sábado, 4 de abril de 2009

A CC 115 no Úcua e Pedra Verde

Com a nova disposição das tropas a partir do princípio de Janeiro de 1962 a CC 115 foi ocupar a povoação de Úcua, onde permaneceu o Comando+ Pel Ac e dois pelotões de caçadores, indo um pelotão (o 3º) para a Roça Quibaba (Quibaba II) e outro, o pelotão do Alferes Sequeira em reforço da CC 115, para Quissacala da Pedra Verde (Quissacala II).

Não tenho grandes recordações de Úcua, senão que era a sede de uma grande fazenda produtora de sisal, café e extracção de madeira, além de ser um ponto estratégico importante para as comunicações terrestres com o norte e todo o interland de Angola, (Dembos e Quanza Norte).

A povoação propriamente dita não tinha interesse especial nem havia habitantes além da tropa porque todos haviam fugido para o mato.

Vegetação tropical com cachos de bananas como enquadramento

Agora são as palmeiras que servem de fundo

O tanque da Fazenda foi uma boa piscina de ocasião

O Noca e o Cabo Teófilo refrescam-se do calor tropical

A Fazenda do Úcua pertencia a uma companhia denominada "CUNHA & IRMÃO" e era constituída por uma grande extensão de sisal. Esta matéria prima, depois de sofrer uma primeira transformação no "engenho" existente na Fazenda, seguia para exportação, nomeadamente para a Metrópole, onde, na Cordoaria Nacional, actual Museu da Cordoaria, era transformada em cordâme para amarração dos navios nacionais e para exportação.

Plantas de sisal em plena produção

Um aspecto em que sobressai a área de floresta

Além do sisal compunha ainda esta grande Fazenda enorme extensão de floresta, santuário de produção de café que se estendia até às encostas de floresta virgem do QUESSO, (cordilheira constituída por cinco elevações em linha, aproximadamente sul-norte, e que numa das extremidades tinha a Pedra Boa e na outra a Pedra Verde ou QUESSO propriamente dito, ficando no meio três mamelões muito característicos pela sua configuração arredondada e disposição simétrica, sugerindo dois deles, os seios de uma mulher deitada, a que não faltavam os respectivos mamilos constituídos por tufos salientes de árvores, na crista topográfica).

Os ditos mamelões

O Valadas Horta, sempre na crista da onda, deixa-se fotografar em Quibaba, com os mamelões em fundo

Outra pose do Valadas Horta, agora acompanhado e carregado de ananases, tendo em fundo a extremidade sul da cordilheira do QUESSO, a Pedra Boa. Vê-se o desaterro cavado na serra por onde se circula na estrada para Quitexe.

A poente desta cordilheira localizava-se a Roça Quibaba, muito rica em café, madeiras exóticas tropicais e toda a espécie de frutos silvestres desde bananas a ananases em produção espontânea por entre a floresta. Era igualmente propriedade da tal companhia "CUNHA & IRMÃO" e para ali foi destacado o 3º Pelotão da CC 115.

Uma foto do grupo de recolha de ananases com o barracão/caserna de Quibaba II em fundo


Um exemplar de bananeira selvagem, em ambiente natural em Quibaba II


Num dia chuvoso do princípio de Janeiro, já não tenho referência de datas certas porque a minha pequena agenda terminou, o 3º Pelotão deslocou-se de Úcua para Quibaba II, numa coluna de cinco ou seis viaturas ligeiras de transporte de pessoal guarnecidas com atrelados para transporte dos equipamentos e géneros alimentícios para uma semana, no mínimo. Ao percorrer um vale, por estrada alcatroada com declive descendente, mas pouco acentuado, numa curva aberta e com velocidade reduzida, um jepão "DODGE", 3/4 TON, entrou em derrapagem e virou-se, caindo para o lado direito, valendo o atrelado que impediu que ficasse com as rodas para cima, permitindo assim que o pessoal transportado saltasse para a berma sem perigo de ser esmagado pelo próprio jepão. Reposta a viatura na posição normal, continuou a viagem que chegou ao destino sem mais novidade.

A estadia em Quibaba II foi relativamente calma, com muitos recursos naturais como se pode ver pelas fotos e o ambiente tropical em época de chuvas, bastante agradável.

Para quebrar a rotina, verificou-se uma ocorrência deveras singular: numa noite já depois do recolher, uma sentinela deu o alerta porque o barracão/caserna estava a ser "atacado".

Analisada a situação foi necessário tomar medidas adequadas para conter uma invasão de grandes formigas que, em formação ordenada e em linha que circundava quase todo o barracão, avançavam para este, sabe-se lá com que objectivo, mas não seria bom certamente.

Não havendo meio de conter tão grande invasão, alguém se lembrou e o comando sancionou que se fizesse um grande sulco cirular entre o barracão e a formação de ataque inimiga e nele se lançasse gazolina a que se deitaria fogo logo que atingida pelo inimigo, o que aconteceu, mas sem todo o cuidado porque o soldado Serra foi atingido pelas chamas ao deitar gazolina em reforço das chamas que se estavam a extinguir. Houve necessidade de o atabafar com cobertores para evitar que sofresse queimaduras graves.

