quarta-feira, 19 de agosto de 2009

INFORMAÇÃO AOS VISITANTES

Em maio de 1962 terminou a missão da CC 115 na ZIN (Zona de Intervenção Norte).
Por isso termina aqui a referência à parte operacional da Companhia, ela continua na ZIL (Zona de Intervenção Leste - Lunda e Moxico, Alto Zambeze), para o que abri um novo blog: http://cc115.1.blogspot.com/ .
Espero lá ver os amigos que nos queiram visitar!

terça-feira, 28 de julho de 2009

48º Aniversário do Embarque da CC 115- Encontro de ex-combatentes (continuação)

Após a concentração em Tábua e visita ao monumento erigido e dedicado aos militares do concelho mortos nas guerras de África, dirigimo-nos para o Museu do Pão, em Seia, passando antes pela freguesia do nosso Anfitrião, Américo P. Alves, Vereador da Câmara de Tábua.
Depois de um lauto aperitivo no Centro Social da freguesia, onde a acção do Américo Alves está bem patente e documentada para a história por uma placa alusiva de reconhecimento pela dedicação e esforço de trabalho para o bem estar de todos os sócios e gentes da freguesia, seguimos directamente, pela "Estrada Real", (Estrada da Beira), na direcção de Seia, onde chegámos já perto das 14 horas.

A chegada à cidade de Seia é muito simpática, mas o Museu do Pão é difícil de alcançar, sobretudo para quem, como a maior parte de nós, já fez os "69"! Devido ao acidentado da zona, os autocarros não chegam ao interior nem à porta do complexo turístico/artesanal. Largam os passageiros a cerca de duzentos metros de distância que tem de ser vencida com pernas que já palmilharam muito e pedem descanso. Mas lá fomos e chegámos.

Entrados, instalámo-nos numa "mezanine" com vista para a encosta da grande serra, (Serra da Estrela), e sobranceira ao salão repleto de turistas e passantes.

O repasto, bem servido, (abundante e bem confeccionado, como convinha a ex-militares), foi degustado com alegria, em amena cavaqueira, relembrando mais uma vez situações passadas na guerra, cujas memórias já vão ficando muito longínquas. Por isso estes encontros são muito úteis para que essas vivências se vão prolongando no tempo.

Houve intervenções de alguns convivas que saudaram os camaradas, mas o mais expressivo, como de costume foi o nosso "vate" Furriel Coelho, que em tom muito inflamado de patriotismo, declamou uma quadras qe compôs expressamente dedicadas a este dia e encontro.

Composição heróico-poética apresentada pelo Furriel Coelho

A terminar e depois de brindados com lembranças especialmente relativas à Câmara Municipal de Tábua, onde o dinâmico Américo Pegado Alves é Vereador, teve lugar a partilha do "Bolo de Aniversário" de que se seguem duas fotos.



Depois do bolo bem regado com generoso espumante e de todos brindarem por longa vida e recordando os ausentes, começaram as despedidas.

Infelizmente, porque o tempo não permitiu, não pudemos visitar em pormenor o Museu do Pão, limitando-nos a ver o aspecto exterior e o Complexo Turístico serrano. Porque o comboio para Lisboa não espera tivémos de nos aligeirar e seguir directamente para a estação de Tábua, local de embarque.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

48º Aniversário do Embarque da CC 115- Encontro de ex-combatentes

Decorreu no passado dia 30 de Maio, conforme o desdobrável que deixámos abaixo o encontro dos militares da CC 115, para comemorar o 48º aniversário do embarque da Companhia para Angola no Navio-M NIASSA, em 28 de Maio de 1961.

O ponto de encontro foi fixado junto ao edifício da Câmara Municipal de Tábua, mas para ali chegar, grandes trajectos alguns tiveram de fazer.

Por exemplo os que vinham da área da grande Lisboa deram corda aos sapatos cedinho, para às 08H30 apanharem o intercidades em Santa Apolónia ou, nove minutos depois, no Oriente.

Outros fizeram percursos ainda maiores como o Arménio Guerreiro, que se fez acompanhar da filha mais nova e veio de Faro, O Alberto (condutor) e seus dois irmãos "metralhas" que vieram do Porto e ainda e sobretudo o Valentim Marques emigrado na Alemanha.

Ainda no comboio começou o convívio em que sobressaiu o "Xapirrau", o mais exuberante de todos, reduzindo ao silêncio o Vítor Chora dos Santos, (Vítor Maluco), cujas características histriónicas são bem conhecidas.
À hora pré-estabelecida estávamos frente ao edifício da Câmara Municipal de Tábua, para, na escadaria, fazer uma primeira foto de grupo, embora ainda incompleto.



Em primeiro plano sentados: Domingos Ferreira, (Pèlinhas), Jorge Morais, Noca e Alberto Oliveira. Depois da esquerda para a direita: Augusto Santos, Joaquim Ribeiro, Manuel Simões, (o Lisboa), Albino Gonçalves, (Xapirrau), Américo Alves, (o anfitrião), Irmão (metralha) do Alberto e Condutor do autocarro da CM de Tábua. Reconheço ainda e mais atrás o Celestino Coelho e a seu lado o Alpídio Duarte. Depois o Arménio Guerreiro, o Manuel V Horta, o Artur Bento, (Alenquer), o Joaquim Monteiro e o Valentim Marques. Lá atrás, a bisbilhotar junto às grades, está o Vítor Maluco com a mão no ombro do António Colaço, conhecido por "Casqueiro". Esposas, filhos e netos de alguns ex-combatentes, abrilhantaram o convívio. Alguns já figuram nesta foto.


