quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Feliz Natal para todos

Façam o favor de ser Felizes!

Os Oficiais Milicianos da CC 115

Gualter Leite de Freitas -Cmdt do 1º Pel

Lima Barreto -Cmdt do 2º Pel

Noca -Cmdt do 3º Pel


Natal de 1961 em Quicabo

Não me recordo de que tenha havido qualquer diferença para os restantes dias do mês de Dezembro daquele malfadado ano de 1961. A mesma rotina: patrulhas, vigilância, atênção.
A minha agenda refere apenas: "nem recebi correio!"
Em anos subsequentes começaram a aparecer algumas manifestações ou comemorações diferentes e, antecipadamente, faziam-se as gravações das célebres mensagens de natal para as famílias que, depois, seriam transmitidas no rádio e na televisão.
A propósito não posso deixar de transcrever um post do JUMENTO, a quem peço autorização e rendo as minhas homenagens pela clareza e justeza de opinião nele expressa:
"Umas das recordações da quadra natalícia que me ficaram da infância foram as horas intermináveis da RTP transmitindo as mensagens de Natal ds soldados portugueses que combatiam em África. Era curtas, cada soldado dizia o nome e o posto, desejava um bom Natal aos familiares e terminava invariavelmente com um “adeus e até ao meu regresso”.
Não sei o que me prendia ao televisor mas a inexistência de alternativas `RTP, a não ser a TVE, levou a que pelos meus olhos tivessem passado muitoss milhares de soldados portugueses, o “adeus, até ao meu regresso” ficou-me gravado para sempre na memória.
Recordo este facto para lembrar que muitos deles não regressaram, foram mandados para uma guerra pelo Estado português, morreram e por lá ficaram abandonados, alguns em cemitérios, muito nem isso, esquecidos por todos menos pelos seus familiares, muitos dos quais os terão visto pela última vez nestes programas da RTP.
Os portugueses foram-se esquecendo, uns porque o tema deixou de render, outros porque sentem vergonha deste lado da história, uns e outros esqueceram-nos, abandonado-os definitivamente. Os seus restos mortais ficaram por lá, esquecidos e abandonados. A maioria são soldados, gente pobre que não merece grande atenção dos poderes, morreram na guerra errada.
A ideia de um soldado morto não regressar à sua terra não é um exclusivo da guerra colonial, a Europa está pejada de cemitérios de soldados que morreram nas duas guerras mundiais. Mas depois da Segunda Grande Guerra o abandono dos militares mortos deixou de ser regra e é uma vergonha para Portugal que os seus soldados tenham sido esquecidos. Uma vergonha para Portugal e uma injustiça para as suas famílias, a quem tiraram os filhos sem nunca os terem devolvido.
Ser contra a guerra colonial não implica ter vergonha da nossa história e, muito menos, esquecer as maiores vítimas dessa guerra, é uma vergonha para o país tê-las esquecido. Recordo-os neste dia, que muitos dizem celebrar a família, porque são muitos os portugueses que também os recordam em silêncio, como se tivessem que ter vergonha por os seus filhos terem morrido em nome de um país com medo da sua história.
É tempo de Portugal honrar os seus soldados e trazer os seus soldados de volta a casa.
PS: Felizmente na minha família ninguém morreu em África, a minha geração escapou à guerra, da anterior tive um tio fuzileiro na Guiné e um outro numa companhia de caçadores nos primeiros tempos da guerra em Angola. Recuando mais um pouco, tive um avô na guerra civil de Espanha e um bisavô na guerra que a Espanha travou com os EUA em Cuba, todos regressaram vivos."

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Remodelação do Dispositivo

Após as duas grandes operações "BB" e "VASSOURA", em que as subunidades do BC 114 reforçadas com mais duas companhias de caçadores e subunidades de artilharia e cavalaria ligeira, estiveram fortemente empenhadas, a zona, desde Mabubas até Beira Baixa, foi considerada totalmente controlada mas não "limpa" e o Comando determinou uma nova disposição das forças na sua zona de intervenção e influência.
Assim, em 24 de Outubro a CC 117 rendeu a CC 115 na Fazenda Beira Baixa, a CC 116 ocupou Quissacala-Balacende e a CC 115 instalou-se em Quicabo, com um Pelotão na Ponte do Lifune, em Anapasso.
Neste dispositivo quadricular as missões não divergiram do que antes vinha acontecendo: patrulhas de reconhecimento e procura de informação sobre o inimigo e escoltas a colunas civis e militares de reabastecimento em toda a zona de acção.
Mais concretamente, em Quicabo, sede do Comando do Bat, melhoraram-se alguns apoios logísticos com a reparação do Posto de Socorros e casa do Chefe do Posto, tornando-os habitáveis, e, sobretudo com a construção de uma infra estrutura importante como era a pista para aterragem de aviões ligeiros.