O Mito da Pedra Verde

Quissacala da Pedra Verde era um povoado muito grande a avaliar pelo número de casas indígenas que se encontraram, algumas apresentando já algum conforto, denotando que os seus ocupantes eram pessoas com algum poder económico e socialmente importantes. Alguns dos seus habitantes já eram mesmo detentores de automóvel próprio, resultado do bom êxito na produção de café, que surge quase espontaneamente na região e valor de mercado deste produto.
Esta realidade social não era do interesse de "CUNHA & IRMÃO" com quem existia um litígio de direito de passagem.
Estávamos ali em presença de um dos casos mais típicos de colonialismo: os habitantes locais não estavam dispostos a dar mão de obra para a safra do café e outros trabalhos do fazendeiro e este "importava mão de obra" de outras regiões de Angola, nomeadamente do planalto do Bié, mais precisamente do Bailundo.
Além disso os habitantes de Quissacala para chegarem à estrada alcatroada tinham de atravessar uma parte da Roça Quibaba. Enquanto o faziam a pé, o colono não se importou, mas quando surgiram os automóveis as coisas alteraram-se: para passar na picada que atravessava a roça era preciso autorização do "patrão", que colocou duas grandes colunas de concreto ligadas por grossas correntes de ferro e presas por forte cadeado a atravessar a picada, sendo impossível contornar esse obstáculo devido à presença de gigantescas árvores típicas da região.
Por este motivo especialmente, os guerrilheiros mostravam agora maior resistência ao avanço das tropas nesta zona, (o BC 96 ao tentar passar no sítio da correntes, sofreu aí o seu maior desaire, em 10/11 de Junho de 1961, tendo sofrido baixas e perdido algum material para o IN).

Daqui terá nascido outro mito: O Mito da Pedra Verde inacessível e inexpugnável!

Este é o QUESSO (PEDRA VERDE).
Da missão da CC 115, no Úcua, fazia parte garantir a segurança das colunas em trânsito para norte e nordeste e ainda reabastecer algumas unidades do interland, nomeadamente a sedeada na Roça Bom Jesus, onde me recordo de ter ido encontrar, um dia em que comandei uma dessas patrulhas de reabastecimento, os militares todos com o cabelo cortado à escovinha, por opção pessoal, para se moralizarem e reforçarem o espírito de corpo.

Aqui um aspecto da picada para a Roça Bom Jesus, num dia de época de chuvas

Na mesma picada, outro aspecto das "interessantes" condições de trânsito

11 comentários:

Anónimo disse...

Amigo e companheiro Velhinho da CC 115, com todo o devido respeito se eu não estiver enganado onde eu leio : ESTE É o QUESSO (PEDRA VERDE), da-me a ideia que este morro (Canacassala que são 3, é o Pai , Mãe e filho) fica na picada entre Balacende e a Fazenda Maria Fernanda, pois eu estive sediado em Quicabo (1966/68). Vendo o seu tempo, eu sou maçarico, pertenci ao Bat. Cav. 1883 que tem um site com o mesmo nome. Para eu ficar devidamente esclarecido o meu mail é: as1617779@sapo.pt.

Anónimo disse...

saEstive no Bom Jesus 17 meses , passados 40 anos tenho bem presente na memória a picada para o Ucua , o aquartelamento, o poço onde iamos buscar água , enfim o que ali passámos , mas também as churrascadas que comíamos no Andrade quando íamos ao Caxito . Um abraço a todos os que por ali passaram. Fui furriel milº na cart 1467 - bart 1869 estive no Bom Jesus em 1965/66 o meu email anibal_4546@hotmail.com

dias disse...

amigos tambem eu estive no bom jesus (ucua) em 73/75 2 cart bart 6222/73, tenho saudades desse tempo, dos bifes que comi no chico do ucua, e toda a envolvente do morro do bom jesus ,não esquecendo a celebre via ápia, aonde ainda fiz algumas operações,enfim tempos de juventude, que nunca mais voltam. Moro em coimbra o meu mail antoniomouradias@hotmail.com,saudações de guerra

NOCA disse...

Olá Críssimo anónimo do Bat Cav 1883!
Penso que haverá alguma confusão porque o morro perto de Canacassala chamava-se QUIBABA, que, de fato, era o mesmo nome de uma Fazenda perto do QUESSO, cordilheira da Padra Verde até Pedra Boa. Eu estive nos dois sítios: Na Beira Baixa-Canacassala, onde subi ao Monte QUIBABA e junto do Quesso, onde comandei um destacamento de Pelotão de Infantaria localizado na Roça QUIBABA, propriedade da firma "CUNHA & IRMÂO".
Espero ter ajudado a esclarecer, senão aceito a réplica.
Um abraço de camaradagem, muito forte.
NOCA

roctiv disse...