Monumento dedicado aos militares mortos na guerra do ultramar

Aproveitando a estadia em Tábua, e esse foi um dos pretextos para que o ponto de reunião fosse naquela próspera vila beirã, visitámos o monumento aos militares daquele concelho mortos na Guerra do Ultramar, em boa hora erguido numa das rotundas mais expostas da principal entrada da vila.

O Vítor Sá e o Xapirrau (foto-cine)

Arménio Guerreiro, Noca, Horta e Xapirrau

Os mesmos figurantes da foto anterior. A diferença nota-se apenas nos efeitos da água.

Manuel Simões, (Lisboa), e Xapirrau

Valentim Marques e Augusto Santos, (corneteiro).

Uma ordem caótica no frenesim da chegada e apreciação do monumento.

CC 115 no Cacuaco

A partir do princípio de Abril de 1962, as companhias do BC 114 começaram a ser rendidas nos seus locais de quadrícula e o Batalhão foi acantonar-se na região do Cacuaco, localidade piscatória a norte de Luanda, famosa pelos mariscos que dali saíam para as cervejarias da capital.


À CC 115 coube um local mesmo sobre a praia, o que permitia grande liberdade de movimentos a todo o pessoal, refazendo-se assim, dos maus tempos passados na zona de intervenção com todas as carências e péssimo ambiente, que nunca saberemos descrever com justeza.


Ali permanecemos cerca de um mês, ocupados em tarefas de recuperação dos homens e do material: aqueles no aspecto físico e mental e este no que se refere à manutenção, e reparação de avarias.


Além da ginástica e palestras adequadas, no sentido de dar aos militares uma maior compreensão sobre a sua própria vida e o ambiente em que estavam inseridos, preparava-se já a nova missão que nos iria ser atribuída na ZIL, (Zona de Intervenção Leste), onde ainda não existia sublevação dos povos autóctones e tudo seria diferente.
O Cacuaco era uma aldeia de pescadores artesanais que utilizavam as suas canoas, (troncos de grandes árvores magistralmente talhados para garantir a flutuação sobre as águas do mar que ali é bastante calmo).


Fotografia das canoas espalhadas pelo areal em tempo de repouso dos pescadores. Em primeiro plano vê-se com bastante pormenor a beleza da canoa e a grandeza da rede que contém, permitindo imaginar a faina da pesca nesta região. Cada canoa levava dois e às vezes três homens




sexta-feira, 22 de maio de 2009

Baixa importante no BC 114 - Morreu Lemos Pires




Morreu hoje, aos 79 anos de idade o Major General Lemos Pires!
Aqui o recordamos como Capitão, Oficial de Operações do BC 114.
Oficial de alto gabarito intelectual, moral, profissional e humano, desempenhou cargos de grande responsabilidade e de grau de dificuldade muito elevado.
Foi o último Governador Português de Timor, onde se viu enredado numa trama de interesses pessoais e políticos que retiraram um pouco do brilho das suas capacidades de comando e chefia, sem deslustrar a sua grande valia, uma vez que se viu absolutamente isolado e ostracisado pelo governo de Lisboa, não lhe restando outra alternativa senão retirar-se para a Ilha de Ataúro, por não poder tomar partido por qualquer das facções litigantes em Dili, onde se confrontavam dois partidos armados e sem qualquer hipótese de reconciliação.
No BC 114, (Angola desde 1961 a 1963), ainda Capitão, desempenhou, com grande brilho e eficácia, as funções de Oficial de Operações, criando em cada subordinado e colaborador um amigo e impondo-se ao comando com o respeito e consideração que lhe foram reconhecidos.
Morreu um Ilustre Português! Curvo-me perante a sua memória, que o tempo não apagará!
Apresentamos (CC 115) à Família do Maj-General Lemos Pires os mais sentidos pêsames e a nossa solidariedade neste momento difícil!

Em homenagem ao "Capitão" Lemos Pires, recordo um pequeno trecho retirado de um artigo que escreveu no J.N. em 26 de Junho de 2001, intitulado "O nosso batalhão", a propósito do encontro de elementos do BC 114, e que me foi trazido pelo Vitor Sá:

"...............
É assim o convívio dos ex-combatentes. Como que um chamamento que a cidadania lembra, obriga e recompensa na paz da consciência do cidadão que cumpriu o que a Pátria, ou em seu nome, então lhe pediu, e que não regateou.
Para o ano, de novo correrá o mesmo fuido de unidade, solidariedade, afirmação e paz, embora o motivo seja o de uma guerra que viveram e não gostaram. Mas isto só bem o sentem e bem o percebem os que lá foram (à guerra)."

quinta-feira, 21 de maio de 2009

As últimas Grandes Operações do BC 114 na ZIN

Com o Comando do BC 114 nas Mabubas, a CC 115 no Úcua, a CC 116 em Quicabo, a CC 117 em Quissacala e uma CC em reforço do Bat. na Roça Bom Jesus e com alguns Pelotões das Companhias projectados para pontos importantes da ZA, tais como Quibaba II e Quissacala II (Pedra Verde), Mazumbo, Anapasso e Balacende, a missão continuou a ser a de garantir a liberdade de movimentos em toda a zona.

Aspecto da vila de Úcua, embora numa foto posterior à nossa estadia
O IN tinha os seus santuários na grande floresta das margens dos rios Lifune e Dange, a montante da barragem das Mabubas, a oeste e noroeste do QUESSO, (Pedra Verde), onde encontrava não só protecção contra a observação aérea, mas sobretudo porque aí existiam, dizia-se, minas de sal, produto de grande valia para a subsistência dos guerrilheiros e populações pelos mesmos controladas.