Um dos primeiros aviões a aterrar em Quicabo, trazendo o tão desejado correio.
Depois foi o NorthAtlas a lançar os fardamentos camuflados para todo o pessoal do Batalhão sobre a pista onde não podia aterrar.
Entretanto eram tambem recebidas as G-3 para substituirem as velhinhas e preciosas Mauser.
A minha agenda refere vários patrulhamentos:
  1. Reabastecimento de vários géneros a Quissacala em 28 de Outubro;
  2. Patrulha apeada a Cachila e arredores, no dia 29;
  3. Nova patrulha a Cachila em 3 de Novembro;
  4. Em 5 patrulha a Anapasso, Ponte do Lifune;
  5. Em 9 escolta de uma grande coluna de viaturas civis até Quissacala;
  6. Em 12 o 3º Pelotão ocupou Balacende, onde permaneceu até dia 20, regressando de novo a Quicabo. Durante esta estadia em Balacende houve umas cenas com uma manada de pacaças, na sequência de uma operação na região de Mimbota. Apanhámos um veado.
  7. Foram dias muito chuvosos, estes, passados em Balacende;
  8. Em 20 regresso a Quicabo e em 21 "passeio" a Mabubas e Caxito: uma patrulha para esta zona era considerada passeio.
Nesta altura o "Forte Quicabo" era um sítio onde se podia estar à vontade e fazer uma vida quase normal. De tal modo que alguns oficiais mandaram vir as esposas, tendo os casados e acompanhados ocupado o Posto de Socorros e Casa do Chefe do Posto. Eram quatro senhoras muito distintas, qual delas a mais elegante, cuja presença muito animou todo o pessoal que desde há vários meses não via população civil, com todas as consequências daí resultantes, como facilmente se depreenderá.
O mês de Dezembro já começara e aproximava-se o Natal com toda a sua carga emocional e afectiva.
Aqui ficam duas fotos da época:

Alferes Barreto, Tenente ACP, Capitão Falcão e Alferes Noca

Em pé: Soldados David, Tanquerêdo, Novo e Marinho

Em 1º plano: Cabo Bolrão, Cabo Farias, solds Arlindo e Magalhães

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Ainda as Transmissões

O Camarada Valadas Horta publicou no seu blog um trabalho sobre Transmissões que merece ser conhecido: http://valhor.blogspot.com/

Seguem-se algumas fotos de utilização de aparelhos emissores/receptores em cenas reais da campanha de Angola.

Utilização do ANGR-C9 com alimentador manual de energia.

Outro aspecto de patrulha apeada em que o material é transportado pelo próprio operador.

Subindo o Quibaba. A Boa disposição parece não abandonar o radiotelegrafista, apesar do peso do material transportado.


Nestas últimas o 1º Cabo Radiotelegrafista Valadas Horta, (hoje Sub Intendente da PSP), opera os equipamentos que lhe estavam adstritos. Na última identifica-se bem a localização: acampamento no terreiro de seca do café da Beira Baixa, vendo-se ao fundo a encosta do monte Quibaba.

Não faço comentários a estas fotos. O Valadas Horta comentará, se assim o entender.

sábado, 8 de novembro de 2008

Um "coment" que merece destaque

MVHorta disse...
UPA em 2 frentes

Segundo os OCS, durante os meses de Out/Nov61, houve confrontos entre a UPA e o MPLA:
-"Em Outubro uma coluna de guerrilheiros comunistas do MPLA que entrara em Angola foi dizimada pelos irmãos da UPA.....";
-"Em 23 de Novembro, combatentes da UPA assassinam os elementos dum destacamento do MPLA no norte de Angola, comandados por Tomás Ferreira, havendo 21 mortos".
-Em Novembro - Chegada do 1º. Destacamento de Fuzileiros Especiais nº.1 (DFE) a Angola.
Sábado, 08 Novembro, 2008


Nota: -Trouxe este comentário para o corpo do blog pelo seu valor histórico/documental e pelo contributo que poderá dar para a história de Angola

CC 115 - Duas Fotos

Publico hoje estas duas fotografias que me parecem especialmente interessantes!

Aqui está o "Tenente"ACP lendo instruções do Comando ao pessoal, em fila para a distribuição do rancho. Todos os momentos eram aproveitados porque o tempo escasseava.

Esta foi tirada na "Beira Baixa" e é muito curiosa: veja-se ao fundo, à direita um soldado com uma enxada de bicos utilizada na organização do terreno; o atrelado de 3/4 de Ton era o armazém de géneros que ali encontravam boa acomodação contra as fortes chuvas e intempérie; à esquerda pode ver-se uma tenda de campanha com a cobertura reforçada por panos de tenda; ao centro o Noca e o Barreto parecem felizes com as suas mascotes: um saguim aos ombros do Noca ameaça uma coruja, muito admirada com tudo isto, exibida pelo Barreto.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Fazenda Beira Baixa - Lazer e diversos

Alguns momentos houve, na Beira Baixa, que permitiram algum convívio ou pausas de descontracção que deram lugar às mais diversas actividades, de que se seguem alguns exemplos:


O Padre Carlos celebra missa por detrás de uns escombros que já revelam algum arrumo.

À noite os oficiais da CC 115 reuniam-se numa cerimónia nunca dispensada: "O Cachimbo da Paz"! Não era tabaco, porque esse não havia. Só mais tarde, lá para o Natal apareceriam os "20-20-20", os "provisórios", os "definitivos", etc, que as senhoras do MNF se encarregavam de enviar. Então o que era o "Cachimbo da Paz"?
Pois nem mais nem menos do que "chá de capim" com whyski. Este sim já lá havia chegado, trazido pelo Santana de Águas Belas ou Bela Vista. Este Santana era um fazendeiro que vira a sua fazenda ocupada e destruída pelos terroristas da UPA e, como explorador que era, arranjou maneira de explorar, agora os militares, através de uma "cantina" que montou em Quicabo, autorizada pelo Comando, que assim se via desresponsabilizado por essa logística.
A cerimónia era solene e ninguém a dispensava após o jantar. Convém esclarecer que não era um capim qualquer, mas sim a planta de "chá de príncipe" que é igual ao capim em formato anão.
Da esquerda para a direita: Barreto, Simões, Falcão, ACP e Noca.
Esta cerimónia decorria, como se vê, ao abrigo de uma tenda cónica, onde o espaço era muito reduzido, mas havia o calor humano da camaradagem e mútua confiança entre todos.