Olá juventude d`outrora. Estive no Bom Jesus do Úcua, Cart 3374,que se instalou em 1971 à sombra do Morro do mesmo nome!Felicidades e longa vida. Victor Correia, ex fur. milº. NOTA: Penso q os montes de Cassacala eram conhecidos no n/ tempo por "mamas da sofia" Loren, pois claro!

Tala Mubondo Úcua disse...

Ola amigo quero aqui agradecer por ter publicado uma boa parte da guerra no úcua,com os guerrilheiros dos do MPLA. Eu sou filho de um antigo guerrilheiro do MPLA segundo que um dia o meu pai me contou a pois o ao ataque as cadeias do São Paulo em Luanda,a população do Úcua refugiaram-se nas mata ao arredor do Úcua na zona da Banza. O primeiro ataque dos guerrilheiros do MPLA ao comerciante portugueses no Úcua foi a 11 de Abril de 1962 um anos a pois estarem na mata partir dai foi como mexer na colmeia de abelhas.os batalhões de infantaria motoriza montar as sua unidade de avanço no Úcua e na zona da Mussega aonde construirão uma de aviação para facilitar o reabastecimento das tropas. Setembro de 63 foi o mês mas sangrento em que aviação de tipo hércules c130 bombardeava dia e noite obrigando a povo a mudar de local diariamente. Com a a chegada dos primeiro guerrilheiro vindo do Congo-Brazavile as coisa la na mata foi melhorando.formou-se a 1ª região militar dos guerrilheiros com varias zonas militares como zona A que atendia o Úcua a o Quesso,zona B toda região do Nambuangongo aonde entrava o material militar, a zona C que atendia a zona do Píri ate Quibaxi,isto durante 14 anos de combate. Segundo o meu pai quando farão a mata a pena tinha 8 anos de idade um menino inteligente vindo de Luanda em Março de 1961 recuando com os pias do bairro do Sambizanga aonde vivia. A missão dele em conjunto dos seus companheiros era ire ate a lixeira da mussenga a busca de informações sobre os militares portugueses.25 de Abril de 1974 foi a salvação dos guerrilheiros do MPLA na zona do Úcua.Para os militares portugueses que durante 14 anos estiveram estacionados no Úcua até Novembro de 1975 se virem em Angola decidirem visitarem o Úcua não poderão aguentar de tristeza. Úcua hoje está um escombros a guerra fria pois independência de Angola 75 e pois o processo de Paz assinado em Bisece em portugal em 1991 atingiu friamente o Úcua. Quanto a Pedra Verde; esta localizada entre a a roça de QUIBABA e a povoação do QUESSO. saindo do Úcua. alguns militares ainda devem se lembrarem do nome como: Limpião, Ambatufa, Quiluanje,Lulu e tantos outros que não memoria. Sou um jovem nascido no Ùcua no ano de 1974.(Gege-Kanjila).

NOCA disse...

Olá Caríssimos Amigos e Camaradas, sobretudo o último comentador, filho de guerrilheiro do MPLA, nascido no Úcua em 1974, ano da revolução de Abril.
Congratulo-me por ver os vossos comentários no meu blog.
Infelizmente, como todos sabem naquela altura não havia na zona possibilidade de convívio com a população civil, por isso não tenho memória de fatos ocorridos com a mesma, alem dos recontros de patrulhas com os guerrilheiros.
Penso que o nome do meu comentador é "Gege-Kanjila".
Aqui lhe deixo um grande abraço.
SE quizer entrar em contato comigo aqui fica o e-mail: ancampos@netcabo.pt

Anónimo disse...

Pertençi á 2ª cart/73 estive no bom jesus, quibaxe, cacuaco..carlos gaspar ´
porfiriogaspar@gmail.com

Augusto disse...

Também estive no BOM JESUS e Maria Paula,na C.Caç.2675;companhia Açoreana,1970-1971,fomos rendidos pela Cart.3374.Fur Milic Augusto





Unknown disse...

Conheco bem esta roca, tenho fotos recentes. Paulo fernandes. Meu mail paaf@portugalmail.com

GALO de ARTILHARIA disse...

UCUA
1965BATALHAO DE ARTILHARIA 1869/65 conheço toda esta regiao por boas e por mas situaçoes ucua era o nosso quartel da ccs depoes mussenha-bom jesus-piri nessa dita piscina era um tanque e muitas vezes fomos aos ananezes salvo erro ficava acima da pedra boa antes de chegar a roça do vale do loma uma companhia do meu batalhao sediada no piri sofre um ataque numa curva contra curva antes piri em 6-12-66 onde sofremos oito baixas
no quartel do ucua sofremos o nosso primeiro ataque onde sofremos a primeira baixa
fomos muitas vezes a roça do acacio cunha fazer proteçao na campanha do cafe e quando se estava perto da pedra verde ate sentiamos com um nervozinho nao pelo medo mas sim pelo respeito que lugar metia um abraço camarada