Cordilheira do Quesso (Pedra Verde e os mamelões)

As patrulhas que eram diariamente lançadas, encontravam, com frequência, vestígios da presença humana em trilhos da floresta ou acampamentos abandonados recentemente, embora o contacto com o IN fosse inexistente por fuga deste ao aproximar das patrulhas.
Aí reside uma das maiores vantagens da guerra subversiva: os guerrilheiros só atacam ou respondem quando querem - tem o poder da iniciativa e surpresa. Só com métodos iguais se pode combater uma guerrilha bem instalada.
As nossas tropas que tinham uma preparação muito deficiente para este tipo de guerra, foram aprendendo e, em breve começaram a lançar patrulhas apeadas de pequenos efectivos, (Pelotão), que se tornaram muito mais eficazes.

OPERAÇÃO "GRANADA"
Recolhidas informações através das patrulhas e verificando-se vários vestígios da presença humana, o Comando determinou a realização de uma grande acção a que chamou "Operação Granada" e em que empenhou três grupos de combate de nível companhia.
A CC 115, reforçada com o 1º Pelotão da CC 166 e o 4º Pelotão da CArt 119, nos dias 28,29 e 30 de Janeiro/62, ocupou a Roça Bom Jesus e bateu as zonas entre Úcua, Roça Ângela, Mazumbo e Roça Bom Jesus sem estabelecer contacto com o IN.
RECONHECIMENTO DA JANGADA DO DANGE
Em 04Fev62 o 1º Pel da CC 166, em reforço da CC 115, recebeu a missão de patrulhar a picada entre Quissacala II e a Jangada do Rio Dange a fim de verificar da operacionalidade daquela jangada, elemento importante para a ligação até Quicabo e Balacende, localidades importantes, a norte daqueles rios.
O Pelotão deslocou-se em viaturas até Quissacala II, na base da Pedra Verde, e a partir dali, seguiu a pé até ao rio Dange, onde verificou que a jangada não se encontrava no local previsto e estava inoperacional. A picada decorre ao longo de floresta cerrada e mal permite a formação em coluna por dois, encontrando-se também muitas árvores cortadas, (abatises), a atravessar a picada. Por não haver outro carreiro conhecido, o Pelotão regressou pelo mesmo itinerário. A determinado ponto do trajecto, guerrilheiros emboscados num ponto do caminho, após a passagem dos militares, atacaram a retaguarda da coluna e tentaram avançar sobre os militares aos gritos de UPA:UPA! e WASSA:WASSA!, tal como no combate de Quicabo.
O ataque teve início com um sinal de apito estridente e após uma primeira arremetida os guerrilheiros recuaram ao sinal de outro apito e passado pouco tempo avançaram novamente, só não conseguindo a abordagem devido à barreira de fogo dos militares e à acção de uma arma muito eficaz que foi a Bazooka e das granadas de mão.
Felizmente os nossos militares não sofreram baixas de vulto além de um soldado com costelas partidas devido a queda e regressaram sem mais sobressaltos.
No dia seguinte apresentaram-se no acampamento em Úcua dois nativos que informaram a existência de dois mortos e vários feridos entre os guerrilheiros, em resultado daquele ataque.
Este episódio, juntamente com as informações que vinham chegando ao Comando da actividade do IN em toda a ZA, foram motivo para dar início à preparação da grande operação em todo o sector - a....

"OPERAÇÃO PÉ LEVE"
Foi certamente a maior operação militar levada a efeito na zona dos Dembos, depois da Operação Viriato, quer devido à grande área abrangida, quer pelos efectivos e meios militares empenhados, que até foram muito maiores.
Decorreu entre 13 e 23 de Fevereiro de 1962 e nela tomaram parte 4 Companhias do BC 114, (CC 115, CC 116, CC 117 e CC 66 em reforço), 2 Companhias do BC 137, (CC 63 e CC 140), a CC 187 do BC 186, CC 269 (caçadores especiais), do BC 261, a 3ª CPARAS, 2 BArt, (146 e 147) e 1 Pelotão da CSap 123.

Esquadra de Canhão sem recuo - Lembramos aqui o saudoso Furriel Boieiro


Peça de artilharia de campanha
Interveio ainda a FA, em vários episódios, conforme era solicitado pelos respectivos comandos no teatro de operações, quer em observação e vigilância aérea, quer em intervenções de apoio de combate.
O Comando Avançado fixou-se em Quicabo e dispunha de um avião ligeiro, tipo DORNIER, que utilizava conforme o evoluir da operação, fazendo-se acompanhar do oficial observador de artilharia, que dirigia os fogos pedidos pelos diversos comandos de subunidade no terreno.

Dornier transportando o Comando aéreo do BC 114, levantando da pista de Quicabo


Dornier sobrevoando os montes Quiunenes
A área abragida pela operação foi todo o concelho do Dande, incidindo especialmente nas áreas de grande floresta tropical das margens dos rios Lifune e Dange, tendo como limites exteriores Caxila e Birila a Oeste, os montes Quiunenes (N'ZOA) a norte, a cordilheira do QUESSO, (Pedra Verde) a nascente e a estrada Sassa-Úcua a Sul, incluindo a Roça Bom Jesus e o Mazumbo a sul desta estrada.

