Nos quartéis, Centros de Instrução de Recrutas, continuava a azáfama diária de dar cumprimento aos horários e programas de instrução antecipadamente delineados:
ginástica sueca matinal, três dias por semana, ginástica de aplicação militar dois dias por semana, muitas horas diárias de ordem unida, educação militar e cívica, armamento e tiro, e aos sábados a célebre limpeza da arma e respectiva revista, seguida da revista semanal às casernas e quartel em geral, pelo 2º Comandante da Unidade. Depois do almoço de sábado seguia-se o fim-de-semana para descanso e recuperação do pessoal.
Paralelamente aos programas da recruta, funcionavam no quartel de Beja, em regime de semi voluntariado, as Escolas Regimentais, onde quem quisesse, os analfabetos a grande percentagem, podiam aprender as primeiras letras, ou os alfabetizados podiam melhorar os seus conhecimentos, com vista a eventual entrada nos quadros permanentes do exército, os RDs ou “lateiros”, como se chamavam, pejorativamente. Nesta altura, já a escola de recrutas tinha feito progressos assinaláveis, nomeadamente na ordem unida e marcha: até já tínhamos feito uma apresentação dos recrutas à cidade, em marcha garbosa através das ruas mais concorridas.
Penso que foi nesta apresentação que, ao passar a coluna na Rua dos Infantes, uma linda Donzela, qual Mariana Alcoforado pelo Tenente francês, se deixou seduzir por um aprumado e elegante Aspirante de Infantaria, com quem fez a guerra em Quicabo e ainda hoje partilha a sua felicidade naquela cidade de Beja.
“Tou certo ou tou errado”, Alferes Freitas?
domingo, 24 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
O Caracter da CC 115
Uma vez apresentada a composição da CC 115, parece-me oportuno divagar um pouco sobre as suas características mais salientes, bem como dos seus elementos constituintes, ou seja, os militares que a compunham.
CC 115 - ESPELHO DO PORTUGAL MULTIFACETADO
Era a CC 115 uma Subunidade "sui generis", diferente de todas as outras, pelas razões que a seguir exporei. Ela era a autêntica representante do povo português no seu todo. Pela sua composição e heterogeneidade dos seus elementos, quanto à origem, idades e respectivos caracteres daí resultantes, a CC 115, pode dizer-se, era a emanação perfeita do povo português.
Dela faziam parte elementos de todas as províncias de Portugal Continental, (Metrópole, como então se dizia), bem como da Madeira e dos Açores.
Recordemos que o seu comandante, Capitão Tomé Falcão, era de Trás-os-Montes, tal como alguns soldados como o "Bragança" ou o "Régua" e alguns cabos readmitidos como o Carvalhais e o Vidal; o adjunto, Tenente Cipriano Pinto, era da Madeira, assim como o furriel Coelho. O 1º Sargento Medeiros e Furriel San Bento representavam os Açores; o corneteiro, Marinho, o "velho" Teófilo, o "Braga", o alferes Barreto e outros, eram do Minho; o Porto estava bem representado, entre outros, pelo cabo Patrício e Vila do Conde pelo Arlindo; das Beiras recordamos o condutor da GMC Gonçalves, o 1000, Nunes Inácio e o Silva,"padeiro" de Lumbala; de Mafra, o malogrado “Mafra”, que morreu de acidente em Quicabo e de Lisboa, o Guedes e grande parte dos condutores, desde o Pintor ao Vítor "Maluco", passando pelo Fernando Cardoso, "Branquinho" e pelo cabo mecânico; o Alentejo estava bem representado pelo Bolrão, o Benites, o Pires, o Durval, sem esquecer o Alferes Campos e o Arménio Guerreiro, ambos de S. Teotónio; dos "irmãos barbeiros", o Magalhães era de Montalegre e o Ferreira de Almeida de São Pedro do Sul.
Não menciono mais, para não ser fastidioso, mas pode dizer-se que a CC 115 tinha militares de todos os cantos de Portugal. Era pois a CC 115 heterogénia quanto à origem dos seus elementos e multi-facetada pelas características de idade, formação, de usos e costumes os mais diversos em cada um. Ali estava o Portugal diverso e multicor, desde as pedregosas e austeras regiões do norte, centro e sul interiores, passando pelas verdejantes encostas e veigas do Minho, pelas arenosas ou barrentas planícies da Beira Litoral, Estremadura e Ribatejo, pelas escaldantes planuras alentejanas, pelas acidentadas serras algarvias, pelos centros cosmopolitas de Porto e Lisboa, até à alcantilada e acolhedora Madeira e às quentes, húmidas e gordas ilhas dos Açores.