Aqui está a famosa planta do "chá de príncipe" a embelezar a foto do Barbeiro (1497) e do Noca.

Momento de descontracção dos oficiais durante uma refeição em conjunto, em amena cavaqueira e ouvindo música do rádio do Noca, em primeiro plano.
Ouvia-se ali bem o Rádio Club de Moçambique que encerrava à meia noite, (uma hora da manhã em Moçambique), com o toque de silêncio, que muito sensibilizava os ouvintes no meio da floresta imensa dos Dembos.
Aprecie-se o ambiente em que decorriam as refeições tomadas em conjunto, sob este coberto de folhas de zinco, apoiado em bidons, para abrigo da chuva torrencial que adrede caía naquela região.

Outro momento de descontracção. este de leitura do correio.

Aqui um aspecto de uma posição da defesa periférica do acampamento da Beira Baixa. Alem dos pontos altos de vigilância, havia os abrigos escavados onde o pessoal de serviço se protegia.

CC 115 na Beira baixa

Depois de me ter referido às Operações "BB" e "Vassoura", seguem-se algumas fotos relacionadas com a região da Fazenda Beira Baixa:

Aspecto de destruição na Fazenda

Pormenor de patrulha apeada pela região

Progredindo através do capim alto

Na picada entre a Serração e Canacassala

Patrulha motorizada, as blindagens das viaturas revelam o nosso desenrascanso.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Os Três Magníficos

A propósito de comemorações e dos nossos encontros, aqui vai uma foto que o Camarada Valadas Horta denominou de "Os Três Magníficos", ACP, Noca e Horta, num momento de descontracção, em São Pedro do Sul.


segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Ainda o 47º Aniversário do embarque da CC 115

Aqui vão umas fotos que me enviou o Camarada Vítor Hugo Simões Sá relativas à comemoração do 47º aniversário do nosso embarque para Angola, que ocorreu em Loures, com o empenho e dedicação do mesmo Vítor Hugo.

O Bolo, arte efémera, doce e saborosa, foi comido com agrado de todos, mas deixou-se fotografar para a posteridade, atestando a data famosa de 31 de Maio de 2008, em Loures.

Momento em que o Subintendente Valadas Horta usava da palavra. Faziam-se já os prognósticos para a comemoração do 48º aniversário.


O nosso Vate, Furriel Coelho, ladeado pelos não menos excelentes San Bento e Benitez. O Ribeiro em segundo plano e o Furriel "Pastilhas" lá ao fundo.


Frente ao Bolo, centro das atenções, formulam-se votos de breves reencontros da Família 115.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

De novo a Fazenda Beira Baixa

Voltemos então de novo à Beira Baixa

Durante o mês de Outubro de 1961, na Fazenda Beira Baixa, a actividade foi constante. Duas grandes operações, integradas na mega operação Viriato, tiveram lugar, uma de limpeza do itinerário Quissacala-Quipetêlo-Beira Baixa, denominada “Operação BB” e outra denominada “Operação Vassoura”, incidindo na zona a noroeste da Beira Baixa, tendo como alvos especiais a Serração, Canacassala, Quifula, Missão, Fazenda João Marques e as encostas do monte Quibaba
Estas operações cujo núcleo central era a Fazenda Beira Baixa onde estava sediada a CC 115, foram efectuadas por forças bastante significativas: alem da CC 115 e CC 117, intervieram as CCaç 138 e 270 e ainda uma bateria de Artilharia de Campanha, um Pelotão de Rec,(auto metralhadoras Panhard), e elementos de Sapadores de Engenharia.
Em 9 de Outubro passou para norte, em direcção a Nambuangongo a primeira grande coluna de reabastecimento de todo o género de produtos desde alimentos a materiais de construção e ferramentas. A partir desta data tornaram-se rotina os comboios de viaturas civis escoltadas por militares, transitando em ambos os sentidos: norte e sul.
Para que essas grandes caravanas circulassem com segurança, a actividade da tropa de quadrícula tinha de ser permanente porque o In estava muito activo em todo o itinerário desde Quicabo até Caiengue.


Esboço da Operação "BB"


Esboço da Operação "Vassoura"



CC 115 na picada entre Canacassala e João Marques.
Repare-se na árvore à direita que tem um golpe no tronco o que significa que estaria a ser cortada como abatiz, o que não foi conseguido, por escassez de tempo.


Fazenda João Marques. Momento de descontracção após a caminhada.


Outro aspecto do mesmo momento, reconhecendo-se o Cap Falcão, Tenente Cipriano Pinto, o médico Simões, Alferes Barreto, Alferes Sequeira da 138 e Alferes Noca, à direita.

Após a chegada a João Marques, procedeu-se ao exame minucioso da casa destruída e seu espaço envolvente, na busca de elementos e vestígios de interesse para recolha de informação sobre o In. Esta era a casa de habitação do colono que, como se vê, foi destruída e incendiada.

