigantescas árvores típicas da região.
Por este motivo especialmente, os guerrilheiros mostravam agora maior resistência ao avanço das tropas nesta zona, (o BC 96 ao tentar passar no sítio da correntes, sofreu aí o seu maior desaire, em 10/11 de Junho de 1961, tendo sofrido baixas e perdido algum material para o IN).

Daqui terá nascido outro mito: O Mito da Pedra Verde inacessível e inexpugnável!

Este é o QUESSO (PEDRA VERDE).
Da missão da CC 115, no Úcua, fazia parte garantir a segurança das colunas em trânsito para norte e nordeste e ainda reabastecer algumas unidades do interland, nomeadamente a sedeada na Roça Bom Jesus, onde me recordo de ter ido encontrar, um dia em que comandei uma dessas patrulhas de reabastecimento, os militares todos com o cabelo cortado à escovinha, por opção pessoal, para se moralizarem e reforçarem o espírito de corpo.

Aqui um aspecto da picada para a Roça Bom Jesus, num dia de época de chuvas

Na mesma picada, outro aspecto das "interessantes" condições de trânsito