Quanto à idade, também os elementos da CC 115 apresentavam uma diversidade tal, que, bem se pode dizer, havia homens de todas as idades: desde dois voluntários, com menos de 21 anos, até aos Cabos Teófilo, Lemos, Carvalhais, Faria e Bolrão entre outros, todos militares readmitidos e já na casa dos 30 anos.
Esta diversidade de origens e idades deve-se a duas causas principais: a primeira por ser a E.P.I. (Escola Prática de Infantaria), a unidade mobilizadora, que, por sua vez, também apresenta grande diversidade de origem dos seus efectivos; a segunda foi que, havendo notícia de que a companhia se destinava a Moçambique e havendo na EPI muitos quadros intermédios, (cabos e sargentos), que já conheciam aquela "Província Ultramarina", ofereceram-se como voluntários para a mobilização.
Apesar da referida diversidade, graças à acção do comando e à generosidade e valentia de todos os seus elementos, foi a CC 115 uma Subunidade de altíssima coesão e arreigado espírito de corpo, que dificilmente terão sido igualados pelas congéneres.
Tal permitiu o cumprimento das missões mais árduas, arriscadas e dolorosas sob todos os aspectos, enquanto na ZIN•, zona de guerrilha, de JUN61 a MAI62, e as mais eficazes, consequentes e até agradáveis, enquanto na ZIL•, Alto Zambeze, saliente de Cazombo, zona pacificada, de JUN62 a JUL63.
A este forte “espírito de corpo”, chamaria o camarada Fernando Cardoso:
"O CARÁCTER DA 115".
•ZIN -Zona de Intervenção Norte (DEMBOS: zona de guerrilha muito activa – de Junho/61 a Maio/62)
•ZIL -Zona de Intervenção Leste (MOXICO: zona pacificada, mas em pré-subversão – de Junho/62 a Julho63
CC 115 - ESPELHO DO PORTUGAL MULTIFACETADO
Era a CC 115 uma Subunidade "sui generis", diferente de todas as outras, pelas razões que a seguir exporei. Ela era a autêntica representante do povo português no seu todo. Pela sua composição e heterogeneidade dos seus elementos, quanto à origem, idades e respectivos caracteres daí resultantes, a CC 115, pode dizer-se, era a emanação perfeita do povo português.
Dela faziam parte elementos de todas as províncias de Portugal Continental, (Metrópole, como então se dizia), bem como da Madeira e dos Açores.
Recordemos que o seu comandante, Capitão Tomé Falcão, era de Trás-os-Montes, tal como alguns soldados como o "Bragança" ou o "Régua" e alguns cabos readmitidos como o Carvalhais e o Vidal; o adjunto, Tenente Cipriano Pinto, era da Madeira, assim como o furriel Coelho. O 1º Sargento Medeiros e Furriel San Bento representavam os Açores; o corneteiro, Marinho, o "velho" Teófilo, o "Braga", o alferes Barreto e outros, eram do Minho; o Porto estava bem representado, entre outros, pelo cabo Patrício e Vila do Conde pelo Arlindo; das Beiras recordamos o condutor da GMC Gonçalves, o 1000, Nunes Inácio e o Silva,"padeiro" de Lumbala; de Mafra, o malogrado “Mafra”, que morreu de acidente em Quicabo e de Lisboa, o Guedes e grande parte dos condutores, desde o Pintor ao Vítor "Maluco", passando pelo Fernando Cardoso, "Branquinho" e pelo cabo mecânico; o Alentejo estava bem representado pelo Bolrão, o Benites, o Pires, o Durval, sem esquecer o Alferes Campos e o Arménio Guerreiro, ambos de S. Teotónio; dos "irmãos barbeiros", o Magalhães era de Montalegre e o Ferreira de Almeida de São Pedro do Sul.
