quinta-feira, 3 de abril de 2008

Costa Gomes e a Guerra de África III

No mês de Abril de 1961 as notícias que vinham das "Províncias Ultramarinas", nomeadamente de Angola, eram muito preocupantes: Já se tinham verificado os ataques à prisão e esquadra de polícia em Luanda, já tinham ocorrido os actos de terror nas fazendas do norte de Angola, tinham-se verificado chacinas nos muceques de Luanda, as relações de convivência social entre brancos e negros tinham-se deteriorado até ao limite.
Em Lisboa o governo central não respondia, parecendo não acreditar no que estava a acontecer.
A opinião dos cidadãos portugueses, obscurecida pela censura e domesticada pelo regime autocrático apoiado na propaganda, orientada pela manutenção do "Império" a todo o custo, acabava por apoiar qualquer decisão que viesse a ser tomada, fosse ela qual fosse: a intervenção política dos cidadãos era nula, (duas gerações tinham sido amordaçadas desde os bancos da escola e o país pensava monoliticamente, em torno do seu caudilho, Salazar).
É neste cenário que se insere o movimento de altas patentes militares, liderado pelo Ministro da Defesa, General Botelho Moniz, em que ressaltam figuras como o Secretário de Estado do Exército, Costa Gomes, o Comandante da GNR, Câmara Pina e o homem da Força Aérea, Kaulza de Arriaga, que viria a ser o elemento traidor que fez ruir o plano acordado. Hoje sabemos que o objectivo da "Abrilada", assim ficou conhecida a ingénua tentativa de golpe de estado, era destituir Salazar a quem seria dada uma reforma sossegada e calma, e assumir uma posição de força em Angola para repôr a paz social e dar início a diligências nos areópagos internacionais e nos sítios adequados à criação de condições para implementar progressivamente as autonomias das "Províncias Ultramarinas".
Abortada a intentona, Salazar apoiado na sua clique, assume o ministério da defesa, apropria-se de parte dos ideais dos conjurados e surge como o salvador, (os portugueses nunca dispensam um bom Sebastião), mobilizando os portugueses para a guerra, em defesa do "solo pátrio", (o império), mas esquecendo a segunda parte do objectivo dos conjurados, (medidas conducentes à autonomia progressiva e real das "Províncias Ultramarinas").
Costa Gomes foi destituido e enviado para Beja, para o R.I. 3, uma modesta unidade de recrutamento de Infantaria.

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