domingo, 22 de março de 2009

Este admirável mundo da blogosfera!

Um blog não é um livro de memórias nem um caderno de apontamentos, mas aquilo que o seu autor quiser.
É um sítio imaginário onde se podem encontrar as mais variadas e inesperadas situações.
Na blogosfera tudo é possível desde relatos históricos a encontros de amigos antigos ou recentes.
Sendo este um blog para ligar os elementos da CC 115, hoje tivémos uma grande e agradável surpresa: após um comentário ao post "CC 115 em Quicabo a Guerra continua", a que respondi, recebi hoje este e-mail que, com a devida vénia e autorização, aqui publico para conhecimento dos que nos visitam, em especial dos elementos da CC 115.

"Exm.º Senhor António Nobre de Campos (NOCA?)

A honra é toda minha em conhecer Homens que defenderam uma Pátria, com sacrifícios extremos, longe daqueles que lhes eram mais queridos. E, acredite, tenho poucas dúvidas que essa Pátria pouco ou nada tem feito (nem fará!) para merecer o valor de tais Homens…
A relação agora descoberta e que me liga indirectamente à CC 115 é com o Capitão Falcão, então Comandante da Companhia. Era meu Tio.
Infelizmente, enquanto ele era vivo, nunca nos aproximámos o suficiente para partilhar as experiências de uma forma mais profunda. Agora, ao olhar para as fotografias que estão no vosso blog, sou confrontado com fortes sensações e emoções de orgulho, saudade e tristeza…enfim!
No âmbito das minhas actuais funções de professor no Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM), ao preparar uma investigação sobre as Grandes Comandantes e Batalhas do Exército Português, e que irão ser publicadas periodicamente no Jornal do Exército, deparei-me com o vosso blog. Foi uma excelente surpresa.
Como compreenderá, gostaria bastante de saber mais sobre os episódios que aconteceram na CC 115. Se de alguma forma estiverem a pensar em reunir numa publicação as vossas experiências, teria muito gosto em adquirir um exemplar. De qualquer forma, irei ler com toda a atenção o vosso blog.
Caso passe pelo IESM terei todo o gosto em convidá-lo para almoçar e conhecê-lo melhor.
Reitero a elevada consideração,
Luis Carlos Falcão Escorrega
Major de Infantaria"


Nota:- O Senhor Major Falcão é Professor de Estratégia no IESM

Outra surpresa agradável e que, de certo modo, vem de encontro aos desejos manifestados pelo Senhor Major Falcão é o trabalho que o Amigo e Camarada VALHOR me enviou e aqui publico com o maior gosto: é um relato na primeira pessoa de quem viveu esses acontecimentos trágicos de 15 de Julho de 1961! Este não é um "bobo", mas um herói, porque fez e viveu a História!

""VALHOR disse:
Volto à emboscada de Quanda Maúa - Quicabo
Este histórico acontecimento merece e justifica uma melhor atenção e apreciação por parte dos historiadores. A história deverá fornecer, com verdade, a compreensão do presente (enquanto houver presente!) através da análise do passado, a fim de evitar que "factores invisíveis" ritmem e determinem o processo histórico futuro.
No meu blog ...valhor..."Episódios Avulsos" e outros, falei muito sucintamente acerca desse feroz combate.
O NOCA neste seu blog fala constantemente desse acontecimento. Porque será?
Certamente que não o faz por fazer! Juntando todas as peças do "puzzle" talvez deixe adivinhar o motivo. Não tenho quaisquer dúvidas de que este acontecimento mereceria outra atenção! Peço ao leitor, que pare de ler durante uns breves segundos, pense, e se interrogue: - "Se se visse envolvido num destes cenários de luta corpo a corpo, fazendo parte integrante de uma das facções contendoras, ambas armadas, qual seria a sua reacção?". Dá que pensar, não dá? Aconteceu aos homens da CC 115 que, de um momento para o outro se viram confrontados com uma situação que se afigurava surreal antes do confronto.
O "IN" preparou e envolveu nesta emboscada cerca de cinco centenas de guerrilheiros, enérgicos e exercitados para a guerra de guerrilha. O seu chefe, colocou os seus combatentes junto "à picada" a coberto da vegetação, e, à passagem da coluna de viaturas pelo local, ao sinal de "apito" lançou, de repente, vagas sucessivas de homens, num ataque inimaginável sobre os nossos militares que seguiam nas primeiras viaturas. Antes dos nossos militares terem esboçado qualquer tipo de defesa ou eventualmente de contra-ataque, já os guerrilheiros se encontravam agarrados às nossas viaturas. Esta operação realizada de surpresa pelos guerrilheiros, (ocultos na mata), sobre uma força em movimento muito lento devido às características da picada, poderia ter tido um resultado catastrófico para as nossas forças, não fora a coragem, a abnegação, a bravura e a valentia que é tida como uma qualidade mental que reconhece o medo, mas que permite que as pessoas enfrentem o perigo com firmeza, apanágio dos soldados portugueses que reagiram energicamente ao ímpeto dos guerrilheiros. Foi, sem dúvida, um pandemónio o que ali aconteceu, um acto heróico, aquela peleja de "luta corpo a corpo" que poderia ter tido consequências muito sérias para as cores nacionais. Refira-se que alguns guerrilheiros chegaram a saltar para cima das nossas viaturas, (ali bloqueadas), a fim de tentarem apoderar-se de uma metralhadora ligeira que se encontrava instalada num dos jipões. Situações houve em que os guerrilheiros se agarraram aos canos das nossas armas na tentativa de se apoderarem delas, o que não conseguiram. A meu ver, esta inédita acção bélica, de tão grande envergadura e de características invulgares justificaria ser relatada publicamente para que pudesse figurar nos anais da nossa História, não como uma lenda que o não é, mas como um facto ocorrido no dia 15 de Julho de 1961, em Angola "".

1 comentário:

MVHorta disse...

Para mim, os grandes HERÓIS e HEROÍNAS da Guerra Colonial (1961/74, foram inequivocamente:
(1)- Todos aqueles que deram o bem mais precioso que possuíam - A VIDA;
(2)- Todas as mães que tiveram seus filhos na guerra. As suas lágrimas jamais poderão ser esquecidas. (Por razões emocionais, acrescentarei: Após a minha ida para Angola, a minha mãe adoeceu gravemente. As notícias que lhe chegavam de lá, através dos Órgãos de Comunicação Social eram as piores. A doença, entretanto contraída, agravara-se, ao ponto de ter falecido cerca de 3 anos mais tarde).
(3)- E, ainda, todos aqueles que foram gravemente feridos e/ou acometidos de doenças pós-traumáticas porque os fantasmas dessa guerra (que não desejaram), persegue-os como uma sombra, e não os deixa descansar.