Com o Comando do BC 114 nas Mabubas, a CC 115 no Úcua, a CC 116 em Quicabo, a CC 117 em Quissacala e uma CC em reforço do Bat. na Roça Bom Jesus e com alguns Pelotões das Companhias projectados para pontos importantes da ZA, tais como Quibaba II e Quissacala II (Pedra Verde), Mazumbo, Anapasso e Balacende, a missão continuou a ser a de garantir a liberdade de movimentos em toda a zona.
Aspecto da vila de Úcua, embora numa foto posterior à nossa estadia
O IN tinha os seus santuários na grande floresta das margens dos rios Lifune e Dange, a montante da barragem das Mabubas, a oeste e noroeste do QUESSO, (Pedra Verde), onde encontrava não só protecção contra a observação aérea, mas sobretudo porque aí existiam, dizia-se, minas de sal, produto de grande valia para a subsistência dos guerrilheiros e populações pelos mesmos controladas.
Cordilheira do Quesso (Pedra Verde e os mamelões)
As patrulhas que eram diariamente lançadas, encontravam, com frequência, vestígios da presença humana em trilhos da floresta ou acampamentos abandonados recentemente, embora o contacto com o IN fosse inexistente por fuga deste ao aproximar das patrulhas.
Aí reside uma das maiores vantagens da guerra subversiva: os guerrilheiros só atacam ou respondem quando querem - tem o poder da iniciativa e surpresa. Só com métodos iguais se pode combater uma guerrilha bem instalada.
As nossas tropas que tinham uma preparação muito deficiente para este tipo de guerra, foram aprendendo e, em breve começaram a lançar patrulhas apeadas de pequenos efectivos, (Pelotão), que se tornaram muito mais eficazes.
OPERAÇÃO "GRANADA"
Recolhidas informações através das patrulhas e verificando-se vários vestígios da presença humana, o Comando determinou a realização de uma grande acção a que chamou "Operação Granada" e em que empenhou três grupos de combate de nível companhia.
A CC 115, reforçada com o 1º Pelotão da CC 166 e o 4º Pelotão da CArt 119, nos dias 28,29 e 30 de Janeiro/62, ocupou a Roça Bom Jesus e bateu as zonas entre Úcua, Roça Ângela, Mazumbo e Roça Bom Jesus sem estabelecer contacto com o IN.
RECONHECIMENTO DA JANGADA DO DANGE
Em 04Fev62 o 1º Pel da CC 166, em reforço da CC 115, recebeu a missão de patrulhar a picada entre Quissacala II e a Jangada do Rio Dange a fim de verificar da operacionalidade daquela jangada, elemento importante para a ligação até Quicabo e Balacende, localidades importantes, a norte daqueles rios.
O Pelotão deslocou-se em viaturas até Quissacala II, na base da Pedra Verde, e a partir dali, seguiu a pé até ao rio Dange, onde verificou que a jangada não se encontrava no local previsto e estava inoperacional. A picada decorre ao longo de floresta cerrada e mal permite a formação em coluna por dois, encontrando-se também muitas árvores cortadas, (abatises), a atravessar a picada. Por não haver outro carreiro conhecido, o Pelotão regressou pelo mesmo itinerário. A determinado ponto do trajecto, guerrilheiros emboscados num ponto do caminho, após a passagem dos militares, atacaram a retaguarda da coluna e tentaram avançar sobre os militares aos gritos de UPA:UPA! e WASSA:WASSA!, tal como no combate de Quicabo.
O ataque teve início com um sinal de apito estridente e após uma primeira arremetida os guerrilheiros recuaram ao sinal de outro apito e passado pouco tempo avançaram novamente, só não conseguindo a abordagem devido à barreira de fogo dos militares e à acção de uma arma muito eficaz que foi a Bazooka e das granadas de mão.
Felizmente os nossos militares não sofreram baixas de vulto além de um soldado com costelas partidas devido a queda e regressaram sem mais sobressaltos.
No dia seguinte apresentaram-se no acampamento em Úcua dois nativos que informaram a existência de dois mortos e vários feridos entre os guerrilheiros, em resultado daquele ataque.
Este episódio, juntamente com as informações que vinham chegando ao Comando da actividade do IN em toda a ZA, foram motivo para dar início à preparação da grande operação em todo o sector - a....
"OPERAÇÃO PÉ LEVE"
Foi certamente a maior operação militar levada a efeito na zona dos Dembos, depois da Operação Viriato, quer devido à grande área abrangida, quer pelos efectivos e meios militares empenhados, que até foram muito maiores.
Decorreu entre 13 e 23 de Fevereiro de 1962 e nela tomaram parte 4 Companhias do BC 114, (CC 115, CC 116, CC 117 e CC 66 em reforço), 2 Companhias do BC 137, (CC 63 e CC 140), a CC 187 do BC 186, CC 269 (caçadores especiais), do BC 261, a 3ª CPARAS, 2 BArt, (146 e 147) e 1 Pelotão da CSap 123.
Esquadra de Canhão sem recuo - Lembramos aqui o saudoso Furriel Boieiro
Peça de artilharia de campanha
Interveio ainda a FA, em vários episódios, conforme era solicitado pelos respectivos comandos no teatro de operações, quer em observação e vigilância aérea, quer em intervenções de apoio de combate.
O Comando Avançado fixou-se em Quicabo e dispunha de um avião ligeiro, tipo DORNIER, que utilizava conforme o evoluir da operação, fazendo-se acompanhar do oficial observador de artilharia, que dirigia os fogos pedidos pelos diversos comandos de subunidade no terreno.
Dornier transportando o Comando aéreo do BC 114, levantando da pista de Quicabo
Dornier sobrevoando os montes Quiunenes
A área abragida pela operação foi todo o concelho do Dande, incidindo especialmente nas áreas de grande floresta tropical das margens dos rios Lifune e Dange, tendo como limites exteriores Caxila e Birila a Oeste, os montes Quiunenes (N'ZOA) a norte, a cordilheira do QUESSO, (Pedra Verde) a nascente e a estrada Sassa-Úcua a Sul, incluindo a Roça Bom Jesus e o Mazumbo a sul desta estrada.
Pedra Verde
N'ZOA, o mais alto dos Quiunenes
Os grandes objectivos da operação foram: localizar e contactar com populações controladas pelos guerrilheiros de modo a tentar recuperar alguma dessa população para o nosso lado e, sobretudo, provocar instabilidade e insegurança entre os guerrilheiros, de modo a conquistar a surpresa e iniciativa que, até ali, estava exclusivamente do lado dos mesmos guerrilheiros, localizando e destruindo os seus pontos de observação e vigia e, evidentemente abater os guerrilheiros que resistissem ou se opusessem à acção das NT.
É de toda a justiça salientar nesta operação, tal como já acontecera na Beira Baixa, em Agosto/Setembro de 1961, a acção de comando do Capitão Falcão, (Alípio Emílio Tomé Falcão), que, á frente dos militares da CC 115, revelou as suas altas qualidades de comando e direcção, levando-os, com entusiasmo e audácia, a enfrentar situações muito adversas e de grandes sacrifícios, que todos sempre aceitaram, seguindo o exemplo e entusiasmo do seu Comandante.