Elementos da CC 115 progredindo através da encosta do Quibaba

Outro aspecto da progressão. O militar em primeiro plano levantando as mãos, parece ser o Cap Falcão, pois parece trazer os binóculos pendurados sobre o peito e o soldado no canto esquerdo é o "São Martinho", guarda costas do Cmdt da Companhia e assim chamado por ser natural de São Martinho do Porto.

Chegados ao alto do Quibaba, mais um momento de descontracção e descanso.


Pormenor do Alferes Barreto, sinistrado devido a incidente que não recordo, com o Alferes Oliveira, (Artilharia), e o Noca dessedentando-se, com outros militares em fundo.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Brasão do Batalhão 114


Eis o Brasão do BC 114 numa apresentação em fino bordado, que "roubei" ao MVHORTA.
Os meus conhecimentos de heráldica não me permitem fazer uma descrição rigorosa do mesmo, mas nele podemos ver as quatro Companhias, o escudo sobre fundo branco pacífico e bordejado a cores das mesmas Companhias e integrado com o Rio Lifune, transposto por ponte suportada pela baioneta empunhada e perfurante da efígie do inimigo desconhecido, (traiçoeiro), com os montes de Kuanda Maúa em fundo, adornado com o clarim, símbolo da alvorada, e o lema na parte inferior: "ad omnia parati". A cercadura dentada simboliza os perigos e todas as dificuldades em que o Batalhão se viu envolvido durante a guerra de Angola.


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

CC 115 - Beira baixa

CONSOLIDAÇÃO DA INSTALAÇÃO

Depois do incidente que relatei abaixo a Companhia sofreu outro forte abanão, pois foi quase outro pelotão que ficou destroçado, agora o primeiro, do comando do Alferes Freitas.
O terceiro Pelotão mantinha-se com dois feridos ligeiros nas sete curvas e o Régua que teve de ser evacuado com uma perna esfacelada no incidente de 15 de Setembro, portanto era o mais operacional, digamos assim. Por isso andava quase permanentemente fora do acampamento em missões diversas de patrulha e vigilância sobre os itinerários, ocupando pontos estratégicos de modo a evitar emboscadas às patrulhas motorizadas vindas de Quipetêlo, incidindo especialmente na zona da Serração e bifurcação para Canacassala.
Apesar disso não foi possível evitar que uma patrulha de reabastecimento, vinda de Quissacala, (CC 117), fosse atacada no sitio de Matanga, no dia 22 de Setembro, felizmente sem consequências.
Essa patrulha de reabastecimento foi muito importante porque trousse componentes necessários para nesse mesmo dia ser inaugurada a luz eléctrica na Beira Baixa, um melhoramento importante para o bem estar do pessoal e melhoria das condições de vigilância durante a noite.
No dia 25 chegou à Beira Baixa e integrou-se em reforço da CC 115, uma Bateria de Artilharia pesada.

Aqui está uma peça de Artilharia de Campanha, uma das que não nos deixavam dormir de noite e muita confusão, senão terror, deverão ter causado aos refugiados nas florestas dos Dembos.

INÍCIO DA TERRAPLANAGEM PARA A PISTA DE AVIAÇÃO

Depois de alguma normalidade na permanência na fazenda Beira Baixa, em 28 de Setembro tiveram início as obras de terraplanagem para construção da uma pista para aterragem de aviões naquela zona de floresta muito densa. Isto só foi possível depois de uma grande desmatação com corte de muitas árvores de grande porte, o que exigiu bastantes meios envolvidos da arma de engenharia.

ALFERES BARRILARO RUAS

Entretanto as operações de segurança e patrulhamento não pararam e os reabastecimentos também não e os ataques e emboscadas dos insurrectos também não!

A Matanga era um local propício a emboscadas, ali se dera o incidente de 15 de Setembro, e por isso eram sempre tomadas precauções especiais quando vinha alguma patrulha de reabastecimento, para evitar que ali fosse atacada, promovendo-se patrulhas de vigilância e prevenção, que ocupavam os morros limítrofes, dos pontos mais propícios àqueles actos de guerrilha, tão frequentes. Independentemente disso as patrulhas, em movimento, faziam tiros de exploração para os pontos mais suspeitos, o que obrigava as nossas patrulhas a tomar medidas de defesa, no sentido de não serem atingidas pelo fogo amigo.

No dia 29 saíra uma patrulha da CC 117, estacionada em Quissacala, e o 3º Pelotão, do Alferes Noca, foi ocupar um morro longitudinal à picada, entre esta e a Serração.

A dada altura ouviram-se os motores das viaturas que passavam na picada, mas tiros de exploração e reconhecimento, como era habitual, nada. Silêncio completo! O que causou estranheza a todos, pela inusitada ausência daquela manobra de detecção do possível inimigo, cuja localização era sempre desconhecida.

Cumprida a missão, o 3º Pelotão regressou ao acampamento e antes de chegar foi notada a chegada de um helicóptero, o que também causou admiração e surpresa, por ser a primeira vez que tal acontecia naquele acampamento.

O facto é que a patrulha da 117 era comandada pelo Alferes Barrilaro Ruas e fora atacada a 2 Km de Quipetêlo, numa emboscada em que um atirador especial atingiu deliberadamente o alferes, com um único tiro, em zona mortal.

