sexta-feira, 22 de maio de 2009

Baixa importante no BC 114 - Morreu Lemos Pires




Morreu hoje, aos 79 anos de idade o Major General Lemos Pires!
Aqui o recordamos como Capitão, Oficial de Operações do BC 114.
Oficial de alto gabarito intelectual, moral, profissional e humano, desempenhou cargos de grande responsabilidade e de grau de dificuldade muito elevado.
Foi o último Governador Português de Timor, onde se viu enredado numa trama de interesses pessoais e políticos que retiraram um pouco do brilho das suas capacidades de comando e chefia, sem deslustrar a sua grande valia, uma vez que se viu absolutamente isolado e ostracisado pelo governo de Lisboa, não lhe restando outra alternativa senão retirar-se para a Ilha de Ataúro, por não poder tomar partido por qualquer das facções litigantes em Dili, onde se confrontavam dois partidos armados e sem qualquer hipótese de reconciliação.
No BC 114, (Angola desde 1961 a 1963), ainda Capitão, desempenhou, com grande brilho e eficácia, as funções de Oficial de Operações, criando em cada subordinado e colaborador um amigo e impondo-se ao comando com o respeito e consideração que lhe foram reconhecidos.
Morreu um Ilustre Português! Curvo-me perante a sua memória, que o tempo não apagará!
Apresentamos (CC 115) à Família do Maj-General Lemos Pires os mais sentidos pêsames e a nossa solidariedade neste momento difícil!

Em homenagem ao "Capitão" Lemos Pires, recordo um pequeno trecho retirado de um artigo que escreveu no J.N. em 26 de Junho de 2001, intitulado "O nosso batalhão", a propósito do encontro de elementos do BC 114, e que me foi trazido pelo Vitor Sá:

"...............
É assim o convívio dos ex-combatentes. Como que um chamamento que a cidadania lembra, obriga e recompensa na paz da consciência do cidadão que cumpriu o que a Pátria, ou em seu nome, então lhe pediu, e que não regateou.
Para o ano, de novo correrá o mesmo fuido de unidade, solidariedade, afirmação e paz, embora o motivo seja o de uma guerra que viveram e não gostaram. Mas isto só bem o sentem e bem o percebem os que lá foram (à guerra)."

quinta-feira, 21 de maio de 2009

As últimas Grandes Operações do BC 114 na ZIN

Com o Comando do BC 114 nas Mabubas, a CC 115 no Úcua, a CC 116 em Quicabo, a CC 117 em Quissacala e uma CC em reforço do Bat. na Roça Bom Jesus e com alguns Pelotões das Companhias projectados para pontos importantes da ZA, tais como Quibaba II e Quissacala II (Pedra Verde), Mazumbo, Anapasso e Balacende, a missão continuou a ser a de garantir a liberdade de movimentos em toda a zona.

Aspecto da vila de Úcua, embora numa foto posterior à nossa estadia
O IN tinha os seus santuários na grande floresta das margens dos rios Lifune e Dange, a montante da barragem das Mabubas, a oeste e noroeste do QUESSO, (Pedra Verde), onde encontrava não só protecção contra a observação aérea, mas sobretudo porque aí existiam, dizia-se, minas de sal, produto de grande valia para a subsistência dos guerrilheiros e populações pelos mesmos controladas.

Cordilheira do Quesso (Pedra Verde e os mamelões)

As patrulhas que eram diariamente lançadas, encontravam, com frequência, vestígios da presença humana em trilhos da floresta ou acampamentos abandonados recentemente, embora o contacto com o IN fosse inexistente por fuga deste ao aproximar das patrulhas.
Aí reside uma das maiores vantagens da guerra subversiva: os guerrilheiros só atacam ou respondem quando querem - tem o poder da iniciativa e surpresa. Só com métodos iguais se pode combater uma guerrilha bem instalada.
As nossas tropas que tinham uma preparação muito deficiente para este tipo de guerra, foram aprendendo e, em breve começaram a lançar patrulhas apeadas de pequenos efectivos, (Pelotão), que se tornaram muito mais eficazes.