Pedra Verde


N'ZOA, o mais alto dos Quiunenes
Os grandes objectivos da operação foram: localizar e contactar com populações controladas pelos guerrilheiros de modo a tentar recuperar alguma dessa população para o nosso lado e, sobretudo, provocar instabilidade e insegurança entre os guerrilheiros, de modo a conquistar a surpresa e iniciativa que, até ali, estava exclusivamente do lado dos mesmos guerrilheiros, localizando e destruindo os seus pontos de observação e vigia e, evidentemente abater os guerrilheiros que resistissem ou se opusessem à acção das NT.
É de toda a justiça salientar nesta operação, tal como já acontecera na Beira Baixa, em Agosto/Setembro de 1961, a acção de comando do Capitão Falcão, (Alípio Emílio Tomé Falcão), que, á frente dos militares da CC 115, revelou as suas altas qualidades de comando e direcção, levando-os, com entusiasmo e audácia, a enfrentar situações muito adversas e de grandes sacrifícios, que todos sempre aceitaram, seguindo o exemplo e entusiasmo do seu Comandante.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

48º Aniversário de Embarque da CC 115

Clic com o rato sobre as imagens para aumentar o zoom

Quem não tiver sido contactado pode printar o cupão abaixo e inscrever-se enviando para o Vitor Hugo Simões Sá, na direcção supra

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A melhor evocação do 25 de Abril de 1974

Por deferência do Camarada Valadas Horta que me enviou estas duas preciosidades aqui fica uma referência ao "25 de Abril"

sábado, 4 de abril de 2009

A CC 115 no Úcua e Pedra Verde

Com a nova disposição das tropas a partir do princípio de Janeiro de 1962 a CC 115 foi ocupar a povoação de Úcua, onde permaneceu o Comando+ Pel Ac e dois pelotões de caçadores, indo um pelotão (o 3º) para a Roça Quibaba (Quibaba II) e outro, o pelotão do Alferes Sequeira em reforço da CC 115, para Quissacala da Pedra Verde (Quissacala II).

Não tenho grandes recordações de Úcua, senão que era a sede de uma grande fazenda produtora de sisal, café e extracção de madeira, além de ser um ponto estratégico importante para as comunicações terrestres com o norte e todo o interland de Angola, (Dembos e Quanza Norte).

A povoação propriamente dita não tinha interesse especial nem havia habitantes além da tropa porque todos haviam fugido para o mato.

Vegetação tropical com cachos de bananas como enquadramento

Agora são as palmeiras que servem de fundo

O tanque da Fazenda foi uma boa piscina de ocasião

O Noca e o Cabo Teófilo refrescam-se do calor tropical

A Fazenda do Úcua pertencia a uma companhia denominada "CUNHA & IRMÃO" e era constituída por uma grande extensão de sisal. Esta matéria prima, depois de sofrer uma primeira transformação no "engenho" existente na Fazenda, seguia para exportação, nomeadamente para a Metrópole, onde, na Cordoaria Nacional, actual Museu da Cordoaria, era transformada em cordâme para amarração dos navios nacionais e para exportação.

Plantas de sisal em plena produção

Um aspecto em que sobressai a área de floresta

Além do sisal compunha ainda esta grande Fazenda enorme extensão de floresta, santuário de produção de café que se estendia até às encostas de floresta virgem do QUESSO, (cordilheira constituída por cinco elevações em linha, aproximadamente sul-norte, e que numa das extremidades tinha a Pedra Boa e na outra a Pedra Verde ou QUESSO propriamente dito, ficando no meio três mamelões muito característicos pela sua configuração arredondada e disposição simétrica, sugerindo dois deles, os seios de uma mulher deitada, a que não faltavam os respectivos mamilos constituídos por tufos salientes de árvores, na crista topográfica).

Os ditos mamelões

O Valadas Horta, sempre na crista da onda, deixa-se fotografar em Quibaba, com os mamelões em fundo

Outra pose do Valadas Horta, agora acompanhado e carregado de ananases, tendo em fundo a extremidade sul da cordilheira do QUESSO, a Pedra Boa. Vê-se o desaterro cavado na serra por onde se circula na estrada para Quitexe.

A poente desta cordilheira localizava-se a Roça Quibaba, muito rica em café, madeiras exóticas tropicais e toda a espécie de frutos silvestres desde bananas a ananases em produção espontânea por entre a floresta. Era igualmente propriedade da tal companhia "CUNHA & IRMÃO" e para ali foi destacado o 3º Pelotão da CC 115.

Uma foto do grupo de recolha de ananases com o barracão/caserna de Quibaba II em fundo


Um exemplar de bananeira selvagem, em ambiente natural em Quibaba II


Num dia chuvoso do princípio de Janeiro, já não tenho referência de datas certas porque a minha pequena agenda terminou, o 3º Pelotão deslocou-se de Úcua para Quibaba II, numa coluna de cinco ou seis viaturas ligeiras de transporte de pessoal guarnecidas com atrelados para transporte dos equipamentos e géneros alimentícios para uma semana, no mínimo. Ao percorrer um vale, por estrada alcatroada com declive descendente, mas pouco acentuado, numa curva aberta e com velocidade reduzida, um jepão "DODGE", 3/4 TON, entrou em derrapagem e virou-se, caindo para o lado direito, valendo o atrelado que impediu que ficasse com as rodas para cima, permitindo assim que o pessoal transportado saltasse para a berma sem perigo de ser esmagado pelo próprio jepão. Reposta a viatura na posição normal, continuou a viagem que chegou ao destino sem mais novidade.

A estadia em Quibaba II foi relativamente calma, com muitos recursos naturais como se pode ver pelas fotos e o ambiente tropical em época de chuvas, bastante agradável.

Para quebrar a rotina, verificou-se uma ocorrência deveras singular: numa noite já depois do recolher, uma sentinela deu o alerta porque o barracão/caserna estava a ser "atacado".

Analisada a situação foi necessário tomar medidas adequadas para conter uma invasão de grandes formigas que, em formação ordenada e em linha que circundava quase todo o barracão, avançavam para este, sabe-se lá com que objectivo, mas não seria bom certamente.

Não havendo meio de conter tão grande invasão, alguém se lembrou e o comando sancionou que se fizesse um grande sulco cirular entre o barracão e a formação de ataque inimiga e nele se lançasse gazolina a que se deitaria fogo logo que atingida pelo inimigo, o que aconteceu, mas sem todo o cuidado porque o soldado Serra foi atingido pelas chamas ao deitar gazolina em reforço das chamas que se estavam a extinguir. Houve necessidade de o atabafar com cobertores para evitar que sofresse queimaduras graves.