Na expectativa de salvar o Alferes Ruas, foi pedido o helicóptero, mas já sem sucesso, porque ele estava morto.

Este episódio foi muito sentido por todos e até pelas altas esferas, por várias razões:

  1. Foi mais um dos nossos que morreu;
  2. O Alferes Barrilaro Ruas era um oficial distinto quer sob o aspecto humano quer profissional: fora o 1º classificado do Curso de Oficiais Milicianos de 1960. Prezo-me de o ter tido como camarada de Pelotão no COM, em Mafra;
  3. Naquele dia ele foi escalado para comandar aquela patrulha por ter regressado de Luanda no dia anterior, onde fora esperar a sua esposa, chegada da Metrópole, acompanhada de um filho de meses, que o pai, Alferes Ruas, ainda não vira antes;
  4. Porque o tempo estava frio, era manhã cedo, o Alferes Ruas vestia o seu casaco de cabedal verde azeitona ostentando os galões dourados de alferes, o que facilitou a identificação pelo atirador e por isso dizemos atrás que foi "deliberadamente" atingido pelo inimigo.

Com a devida vénia, transcrevo o post que MVHORTA colocou no seu blog:

Fazenda Beira Baixa
Na Fazenda Beira Baixa, o reabastecimento às nossas tropas, era difícil devido ao facto dos guerrilheiros da UPA montarem emboscadas diárias às patrulhas que reabasteciam as tropas ali acantonadas. Recordo que, durante uns três dias, esgotaram-se as rações de combate e nem sequer havia bolachas de água e sal para, ao menos, “enganar o estômago”. Nesse período, houve apenas e no máximo, duas refeições diárias. O pequeno almoço não ia além de um púcaro de café, desacompanhado de pão ou bolacha. Ao almoço, a refeição era única e simplesmente: macarrão com chouriço, e, à noite, para variar!… chouriço com macarrão. Por vezes houve necessidade de recorrer ao reabastecimento aéreo, pouco prático porque os pesados sacos com os víveres, ao serem lançados de uma altura bastante considerável para o interior do aquartelamento, batiam estrondosamente no solo e ficavam em muito mau estado de utilização, não deixando, por isso, de serem convenientemente aproveitados. Numa das patrulhas de reabastecimento terrestre, foi morto, numa emboscada do IN, o Alferes Barrilaro Ruas, da CC 117. No âmbito da toponímia, a autarquia de Lisboa, em sessão de câmara, deu o nome, desse mártir da guerra colonial, a uma rua da capital. Trata-se da Rua Alferes Barrilaro Ruas, em Santa Maria dos Olivais. Situa-se entre a Rua General Silva Freire e a Rua Sargento Armando Monteiro Ferreira (Bairro Olivais Norte). Deste episódio, e não só, falará o meu amigo Alferes, Nobre de Campos, no Blog CC 115, porque foi ele quem, com o seu 3º. Pelotão, avançou em socorro dessa coluna de reabastecimento tendo o pelotão sido também flagelado pelo IN, logo que chegou ao local. Refiro apenas que a CC 115, sofreu ali mais 2 mortos e alguns feridos com gravidade.

Nota: esta referência do MVHORTA merece figurar neste blog, pelo seu conteúdo realista, descrito por quem viveu esses dias difíceis da Beira Baixa. Apenas se rectifica que não foi no dia em que morreu o Alferes Ruas que a 115 sofreu os 2 mortos e vários feridos, mas sim em 15 de Setembro, como já referi noutro post. Incluo ainda o comentário que fiz no post do MVHORTA.


NOCA disse...
O Alferes Barrilaro Ruas, Oficial da CC 117, foi o Cadete melhor classificado da Escola de Oficiais Milicianos de 1960, na EPI.A sua morte foi trágica, como a de todos os outros militares mortos em combate. Mas tornou-se muito notória pelas circunstâncias que a envolveram: a CC 117 estava estacionada em Quissacala ou Kiptêlo, não posso precisar bem, e ele havia beneficiado de uns dias de dispensa para ir a Luanda receber a esposa que vinda da Metrópole, pretendia acompanhar o marido, Alferes Barrilaro Ruas. Porque a zona onde a sua companhia se encontrava não oferecia segurança, a esposa teve de ficar em Luanda e ele regressou à sua unidade.Regressado, foi o primeiro da escala para comandar uma patrulha de reabastecimento à CC 115 que se encontrava na Beira Baixa. Saindo a patrulha motorizada do seu acampamento e percorridos poucos quilómetros, ao atravessar uma zona em que a picada era dominada por uma colina pelo lado direito, um atirador emboscado, não teve dificuldade em identificar o comandante da patrulha que,imprudentemente e por estar frio, era portador de um casaco de cabedal e com os galões dourados a brilhar. Com um tiro certeiro atingiu o Alferes Ruas numa zona mortal. Verificaram-se ainda mais dois feridos ligeiros.

O 3º Pelotão da CC 115 recebeu a missão de ocupar pontos sensíveis junto à picada a percorrer pela patrulha, o que aconteceu. Nesse dia, os elementos da patrulha motorizada que habitualmente faziam tiros de reconhecimento para locais ao longo da picada mais propícios a emboscada, não fizeram um único tiro de reconhecimento e as viaturas marchavam em velocidade muito acelerada, apenas se ouvindo o ruído dos motores, o que causou surpresa ao comandante do 3º Pelotão, vigilante ao longo da referida picada.