Não menciono mais, para não ser fastidioso, mas pode dizer-se que a CC 115 tinha militares de todos os cantos de Portugal. Era pois a CC 115 heterogénia quanto à origem dos seus elementos e multi-facetada pelas características de idade, formação, de usos e costumes os mais diversos em cada um. Ali estava o Portugal diverso e multicor, desde as pedregosas e austeras regiões do norte, centro e sul interiores, passando pelas verdejantes encostas e veigas do Minho, pelas arenosas ou barrentas planícies da Beira Litoral, Estremadura e Ribatejo, pelas escaldantes planuras alentejanas, pelas acidentadas serras algarvias, pelos centros cosmopolitas de Porto e Lisboa, até à alcantilada e acolhedora Madeira e às quentes, húmidas e gordas ilhas dos Açores.
Quanto à idade, também os elementos da CC 115 apresentavam uma diversidade tal, que, bem se pode dizer, havia homens de todas as idades: desde dois voluntários, com menos de 21 anos, até aos Cabos Teófilo, Lemos, Carvalhais, Faria e Bolrão entre outros, todos militares readmitidos e já na casa dos 30 anos.
Esta diversidade de origens e idades deve-se a duas causas principais: a primeira por ser a E.P.I. (Escola Prática de Infantaria), a unidade mobilizadora, que, por sua vez, também apresenta grande diversidade de origem dos seus efectivos; a segunda foi que, havendo notícia de que a companhia se destinava a Moçambique e havendo na EPI muitos quadros intermédios, (cabos e sargentos), que já conheciam aquela "Província Ultramarina", ofereceram-se como voluntários para a mobilização.
Apesar da referida diversidade, graças à acção do comando e à generosidade e valentia de todos os seus elementos, foi a CC 115 uma Subunidade de altíssima coesão e arreigado espírito de corpo, que dificilmente terão sido igualados pelas congéneres.
Tal permitiu o cumprimento das missões mais árduas, arriscadas e dolorosas sob todos os aspectos, enquanto na ZIN•, zona de guerrilha, de JUN61 a MAI62, e as mais eficazes, consequentes e até agradáveis, enquanto na ZIL•, Alto Zambeze, saliente de Cazombo, zona pacificada, de JUN62 a JUL63.
A este forte “espírito de corpo”, chamaria o camarada Fernando Cardoso:
"O CARÁCTER DA 115".
•ZIN -Zona de Intervenção Norte (DEMBOS: zona de guerrilha muito activa – de Junho/61 a Maio/62)
•ZIL -Zona de Intervenção Leste (MOXICO: zona pacificada, mas em pré-subversão – de Junho/62 a Julho63
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
FERIAS DE CARNAVAL
Não se espantem os meus leitores, no ano de 1961 foi mesmo dia de Carnaval a 14 de Fevereiro, (hoje é dia de São Valentim, modernices!). Depois de duas semanas de instrução e da visita do General Meira e Cruz, Comandante da então 2ª Região Militar, visita inserida na tal conspiração que estava em marcha, a Escola de Recrutas foi interrompida para gozo de férias de carnaval desde o dia 10, sexta feira. Foram quatro dias bem passados, a minha agenda refere dois bailaricos: um no domingo (12), em Algezur e outro na terça feira de carnaval (14) em Sines e, a propósito, alguns nomes femininos associados e esses eventos. Eram apenas diligências preliminares de recrutamento de eventuais "madrinhas de guerra".
E vocês, caros camaradas, o que fizeram nesse carnaval, ainda se lembram? Nem sonham!
Não interessa, tambem não perderam nada, apenas algumas recordações efémeras.
Espero as vossas referências em comentários.
E vocês, caros camaradas, o que fizeram nesse carnaval, ainda se lembram? Nem sonham!
Não interessa, tambem não perderam nada, apenas algumas recordações efémeras.
Espero as vossas referências em comentários.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
EDITORIAL
Embora o Blog já esteja em actividade há algum tempo, é oportuno dizer o seguinte:
Pretende-se que este BLOG seja apresentado em dois planos temporais: o primeiro referindo os tempos da guerra - de 28 de Maio de 1961 a 14 de Julho de 1963; o segundo plano referirá os anos da saudade, (encontros dos ex-combatentes com famíliares associados).
Espera-se a colaboração do maior número de camaradas ou seus familiares, nomeadamente intervindo com comentários aos posts que forem sendo colocados.
Pretende-se que este BLOG seja apresentado em dois planos temporais: o primeiro referindo os tempos da guerra - de 28 de Maio de 1961 a 14 de Julho de 1963; o segundo plano referirá os anos da saudade, (encontros dos ex-combatentes com famíliares associados).