O Mito da Pedra Verde

Quissacala da Pedra Verde era um povoado muito grande a avaliar pelo número de casas indígenas que se encontraram, algumas apresentando já algum conforto, denotando que os seus ocupantes eram pessoas com algum poder económico e socialmente importantes. Alguns dos seus habitantes já eram mesmo detentores de automóvel próprio, resultado do bom êxito na produção de café, que surge quase espontaneamente na região e valor de mercado deste produto.
Esta realidade social não era do interesse de "CUNHA & IRMÃO" com quem existia um litígio de direito de passagem.
Estávamos ali em presença de um dos casos mais típicos de colonialismo: os habitantes locais não estavam dispostos a dar mão de obra para a safra do café e outros trabalhos do fazendeiro e este "importava mão de obra" de outras regiões de Angola, nomeadamente do planalto do Bié, mais precisamente do Bailundo.
Além disso os habitantes de Quissacala para chegarem à estrada alcatroada tinham de atravessar uma parte da Roça Quibaba. Enquanto o faziam a pé, o colono não se importou, mas quando surgiram os automóveis as coisas alteraram-se: para passar na picada que atravessava a roça era preciso autorização do "patrão", que colocou duas grandes colunas de concreto ligadas por grossas correntes de ferro e presas por forte cadeado a atravessar a picada, sendo impossível contornar esse obstáculo devido à presença de gigantescas árvores típicas da região.
Por este motivo especialmente, os guerrilheiros mostravam agora maior resistência ao avanço das tropas nesta zona, (o BC 96 ao tentar passar no sítio da correntes, sofreu aí o seu maior desaire, em 10/11 de Junho de 1961, tendo sofrido baixas e perdido algum material para o IN).

Daqui terá nascido outro mito: O Mito da Pedra Verde inacessível e inexpugnável!

Este é o QUESSO (PEDRA VERDE).
Da missão da CC 115, no Úcua, fazia parte garantir a segurança das colunas em trânsito para norte e nordeste e ainda reabastecer algumas unidades do interland, nomeadamente a sedeada na Roça Bom Jesus, onde me recordo de ter ido encontrar, um dia em que comandei uma dessas patrulhas de reabastecimento, os militares todos com o cabelo cortado à escovinha, por opção pessoal, para se moralizarem e reforçarem o espírito de corpo.

Aqui um aspecto da picada para a Roça Bom Jesus, num dia de época de chuvas

Na mesma picada, outro aspecto das "interessantes" condições de trânsito

domingo, 29 de março de 2009

Nova remodelação do dispositivo

Abertos os itinerários principais da zona dos Dembos, sobretudo os convergentes em Nambuangongo, conseguido o objectivo estratégico e publicitário da ocupação daquela vila, o poder político, em Lisboa, apressou-se a anunciar o fim das operações de combate, fazendo crer que agora as forças militares apenas faziam acções policiais, na ausência de uma polícia civil efectiva.
Neste contexto procedeu-se a uma grande remodelação do dispositivo, fazendo coincidir a ocupação militar no terreno com a divisão administrativa.
Foi assim criado o Sub-sector do DANDE que correspondia ao concelho com o mesmo nome.
O Dispositivo do Sub-sector do DANDE passou a ser o seguinte:

  1. Cmd e CCS (+ 1 Pel) - Mabubas
  2. CCaç (-) - Quicabo
    1 Pelotão -Anapasso (Ponte do Lifune)
    1 Pelotão -Balacende
  3. CCaç -Tentativa
  4. CCaç -Quissacala
  5. CCaç (-) -Úcua
    1 Pelotão -Quissacala da Pedra Verde (Quissacala II)
    1 Pelotão -Fazenda Quibaba (Quibaba II)
  6. CCaç (-) -Roça Bom Jesus
    1 Pelotão -Mazumbo

    O Comandante do BC 114 assumiu o Comando do Sub-sector do DANDE em 04DEZ62.
    A missão de quadrícula consistia especialmente no apoio a equipas de Obras Públicas que começaram a limpar as faixas laterais das picadas, segurança dos transportes de pessoas e bens e patrulhamentos pelas respectivas zonas de responsabilidade, sendo frequentes os contactos com o IN, que se manifestava de forma esporádica, mas fazendo sempre sentir a sua presença. Por esse motivo as grandes operações continuaram como adiante referirei, com evidência especial para as operações "GRANADA" e "PÉ LEVE".

domingo, 22 de março de 2009

Este admirável mundo da blogosfera!

Um blog não é um livro de memórias nem um caderno de apontamentos, mas aquilo que o seu autor quiser.
É um sítio imaginário onde se podem encontrar as mais variadas e inesperadas situações.
Na blogosfera tudo é possível desde relatos históricos a encontros de amigos antigos ou recentes.
Sendo este um blog para ligar os elementos da CC 115, hoje tivémos uma grande e agradável surpresa: após um comentário ao post "CC 115 em Quicabo a Guerra continua", a que respondi, recebi hoje este e-mail que, com a devida vénia e autorização, aqui publico para conhecimento dos que nos visitam, em especial dos elementos da CC 115.

"Exm.º Senhor António Nobre de Campos (NOCA?)