Passada a patrulha, e regressando ao acampamento, o comandante do 3º Pelotão foi surpreendido pela notícia da morte do seu camarada e grande amigo desde o COM em Mafra, onde faziam parte do mesmo Pelotão de Instrução."We don't need another hero!"
21 de Maio de 2008 11:35

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

CC 115 - Quipetêlo-Beira Baixa






Esta foto aérea da fazenda "Beira Baixa" é bastante posterior relativamente à nossa chegada àquela Fazenda: já se vêem as reconstruções e organização do espaço e ainda um caminho alternativo a poente, denunciando muito uso, que liga à picada (estrada) em baixo e que segue para Nambuangongo, vendo-se ainda a captação de água, no canto inferior direito.


Ao fundo, lá está o palmeiral com as casas dos trabalhadores e nota-se a saída para a Serração. A chegada para quem vem de Quipetêlo é pelo caminho da esquerda que atrás se bifurcou deixando a picada principal para Nambuangongo.
As fotos a seguir são de 1961 e dão melhor ideia do estado em que tudo se encontrava quando ali chegámos.

À chegada a Beira Baixa, durante um período de descontracção do pessoal em pleno terreiro de seca do café, um atirador inimigo alvejou o terreiro com uma rajada de pistola metralhadora vinda da encosta sobranceira e dominante. Rapidamente o pessoal reagiu e o perigo passou.


Terreiro da seca do café na fazenda “Beira Baixa”, dominado pelo monte “QUIBABA”, em fundo.
Do lado oposto ficava o palmar que se pode ver na foto seguinte abaixo.




O Sr NEVES era o patrão da fazenda “Beira Baixa”.
Aqui se desenvolvia grande actividade agro florestal, (agora parada), com serração própria, (agora totalmente destruída), fábrica de óleo de palma, secagem e descasque de café, (igualmente paradas e destruídas as respectivas instalações, bem como a sede/residência dos fazendeiros).
Para esta fazenda se deslocavam anualmente milhares de trabalhadores do sul, (bailundos).


Aspecto do interior da residência da fazenda, totalmente destruída pelo fogo e outras acções dos “terroristas”.
Em fundo e a uma distância de cerca de um quilómetro, fica uma área plana, completamente florestada, escolhida para implantar a futura pista de aviação. A desmatagem começou durante a nossa permanência na B.B.

Eis o grande palmeiral da fazenda "Beira Baixa", donde era colhido o "dendém" de que se extraia o óleo de palma. As casas que se vêem na foto eram destinadas a recolher os trabalhadores da fazenda, sobretudo os bailundos vindos do planalto do Huambo, (Nova Lisboa), por os locais serem mais rebeldes na colaboração/submissão com os colonos brancos.

BEIRA BAIXA
Vamos passar um mês e meio na Beira Baixa, durante a época das chuvas. O reabastecimento da tropa nesta altura foi muito difícil, devido à pressão que o inimigo exercia sobre os itinerários, com emboscadas diárias à patrulhas que os percorriam.
Houve mesmo necessidade de recorrer a reabastecimento aéreo em géneros alimentícios e até fardamento.

Avião lançando fardos com couves e outros géneros hortícolas, bem como sacos de feijão e massas, para alimentação do pessoal, em 11 ou 12 de Setembro na Fazenda “Beira Baixa”.
A segunda quinzena de Julho e a primeira de Setembro foram as piores em relação ao abastecimento de géneros alimentícios.
Dias houve, com apenas uma refeição quente, constituída por arroz cozido com água e sal e mais nada.
Nem as rações de combate existiam, (pois eram reservadas às chamadas tropas de elite: Páras e Caçadores Especiais).
Quando surgiram, constituíram um luxo, só comparável aos maços de cigarros enviados pelo MNF (Movimento Nacional Feminino).

ACTIVIDADE OPERACIONAL
A missão da CC 115, nesta fase, era executar acção de quadrícula para garantir a segurança do itinerário para Nambuangongo e limpeza da zona em áreas como Canacassala, Quifula, João Marques e Serração, garantindo a livre circulação entre Quissacala, Quipetêlo, Beira Baixa, Águas Belas e Nambuangongo.
Isso obrigava a uma actividade permanente com lançamento de patrulhas apeadas para os arredores da Beira Baixa, que eram muito povoados, encontrando-se essas populações totalmente controladas pelos guerrilheiros, refugiadas nas matas e servindo-lhes de apoio logístico.