OPERAÇÃO "GRANADA"
Recolhidas informações através das patrulhas e verificando-se vários vestígios da presença humana, o Comando determinou a realização de uma grande acção a que chamou "Operação Granada" e em que empenhou três grupos de combate de nível companhia.
A CC 115, reforçada com o 1º Pelotão da CC 166 e o 4º Pelotão da CArt 119, nos dias 28,29 e 30 de Janeiro/62, ocupou a Roça Bom Jesus e bateu as zonas entre Úcua, Roça Ângela, Mazumbo e Roça Bom Jesus sem estabelecer contacto com o IN.
RECONHECIMENTO DA JANGADA DO DANGE
Em 04Fev62 o 1º Pel da CC 166, em reforço da CC 115, recebeu a missão de patrulhar a picada entre Quissacala II e a Jangada do Rio Dange a fim de verificar da operacionalidade daquela jangada, elemento importante para a ligação até Quicabo e Balacende, localidades importantes, a norte daqueles rios.
O Pelotão deslocou-se em viaturas até Quissacala II, na base da Pedra Verde, e a partir dali, seguiu a pé até ao rio Dange, onde verificou que a jangada não se encontrava no local previsto e estava inoperacional. A picada decorre ao longo de floresta cerrada e mal permite a formação em coluna por dois, encontrando-se também muitas árvores cortadas, (abatises), a atravessar a picada. Por não haver outro carreiro conhecido, o Pelotão regressou pelo mesmo itinerário. A determinado ponto do trajecto, guerrilheiros emboscados num ponto do caminho, após a passagem dos militares, atacaram a retaguarda da coluna e tentaram avançar sobre os militares aos gritos de UPA:UPA! e WASSA:WASSA!, tal como no combate de Quicabo.
O ataque teve início com um sinal de apito estridente e após uma primeira arremetida os guerrilheiros recuaram ao sinal de outro apito e passado pouco tempo avançaram novamente, só não conseguindo a abordagem devido à barreira de fogo dos militares e à acção de uma arma muito eficaz que foi a Bazooka e das granadas de mão.
Felizmente os nossos militares não sofreram baixas de vulto além de um soldado com costelas partidas devido a queda e regressaram sem mais sobressaltos.
No dia seguinte apresentaram-se no acampamento em Úcua dois nativos que informaram a existência de dois mortos e vários feridos entre os guerrilheiros, em resultado daquele ataque.
Este episódio, juntamente com as informações que vinham chegando ao Comando da actividade do IN em toda a ZA, foram motivo para dar início à preparação da grande operação em todo o sector - a....

"OPERAÇÃO PÉ LEVE"
Foi certamente a maior operação militar levada a efeito na zona dos Dembos, depois da Operação Viriato, quer devido à grande área abrangida, quer pelos efectivos e meios militares empenhados, que até foram muito maiores.
Decorreu entre 13 e 23 de Fevereiro de 1962 e nela tomaram parte 4 Companhias do BC 114, (CC 115, CC 116, CC 117 e CC 66 em reforço), 2 Companhias do BC 137, (CC 63 e CC 140), a CC 187 do BC 186, CC 269 (caçadores especiais), do BC 261, a 3ª CPARAS, 2 BArt, (146 e 147) e 1 Pelotão da CSap 123.

Esquadra de Canhão sem recuo - Lembramos aqui o saudoso Furriel Boieiro


Peça de artilharia de campanha
Interveio ainda a FA, em vários episódios, conforme era solicitado pelos respectivos comandos no teatro de operações, quer em observação e vigilância aérea, quer em intervenções de apoio de combate.
O Comando Avançado fixou-se em Quicabo e dispunha de um avião ligeiro, tipo DORNIER, que utilizava conforme o evoluir da operação, fazendo-se acompanhar do oficial observador de artilharia, que dirigia os fogos pedidos pelos diversos comandos de subunidade no terreno.

Dornier transportando o Comando aéreo do BC 114, levantando da pista de Quicabo


Dornier sobrevoando os montes Quiunenes
A área abragida pela operação foi todo o concelho do Dande, incidindo especialmente nas áreas de grande floresta tropical das margens dos rios Lifune e Dange, tendo como limites exteriores Caxila e Birila a Oeste, os montes Quiunenes (N'ZOA) a norte, a cordilheira do QUESSO, (Pedra Verde) a nascente e a estrada Sassa-Úcua a Sul, incluindo a Roça Bom Jesus e o Mazumbo a sul desta estrada.

Pedra Verde


N'ZOA, o mais alto dos Quiunenes
Os grandes objectivos da operação foram: localizar e contactar com populações controladas pelos guerrilheiros de modo a tentar recuperar alguma dessa população para o nosso lado e, sobretudo, provocar instabilidade e insegurança entre os guerrilheiros, de modo a conquistar a surpresa e iniciativa que, até ali, estava exclusivamente do lado dos mesmos guerrilheiros, localizando e destruindo os seus pontos de observação e vigia e, evidentemente abater os guerrilheiros que resistissem ou se opusessem à acção das NT.
É de toda a justiça salientar nesta operação, tal como já acontecera na Beira Baixa, em Agosto/Setembro de 1961, a acção de comando do Capitão Falcão, (Alípio Emílio Tomé Falcão), que, á frente dos militares da CC 115, revelou as suas altas qualidades de comando e direcção, levando-os, com entusiasmo e audácia, a enfrentar situações muito adversas e de grandes sacrifícios, que todos sempre aceitaram, seguindo o exemplo e entusiasmo do seu Comandante.