A honra é toda minha em conhecer Homens que defenderam uma Pátria, com sacrifícios extremos, longe daqueles que lhes eram mais queridos. E, acredite, tenho poucas dúvidas que essa Pátria pouco ou nada tem feito (nem fará!) para merecer o valor de tais Homens…
A relação agora descoberta e que me liga indirectamente à CC 115 é com o Capitão Falcão, então Comandante da Companhia. Era meu Tio.
Infelizmente, enquanto ele era vivo, nunca nos aproximámos o suficiente para partilhar as experiências de uma forma mais profunda. Agora, ao olhar para as fotografias que estão no vosso blog, sou confrontado com fortes sensações e emoções de orgulho, saudade e tristeza…enfim!
No âmbito das minhas actuais funções de professor no Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM), ao preparar uma investigação sobre as Grandes Comandantes e Batalhas do Exército Português, e que irão ser publicadas periodicamente no Jornal do Exército, deparei-me com o vosso blog. Foi uma excelente surpresa.
Como compreenderá, gostaria bastante de saber mais sobre os episódios que aconteceram na CC 115. Se de alguma forma estiverem a pensar em reunir numa publicação as vossas experiências, teria muito gosto em adquirir um exemplar. De qualquer forma, irei ler com toda a atenção o vosso blog.
Caso passe pelo IESM terei todo o gosto em convidá-lo para almoçar e conhecê-lo melhor.
Reitero a elevada consideração,
Luis Carlos Falcão Escorrega
Major de Infantaria"


Nota:- O Senhor Major Falcão é Professor de Estratégia no IESM

Outra surpresa agradável e que, de certo modo, vem de encontro aos desejos manifestados pelo Senhor Major Falcão é o trabalho que o Amigo e Camarada VALHOR me enviou e aqui publico com o maior gosto: é um relato na primeira pessoa de quem viveu esses acontecimentos trágicos de 15 de Julho de 1961! Este não é um "bobo", mas um herói, porque fez e viveu a História!

""VALHOR disse:
Volto à emboscada de Quanda Maúa - Quicabo
Este histórico acontecimento merece e justifica uma melhor atenção e apreciação por parte dos historiadores. A história deverá fornecer, com verdade, a compreensão do presente (enquanto houver presente!) através da análise do passado, a fim de evitar que "factores invisíveis" ritmem e determinem o processo histórico futuro.
No meu blog ...valhor..."Episódios Avulsos" e outros, falei muito sucintamente acerca desse feroz combate.
O NOCA neste seu blog fala constantemente desse acontecimento. Porque será?
Certamente que não o faz por fazer! Juntando todas as peças do "puzzle" talvez deixe adivinhar o motivo. Não tenho quaisquer dúvidas de que este acontecimento mereceria outra atenção! Peço ao leitor, que pare de ler durante uns breves segundos, pense, e se interrogue: - "Se se visse envolvido num destes cenários de luta corpo a corpo, fazendo parte integrante de uma das facções contendoras, ambas armadas, qual seria a sua reacção?". Dá que pensar, não dá? Aconteceu aos homens da CC 115 que, de um momento para o outro se viram confrontados com uma situação que se afigurava surreal antes do confronto.
O "IN" preparou e envolveu nesta emboscada cerca de cinco centenas de guerrilheiros, enérgicos e exercitados para a guerra de guerrilha. O seu chefe, colocou os seus combatentes junto "à picada" a coberto da vegetação, e, à passagem da coluna de viaturas pelo local, ao sinal de "apito" lançou, de repente, vagas sucessivas de homens, num ataque inimaginável sobre os nossos militares que seguiam nas primeiras viaturas. Antes dos nossos militares terem esboçado qualquer tipo de defesa ou eventualmente de contra-ataque, já os guerrilheiros se encontravam agarrados às nossas viaturas. Esta operação realizada de surpresa pelos guerrilheiros, (ocultos na mata), sobre uma força em movimento muito lento devido às características da picada, poderia ter tido um resultado catastrófico para as nossas forças, não fora a coragem, a abnegação, a bravura e a valentia que é tida como uma qualidade mental que reconhece o medo, mas que permite que as pessoas enfrentem o perigo com firmeza, apanágio dos soldados portugueses que reagiram energicamente ao ímpeto dos guerrilheiros. Foi, sem dúvida, um pandemónio o que ali aconteceu, um acto heróico, aquela peleja de "luta corpo a corpo" que poderia ter tido consequências muito sérias para as cores nacionais. Refira-se que alguns guerrilheiros chegaram a saltar para cima das nossas viaturas, (ali bloqueadas), a fim de tentarem apoderar-se de uma metralhadora ligeira que se encontrava instalada num dos jipões. Situações houve em que os guerrilheiros se agarraram aos canos das nossas armas na tentativa de se apoderarem delas, o que não conseguiram. A meu ver, esta inédita acção bélica, de tão grande envergadura e de características invulgares justificaria ser relatada publicamente para que pudesse figurar nos anais da nossa História, não como uma lenda que o não é, mas como um facto ocorrido no dia 15 de Julho de 1961, em Angola "".

