quarta-feira, 10 de setembro de 2008

CC 115 - Operação Viriato (continuação)


Voltemos de novo à guerra porque ela continuou em 1961 e neste mes de Setembro , com grande intensidade. As Companhias 116 e 117, acampadas em Quipetêlo e Quissacala, respectivamente, tinham sido bastante massacradas nos últimos tempos e a CC 115, em Balacende, procedera a diversas operações de exploração e limpeza da região, nomeadamente em Quixona e depois em Magúia, onde a colaboração dos T-6, sob o comando de Tenente Luzia da Silva, fora de grande préstimo na protecção e até distracção da tropa de infantaria, devido às piroetas que faziam sobre a coluna em progressão.
O objectivo era Nambuangongo e a Companhia mais avançada estava em Quipetelo, (CC 116).
Tornava-se necessário chegar a Beira Baixa. Para tanto a CC 115 foi incumbida de progredir, a pé, por um itinerário alternativo e assim em 8 de Setembro, ao alvorecer, sai de Quipetelo, por um caminho de pé posto, através da floresta, indicado por um guia que afirmava conhecer o caminho até Canacassala e Beira Baixa.
A caminho da Beira Baixa. - 08SET61

Atravessando uma linha de água, vendo-se à direita o guia negro, David e à esquerda uma equipa de M.L. Dreyse, com o apontador transportando a metralhadora e o municiador transportando o cano de reserva e os carregadores de munições.


Outro plano da coluna atravessando a linha de água e infiltrando-se na floresta


A mais valia foi apenas o conhecimento profundo da floresta tropical africana, naquilo que ela tem de mais imponente. Ficou-nos, a todos de certo, gravada aquela imagem da plantação de café em flor, num gigantesco vale coberto pelas copas altíssimas e cerradas, sustentadas por troncos de "sekóias", quiçá, com mais de cinquenta metros de altura. Era uma gigantesca estufa natural, jamais vista, mesmo em fotografias do "National Geographic".


Os caféeiros floridos que se vêem distintamente brancos tem cerca de 3 metros de altura, a palmeira que se vê à direita terá seguramente mais de 10 metros e as copas das “sekóias” que não foi possível captar, a que altura estarão?

O Médico Dr Correia Simões, de peito aberto aos canhangulos inimigos, progride pelo carreiro em plena zona de savana com capim alto.

Um pormenor do trajeto na direcção de Quifula e Canacassala.
Depois de percorrida uma grande distância através da floresta, por meio de plantações de café e mata não tratada, a vereda extinguiu-se e o guia perdeu o sentido de orientação, dizendo que não sabia por onde progredir, pelo que a coluna fez meia volta e regressou a Quipetelo, sem mérito e sem glória.

Já de regresso, atravessando a mesma linha de água, agora em semtido contrário. Começa a ver-se o desalento dos militares.

Já perto do acampamento, é notório o cansaço, com alguma desilusão estampada nos rostos: fora um dia de sacrifício pesado para afinal regressar ao ponto de partida, sem atingir o objectivo.

2 comentários:

MVHorta disse...

NOCA desvenda factos reais totalmente desconhecidos de muito boa gente e inclui uma extraordinária colecção de fotografias, na maior parte inéditas.
É com alguma frequência que vejo os excepcionais programas da "National Geographic". Muitas mas mesmo muitas vezes encontro-me a assitir a programas desta estação televisiva e "dou comigo" embrenhado nas exuberantes matas cerradas dos arredores de Quipetelo, onde o perigo espreitava a cada passo.
Sim, Caro NOCA:
Foi ao alvorejar do dia 08Set61 que saímos de Quipetelo, a fim de progredirmos a pé em direcção a Canassacala e Fazenda Beira Baixa.
Quanto ao itinerário e à gigantesca "estufa natural", direi que aquele "sumido carreiro de pé posto" conduziu-nos a uma floresta compacta, onde cada árvore se entrelaçava nas ramagens de outra árvores do mesmo género e com um verde escuro medonho onde a luz não entrava mas propício ao desenvolvimento naquela obscuridade de trepadeiras, fetos e musgos.
Logo que a tal vereda se extinguiu, uma das Secções do Pelotão que progredia à frente da "coluna por um", começou a abrir caminho "à catanada" até que o CMDT da Companhia achou que era inglório prosseguir por ali. Ao retrocedermos, pelo mesmo troço desbravado de caminho oculto por onde tínhamos passado momentos antes, afigurava-se-nos que as trepadeiras antes cortadas já tinham crescido durante o curto espaço de tempo!...
Foi assim! "... e em perigos e guerras esforçados, mais do que prometia a força humana...!"

Anónimo disse...

Caro amigo.
Já tinha visto esta fotografia num livro editado na África do Sul e hoje confirmei.
Trata-se do livro 'PORTUGAL'S WAR IN ANGOLA 1961 -1974', de Vs Van Der Waals.
Magnifica fotografia.
O livro tb é muito bom.
Cumprimentos,
C. Serra