Espera-se a colaboração do maior número de camaradas ou seus familiares, nomeadamente intervindo com comentários aos posts que forem sendo colocados.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Colaboração do Subintendente Valadas Horta
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Valadas Horta fala de Transmissões
Neste período de pré-mobilização, os militares da CC 115, cada um em seu posto nas unidades respectivas, desempenhavam as várias tarefas que a cada um cometiam.
O Camarada Valadas Horta dá-nos conta da sua ocupação e da sua especialidade, durante esses dias incertos e indefinidos do ano de 1961:
Em tempo: O Camarada Valadas Horta tem muita e preciosa colaboração que, a seu tempo, irá sendo publicada no Blog
O Camarada Valadas Horta dá-nos conta da sua ocupação e da sua especialidade, durante esses dias incertos e indefinidos do ano de 1961:
Em tempo: O Camarada Valadas Horta tem muita e preciosa colaboração que, a seu tempo, irá sendo publicada no Blog
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
O 4 de Fevereiro
4 de Fevereiro de 1961. Na Metrópole, nos quartéis –Centros de Instrução, continuava a formação dos recrutas e ao mesmo tempo os comandantes convocavam os seus oficiais do QP, “contando as espingardas” e conspirando, cada um a seu geito: preparava-se a tentativa de golpe do General Botelho Moniz e era preciso apanhar o comboio. Salazar surdo aos apelos descolonizadores, descura a preparação da guerra, já inevitável.
Em Luanda ocorria a primeira grande acção de rebeldia armada, concretizando o que todos sabiam, mas não queriam acreditar: a insurreição armada dos povos do norte de Angola está em marcha.
“O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), grupo nacionalista que vinha a cimentar as suas bases nos centros urbanos, lança na madrugada de 3 para 4 de Fevereiro, um ataque simultâneo a duas cadeias e um quartel de polícia na capital angolana, com o objectivo de libertar militantes seus encarcerados. O ataque falha, há mortos e feridos dos dois lados e seguem-se dias de sangrentas represálias nos bairros negros de Luanda. Mas a imagem de estabilidade em Angola deixa definitivamente de existir aos olhos da opinião pública internacional” (Os Anos da Guerra).
Em Luanda ocorria a primeira grande acção de rebeldia armada, concretizando o que todos sabiam, mas não queriam acreditar: a insurreição armada dos povos do norte de Angola está em marcha.
“O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), grupo nacionalista que vinha a cimentar as suas bases nos centros urbanos, lança na madrugada de 3 para 4 de Fevereiro, um ataque simultâneo a duas cadeias e um quartel de polícia na capital angolana, com o objectivo de libertar militantes seus encarcerados. O ataque falha, há mortos e feridos dos dois lados e seguem-se dias de sangrentas represálias nos bairros negros de Luanda. Mas a imagem de estabilidade em Angola deixa definitivamente de existir aos olhos da opinião pública internacional” (Os Anos da Guerra).
domingo, 3 de fevereiro de 2008
Slideshow
Para melhoria do nosso blog coloquei hoje um slideshow, cujas fotos nos fazem lembrar nascentes e ocasos de sol no Alto Zambeze e outras paisagens angolanas.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
Sem assunto
Nesta fresca manhã de Fevereiro não tenho assunto especial para apresentar. Neste dia de 1961 a vida decorria normalmente, sem ocorrência digna de nota. Hoje, as obras do MST (Metro Sul do Tejo), continuam a bom ritmo na Avenida Bento Gonçalves e por toda a via central da cidade de Almada, criando grandes problemas para os automobilistas.
Um apêlo aos internautas que nos visitam: comentem o que aqui vai sendo posto, por favor. Dêem a vossa opinião porque não queremos unanimismo. Para isso bastaram os quarenta anos da "outra senhora".
Ou então contem uma anedota,mesmo a despropósito: olhem lembram-se daquela do cão que só tinha 3 patas? Foi fazer xixi e..........caiu.
Um apêlo aos internautas que nos visitam: comentem o que aqui vai sendo posto, por favor. Dêem a vossa opinião porque não queremos unanimismo. Para isso bastaram os quarenta anos da "outra senhora".
Ou então contem uma anedota,mesmo a despropósito: olhem lembram-se daquela do cão que só tinha 3 patas? Foi fazer xixi e..........caiu.
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