Dentro desta actividade há que ressaltar duas patrulhas a nível de Companhia, uma no dia 11 a Canacassala e outra no dia 12 a Quimguimbe.
Em Canacassala, grande povoação com arruamentos e praças ou espaços de convívio social, onde havia uma missão protestante e uma escola importantes, e onde se verificava a existência de cerca de seis mil indivíduos recenseados. Se pensarmos que só eram recenseados os indivíduos do sexo masculino com idade para cumprir o serviço militar e pagar imposto, poderemos aceitar, sem erro, que o número de habitantes seria três a quatro vezes superior, portanto aproximando-se dos vinte mil. Próximo de Canacassala localizava-se Quifula, tambem muito povoada.
Quinguimbe era outra grande povoação. Todas estavam abandonadas embora apresentassem vestígios de presença humana recente. Em Canacassala superintendia um tal Miranda Gonga, cuja habitação sobressaia entre as demais, pela grandeza e alguma manifestação de opolência, localizada num ponto destacado.
Depois de termos passado revista a toda a povoação, quando retirávamos, de regresso ao acampamento, em coluna por um, fomos atingidos por uma rajada de pistola metralhadora, semelhante à que atingiu o terreiro do café, quando da nossa chegada e a que me refiri antes.
Felizmente só foi atingido um soldado por um projéctil que lhe entrou numa nádega e saiu sem causar danos graves.
"No dia 13 foi o 3º Pelotão em patrulha de reconhecimento até à Serração, localizada a cerca três quilómetro da sede da fazenda Beira Baixa: tudo calmo.
Em 14 começou o arranjo da casa, isto é, construção de alguns apoios logísticos com carácter mais definitivo, como abrigos e pontos de vigilância periféricos.
A CC 117 voltou para Quissacala e à noite caiu uma tempestade tropical de chuva torrencial e trovoada que parecia fazer cair o Quibaba sobre o acampamento. Tudo foi suportado com estoicismo e valentia ao abrigo de panos de tenda.

O fatídico número 15 (15 de Julho -Kuanda Maúa)
O dia 15 de Setembro, na Beira Baixa, foi dramático para a CC 115.
Quando, em socorro de uma coluna de reabastecimento atacada, a Companhia sofreu dois mortos e um número indeterminado de feridos, devido a um incidente de guerra impossível de controlar.
Este episódio, se não fora a tragédia da morte de dois militares e os ferimentos em muitos outros, alguns com muita gravidade, como o caso do Régua que veio a sofrer amputação de uma perna, teria sido cómico e resumiu-se no seguinte:
Uma coluna de reabastecimento da CC 117, sob o comando do Tenente Reis, sofreu uma emboscada na sítio denominado Matanga, a cerca de dois quilómetros da Beira Baixa, onde estava baseada a CC 115. Durante a emboscada foi especialmente atingido um jeepão Dodge carregado de pessoal, de que resultaram alguns feridos incluindo o respectivo condutor. O comandante da patrulha resolveu abandonar a viatura no local da emboscada e avançar rapidamente para o acampamento de Beira Baixa a fim de socorrer os feridos.
O 3º Pelotão da CC 115 recebeu ordem para recuperar o jeepão abandonado e marchou para o local com os cuidados e precauções que a situação impunha.
Ao sair do acampamento, cruzou-se com a patrulha que entretanto chegava. No local da emboscada, após fazer uma ligeira curva para a direita logo seguida de outra para a esquerda, o 3º Pelotão foi flagelado pelo inimigo com uma rajada de metralhadora, sem consequências. Todo o pessoal reagiu saltando das viaturas e abrigando-se como poude, ao mesmo tempo que respondia ao fogo. Passado pouco tempo, parado o fogo, o inimigo não reagiu mais, mesmo depois de alguns tiros de reconhecimento.
Nesta altura o comandante da 1ª Secção, 2º Sargento Guedes, encontrava-se deitado na beira da picada e chamou o comandante do Pelotão estabelecendo-se o seguinte diálogo:
-Meu Alferes!
-O que é?
-Um tiro! E apontava para um dos seus olhos, repetindo: -um tiro num olho!
Incrédulo o alferes perguntava: - o quê?
E ele repetia:
- Um tiro num olho!
O alferes pensava: então aquele gajo devia estar morto, se levou um tiro num olho...
Aproximou-se do sargento e verificou os óculos que este exibia, com um buraco redondo, com cerca de um centímetro de diâmetro no meio de uma lente.
Perante isto disse-lhe o alferes: - homem, você devia estar morto!
O sargento Guedes respondeu pouco convicto mas convincente: - Se calhar estou!
Isto parece uma anedota, mas os camaradas sabem que se trata de uma estória verídica, ocorrida no dia 15 de Setembro de 1961, em plena picada para a Beira Baixa, e o buraco nos óculos do Guedes terá sido resultado, quiçá, de um invólucro de projéctil extraído de uma arma próxima dele.
A picada era ladeada por floresta muito densa, com árvores e muita vegetação arbórea sob as copas altas. Entretanto o Cabo Bolrão, comandante da 3ª Secção de Atiradores, que se encontrava na testa da coluna, informou o comandante do Pelotão de que já via o jeepão à sua frente, a arder, mas ainda com pouca intensidade.
Examinado o jeepão, verificou-se que ardia na caixa, e na boca do depósito de combustível havia um trapo meio queimado, mas apagado e com vestígios de sangue recente. Isto indiciava que alguém tentara incendiar o depósito da viatura e que esse alguém estaria a sangrar e provavelmente ferido. Com água dos cantis e alguma terra, conseguiu-se apagar o incêndio.
Seguiu-se depois a tentativa de fazer uma batida à zona da floresta donde o inimigo havia atacado, pedindo-se a intervenção de mais um pelotão de caçadores e apoio de fogo de morteiros 81.
Durante a execução da operação e manobras para redireccionar as viaturas, o fogo de apoio foi decorrendo normalmente, flagelando o inimigo.
Em dado momento, verificou-se uma enorme explosão na parte central do dispositivo.
À surpresa inicial acumulada com a tentativa de perceber o que se estava a passar, sucedeu a angústia e o terror da expectativa de poder repetir-se nova explosão. Isto é, eliminada a hipótese de ter sido o inimigo e sabido que não fora lançada nenhuma granada de bazooka pelo nosso operador, só restava uma hipótese possível, que era a de uma granada de morteiro 81 ter perdido o alcance normal e ter caído sobre o dispositivo, o que infelizmente se veio a confirmar. Nesse momento, ouviram-se mais detonações de lançamento de novas granadas da base de fogos no acampamento. Ao comandante do Pelotão, angustiado e impotente, apenas restou a decisão: “abriguem-se porque vem aí mais!”. Isto enquanto dava ordem à base para cessar o fogo. Passados poucos segundos, que pareceram horas, ouviram-se os rebentamentos das granadas, entretanto lançadas, na zona de impacto inicial, para a qual fora regulado o fogo.
No rescaldo da tragédia veio a apurar-se a existência de dois mortos, cujos corpos abafaram a maior parte dos estilhaços, reduzindo assim o número de vítimas mortais, e houve ainda um número indeterminado de feridos graves,(entre 15 e 20).
Os dois mortos, (municiador e remuniciador da equipa de ML Dreyse), eram os soldados nºs 984/60, JORGE AUGUSTO DOS ANJOS e 988/60, JOAQUIM FERREIRA DE BESSA.
Várias viaturas ficaram também inoperacionais, devido a terem sido atingidas por estilhaços da granada que provocaram esvaziamento dos pneus.
Com cerca de metade do efectivo vitimado, valeu o reforço entretanto enviado do Comando da Companhia.
O Tenente Cipriano Pinto assumiu o Comando da Operação in loco e o Alferes Nobre de Campos regressou ao acampamento, na fazenda “Beira Baixa”, comandando uma mini coluna fantasma constituída por duas viaturas: uma GMC,conduzida pelo soldado Arnaldo, transportando os dois mortos e cerca de vinte feridos, alguns muito graves, seguida por um WILLYS armado com metralhadora BREDA, cujo apontador também estava ferido num braço, embora com pouca gravidade. Nesta coluna fantasma apenas três pessoas estavam operacionais: os dois condutores das viaturas e o oficial que se fazia transportar no estribo exterior da GMC, porque na cabine, ao lado do condutor, vinha também um ferido.