sábado, 14 de março de 2009

A História e a Mitologia

A propósito dos livros que estão a ser publicados e distribuídos com o jornal Correio da Manhã e sobretudo a propósito da Operação Viriato, convém fazer algumas observações e desfazer alguns mitos, esclarecendo até alguns erros e omissões mais chocantes, para que não se exaltem demasiado os “heróis”, nem se amesquinhe a arraia miúda que fez efectivamente a Guerra e a sofreu – muitos, (demasiados, um já seria muito), lá ficaram!
O Mito de Nambuangongo
Um dos estádios da guerra subversiva é a ocupação de parte do território que se pretende “conquistar” e instalar aí o poder da guerrilha, instituindo um governo provisório, que poderá estar algures no estrangeiro. Por esse motivo e para que outros movimentos não se antecipassem, (o MPLA havia desencadeado os acontecimentos de Luanda, em Fevereiro), a UPA avançou de modo precipitado e com o maior terror possível, com os ataques a Fazendas e localidades no norte de Angola e Dembos, em Março (16) e deu um salto qualitativo com a criação do “Reino independente de Nambuangongo”.
Mas Nambuangongo como fortaleza ou lugar de resistência já não existia: quantas vezes terá sido bombardeada pela aviação portuguesa? Só a igreja estava em pé e tinha-se salvo uma imagem de N.S. de Fátima. Curioso, não é? Pois, quem respeitou a igreja e a imagem da virgem foram os pilotos que atacaram a vila.
Os “turras” não tinham capacidade para fazer tão grandes destruições, embora tenham destruído tudo o que puderam, mas, nas construções, procuravam sobretudo as canalizações para fazer os canhangulos.
Operação Viriato
Tendo por objectivo propagandístico ocupar Nambuagongo, ela não pode resumir-se a esse “pequeno? grande?” episódio. A resistência do IN manifestou-se e instalou-se na floresta, santuário e refúgio das populações e dos guerrilheiros que, em momentos por si escolhidos, acorriam aos caminhos e a locais propícios, para atacar os militares portugueses.
O BC 96 do T.Coronel Maçanita e a Compª de Cavalaria do Cap Abrantes chegaram a Nambuangongo e o BC 114 não chegou. Parabéns aos Heróis!
Que grande humilhação para o BC 114!!!
A “guerra de capoeira” do Estado Maior versus não Estado Maior, referida na publicação, infelizmente terá sido real e verdadeira, mas cuidado! O maior erro esteve na avaliação ou falta dela, no que se refere às capacidades e objectivos do IN. Os planificadores da operação aceitaram como boa a ideia de que o itinerário central, por Lifune, Quicabo, Balacende, Quissacala, Beira Baixa, Águas Belas, Onzo era o itinerário mais curto e directo, logo o mais fácil e rápido. Só que o IN pensou da mesma maneira e dirigiu para aí a sua principal resistência. Recorde-se o Combate de Quicabo e as suas circunstâncias e consequências: estavam ali combatentes da UPA de todos os comandos da região incluindo Nambuangongo, e Quipedro que fica a norte daquela vila. Ali morreram, sem dúvida os melhores e grande quantidade de combatentes da UPA, o que foi reconhecido pelo próprio IN. Veja-se neste blog o post sobre O Combate de Quicabo.
Também aqui, na referência ao Combate de Quicabo há uma expressão que não é correcta. Afirma-se na página 9 que, cito: “até que os militares da frente conseguiram fugir aos guerrilheiros…”. Isto não é verdade! Nenhum dos nossos militares fugiu a quenquer que fosse. Bem pelo contrário, todos se mantiveram firmes e audazes na luta corpo a corpo utilizando as baionetas das suas espingardas, algumas das quais ficaram dobradas e não perdemos nenhum material, (armamento ou munições), embora esse fosse um dos principais objectivos do IN - capturar material.
Respeitemos a memória dos que morreram lutando! Estes foram talvez "os únicos mortos em combate" durante toda a guerra de Angola. A luta corpo a corpo foi uma realidade, repito para que conste da história.
A propósito e sobre este mesmo assunto transcrevo um desabafo bem espontâneo e revoltado do Camarada VALHOR, radiotelegrafista do 2º Pelotão que seguia na frente e sofreu o choque do combate com toda a violência. Aqui ele corrige outro pormenor, embora de menor importância: quem acorreu à frente em auxílio do 2º Pel foram os homens do 3º Pel que íam em segundo lugar na coluna e não o 1º, como erradamente consta do Arquivo Militar.
Diz o VALHOR:
"No Anexo II, Pág. 8 e 9 "EMBOSCADA QUE ATRASOU O BATALHÃO DE CAÇADORES 114, refere: "..... o ataque durou entre 15 a 20 minutos. Até que os militares da frente conseguiram fugir aos guerrilheiros e os de trás puderam fazer fogo".Como assim???:O 2º.pelotão, não obstante ter sofrido 6 mortos e 14 feridos, manteve-se firme na frente lutando heroicamente corpo a corpo com o "IN" e protegendo os seus feridos e os corpos dos seus mortos, até à chegada do 3º. pelotão que vindo imediatamente da retaguarda ajudou a desbaratar os emboscados. O "IN" deixou no local centenas de mortos dos seus melhores guerrilheiros.Se o 2º. pelotão tivesse fugido!!! o "IN" ter-se-ia apoderado das armas dos n/mortos e feridos, o que não aconteceu. Este episódio está muito mal contado. Propositadamente ou não, não sei. Foi relatado certamente por quem não esteve lá! "
Voltando ao atraso do BC 114, é necessário dizer o seguinte:
O dia “D” para a operação não foi o mesmo para todas as unidades: enquanto o BC 96 tem o seu dia “D” a 10 de Junho no Úcua, (que talvez seja bom não recordar as correntes de Quissacala da Pedra Verde), o BC 114 só terá o seu dia “D” a 15 de Julho, a partir da Ponte do Lifune. Portanto mais de um mês depois.
Por outro lado o T.Coronel Maçanita refere que se meteu atrás das auto-metralhadoras do Pel CAV e ala para Nambuangongo!
Muito bem, o BC 114 chegou até à Beira Baixa sem qualquer reforço de Cavalaria ou auto metralhadoras. Apenas recebeu o reforço do Pel Cav comandado pelo Alferes Marinho Falcão e não pelo Manuel Monge, como erradamente consta da publicação, quando já estava nessa Fazenda, depois de ter sofrido emboscadas de grande resistência do IN.
Os “heróis” e os “bobos”
Os heróis fazem a história, os bobos contam-na e os historiadores interpretam-na.
Sem desmerecer dos feitos do BC 96 e seus heróis, não posso deixar de lembrar aqui um pequeno episódio bem esclarecedor: O Combate de Quicabo, em Quanda Maúa, a 5 quilómetros do Lifune, em 15 de Julho de 1961 foi a maior tragédia em que me vi envolvido em toda a minha vida!
Aí por Outubro de 1961, numa patrulha que fiz à retaguarda, vim encontrar um camarada, comandante do Pelotão que fazia a segurança da Ponte do Lifune, obra de arte recuperada em madeira e fundamental para garantir as comunicações rodoviárias, completamente acagaçado e aterrorizado, dirigindo-se-me nestes termos e a tremer: “ó C…..(Noca), eles estão muito longe?” Eles era o IN. Omito o nome do camarada por motivos óbvios.
Em finais de 1963, estando colocado na E.P.I., um dia entrei na Sala de Oficiais e deparei com quase todos os oficiais da unidade, dispostos em círculo e assistindo ao relato de uma guerra, (batalha), em Angola, produzido por um camarada que se desdobrava em gestos de ataque e defesa, descrevendo cenas inauditas de terror e morte, com luta corpo a corpo e catanas e baionetas e depois a bazooka e a MP Breda, etc, com um realismo tal que todos viviam aquele espectáculo de horrores. Eu próprio fiquei admirando aquela narrativa, até ao momento em que verifiquei que a estória que ele contava não era dele, mas antes a que a minha CC 115 tinha vivido no dia 15 de Julho, a 5 quilómetros da Ponte do rio Lifune. Este camarada era o mesmo que encontrara acagaçado na Ponte do Lifune em 1961.
Luta Corpo a Corpo
Os relatos produzidos na publicação sobre este assunto parece não condizerem com os do Alferes Miquelina que foi do BC 96, o qual afirma algures no seu blog que “isso de luta corpo a corpo, nunca existiu na Guerra de Angola!”, cito de memória.
Pelos vistos a guerra do Alferes Miquelina não foi a mesma que os elementos do BC 96 fizeram e relataram para o autor do livro. Vejam lá se se entendem! O Alferes Miquelina também era do 96.
Outra inverdade
Na página 16, cito: "O Batalhão 114 continuava acantonado na zona de Quissacala - onde seria reforçado por um pelotão de Cavalaria comandado pelo então alferes Manuel Monge."
Saberá o autor o significado da palavra "acantonado"? Certamente que não. Poderia haver acantonamento em Luanda, no Caxito, onde a CC 115 esteve acantonada 10 dias, até talvez em Nambuangongo, mas nunca em Quissacala. Por outro lado o Pelotão de Cavalaria só chegou ao BC 114 quando as Companhias 115 e 117 já estavam na Beira Baixa e era comandado pelo Alferes Marinho Falcão e não por Manuel Monge.
Se a heroicidade de uma unidade se medisse pelo número de baixas sofridas (mortos e feridos) ou pelo número de baixas causadas ao IN, aí provavelmente a história era diferente e os rankings do BC 96 e do BC 114 teriam uma interpretação diferente.
Mas isto não é uma compita de quem mais morre ou quem mais mata. Eu, por exemplo, nem sei se matei alguém, o que ainda assim, não traquiliza a minha consciência. A guerra é coisa suja!!!
Não quero terminar este post sem fazer referência ao serviço de saúde e apoio aos feridos em combate, no caso em apreço agravado pelo facto de o Furriel Enfermeiro ter sido um dos primeiros mortos. Houve necessidade de lançar mão de todos e todos foram "socorristas e maqueiros", procedendo à evacuação dos feridos para a retaguarda em condições verdadeiramente precárias.
Mas demos voz ao Camarada Valadas Horta que me fez chegar o seguinte trabalho.
...MVHorta disse:
"No comentário ao post "Combate de Quicabo", falei pouco do trabalho desenvolvido pelo médico da CC 115 Tenente Miliciano, Augusto Correia Simões.
Quem sou eu para falar da aflição ou quiçá da presença de espírito do Dr. Simões referente ao episódio de Quanda Maúa?
Sei, contudo, que o seu "braço direito", o enfermeiro João Maria Certo Loureiro, furriel miliciano, que ia sentado a meu lado num jeep, foi um dos primeiros mortos na emboscada. Foram disparados contra ele, dois tiros de canhangulo.
O Dr. Simões teve que enfrentar esta dura realidade com os maqueiros e "socorristas", pessoas cheias de boa vontade mas sem qualidades básicas que exigem necessariamente aprendizagem.
Na presença de 6 mortos e de 14 feridos, alguns dos quais com gravidade, as coisas, neste clima de guerra campal, não se tornaram nada fáceis de resolver, pois, o número de feridos era elevado para que fossem prestados adequadamente os primeiros socorros; havia que saber qual das vítimas deveria ser socorrida, em primeiro lugar e foi quase inevitável a existência de uma certa demora na prestação do auxílio imediato que se impunha.
Por razões óbvias e sem um tipo de "farmácia portátil", este tipo de assistência foi prestado sem qualquer equipamento ou material adequado. Além disso, é sempre imprescindível o conhecimento da técnica de aplicação de ligaduras, talas e torniquetes, massagens cardíacas e outras medidas de urgência ajustadas a cada caso, até os feridos serem devidamente assistidos pelo médico.
É confrangedor assistir ao estado de agitação e de aflição dos feridos nestas circunstâncias. Neste caso, os feridos clamam pelas mães, pelas namoradas e pelas pessoas que lhes são mais queridas, dado o seu estado de ansiedade. Perante uma situação desta natureza, os presentes condoem-se mais com o estado dos feridos do que propriamente com os mortos. Ocorre-me que, um dos feridos graves com hemorragias provenientes do corte de artérias, o sangue saía-lhe em jactos (hemoptise?) correspondentes às pulsações do coração e foi necessário evitar o "estado de choque", (Este nosso companheiro, ferido gravemente, com perfurações nas costas, provocadas por catanadas, inacreditavelmente, sobreviveu, felizmente).
O médico da "115", Dr. Correia Simões, teve muito trabalho nesse dia!"