Uma GMC igual à referida no texto acima


Jeep Willys com MP Breda instalada, igual ao citado no texto acima.
Repare-se na blindagem com chapa de bidons de 200 litros.


MVHorta disse...
QUIPETELO/FAZENDA BEIRA BAIXAPor motivos que já não me ocorrem, não segui para a Fazenda Beira Baixa com a minha Companhia. Fiquei em Quipetelo com a Companhia 116 e com o "meu Jeep" das Comunicações e respectiva guarnição. No dia 16Set, enquadrado numa coluna da "116" e no caminho para a Beira Baixa, fomos atacados pelo IN que se encontrava entrincheirado numa zona estratégica do nosso itinerário. Relatei este acontecimento num episódio avulso no "Blog http://valhor.blogspot.com - post Quipetelo/Beira Baixa".

À chegada da coluna à Fazenda Beira Baixa, o Oficial de Operações e Informações do BC 114, Capitão Lemos Pires (hoje Ten Gen na reserva) que se encontrava nessa data na Fazenda Beira Baixa, disse-me: -Reconheci-te pela voz! Comunicaste que "estamos a ser atacados" e depois estiveste uns 4 ou 5 minutos sem comunicares mais nada. Ficamos preocupados. Concretamente o que foi que se passou?

Disse-lhe então o seguinte: -O IN ao emboscar a coluna de viaturas referenciou o Jeep das transmissões ao ouvir a minha comunicação rádio dirigida à Estação Directora da Rede a comunicar o que se estava a passar. Mas como o fogo do IN passava a rasar o Jeep das transmissões e consequentemente sobre as nossas cabeças, por uns momentos, como medida preventiva, coloquei o volume do ANGRC-9 no "mute", a fim de evitar o pior. Logo que as viaturas da frente iniciaram a marcha, aumentei o volume do E/R e informei o Comandante da Companhia 115 da situação e do rescaldo da operação.

Em termos de vulnerabilidades as redes rádio, que operavam em HF (Onda Curta) eram passíveis de ser escutadas com relativa facilidade, sem qualquer possibilidade de tal facto ser detectado. Qualquer simples receptor podia inadvertida ou propositadamente, captar a emissão daquelas redes desde que estivessem reunidas determinadas condições técnicas, tais como proximidade física, condições de transmissão, etc. Acontecia, porém, que nas deslocações os radiotelegrafistas não colocavam os auscultadores porque o capacete de aço dificultava a sua colocação e obviamente também eram facilmente referenciados pelo IN. Até então, as comunicações consideradas mais seguras eram aquelas transmitidas em "morse", quer o conteúdo da mensagem fosse cifrada, (protecção criptográfica que é resultante da conversão de linguagem clara para linguagem ininteligível, destinada a proteger as comunicações contra intercepção não autorizada), ou em claro. As situações de excepção só se realizavam quando a urgência na comunicação fosse absolutamente essencial e a informação já não pudesse ser explorada em tempo útil e não se dispusesse de outros meios mais seguros "scramblers".
Sábado, 20 Setembro, 2008.

PS. Pareceu-me oportuno transcrever para aqui o texto do MVHORTA, pelo que tem de realismo e por abordar um aspecto tão importante nas operações militares, as comunicações.