sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Caracter da CC 115

Uma vez apresentada a composição da CC 115, parece-me oportuno divagar um pouco sobre as suas características mais salientes, bem como dos seus elementos constituintes, ou seja, os militares que a compunham.

CC 115 - ESPELHO DO PORTUGAL MULTIFACETADO

Era a CC 115 uma Subunidade "sui generis", diferente de todas as outras, pelas razões que a seguir exporei. Ela era a autêntica representante do povo português no seu todo. Pela sua composição e heterogeneidade dos seus elementos, quanto à origem, idades e respectivos caracteres daí resultantes, a CC 115, pode dizer-se, era a emanação perfeita do povo português.
Dela faziam parte elementos de todas as províncias de Portugal Continental, (Metrópole, como então se dizia), bem como da Madeira e dos Açores.
Recordemos que o seu comandante, Capitão Tomé Falcão, era de Trás-os-Montes, tal como alguns soldados como o "Bragança" ou o "Régua" e alguns cabos readmitidos como o Carvalhais e o Vidal; o adjunto, Tenente Cipriano Pinto, era da Madeira, assim como o furriel Coelho. O 1º Sargento Medeiros e Furriel San Bento representavam os Açores; o corneteiro, Marinho, o "velho" Teófilo, o "Braga", o alferes Barreto e outros, eram do Minho; o Porto estava bem representado, entre outros, pelo cabo Patrício e Vila do Conde pelo Arlindo; das Beiras recordamos o condutor da GMC Gonçalves, o 1000, Nunes Inácio e o Silva,"padeiro" de Lumbala; de Mafra, o malogrado “Mafra”, que morreu de acidente em Quicabo e de Lisboa, o Guedes e grande parte dos condutores, desde o Pintor ao Vítor "Maluco", passando pelo Fernando Cardoso, "Branquinho" e pelo cabo mecânico; o Alentejo estava bem representado pelo Bolrão, o Benites, o Pires, o Durval, sem esquecer o Alferes Campos e o Arménio Guerreiro, ambos de S. Teotónio; dos "irmãos barbeiros", o Magalhães era de Montalegre e o Ferreira de Almeida de São Pedro do Sul.
Não menciono mais, para não ser fastidioso, mas pode dizer-se que a CC 115 tinha militares de todos os cantos de Portugal. Era pois a CC 115 heterogénia quanto à origem dos seus elementos e multi-facetada pelas características de idade, formação, de usos e costumes os mais diversos em cada um. Ali estava o Portugal diverso e multicor, desde as pedregosas e austeras regiões do norte, centro e sul interiores, passando pelas verdejantes encostas e veigas do Minho, pelas arenosas ou barrentas planícies da Beira Litoral, Estremadura e Ribatejo, pelas escaldantes planuras alentejanas, pelas acidentadas serras algarvias, pelos centros cosmopolitas de Porto e Lisboa, até à alcantilada e acolhedora Madeira e às quentes, húmidas e gordas ilhas dos Açores.
Quanto à idade, também os elementos da CC 115 apresentavam uma diversidade tal, que, bem se pode dizer, havia homens de todas as idades: desde dois voluntários, com menos de 21 anos, até aos Cabos Teófilo, Lemos, Carvalhais, Faria e Bolrão entre outros, todos militares readmitidos e já na casa dos 30 anos.
Esta diversidade de origens e idades deve-se a duas causas principais: a primeira por ser a E.P.I. (Escola Prática de Infantaria), a unidade mobilizadora, que, por sua vez, também apresenta grande diversidade de origem dos seus efectivos; a segunda foi que, havendo notícia de que a companhia se destinava a Moçambique e havendo na EPI muitos quadros intermédios, (cabos e sargentos), que já conheciam aquela "Província Ultramarina", ofereceram-se como voluntários para a mobilização.
Apesar da referida diversidade, graças à acção do comando e à generosidade e valentia de todos os seus elementos, foi a CC 115 uma Subunidade de altíssima coesão e arreigado espírito de corpo, que dificilmente terão sido igualados pelas congéneres.
Tal permitiu o cumprimento das missões mais árduas, arriscadas e dolorosas sob todos os aspectos, enquanto na ZIN•, zona de guerrilha, de JUN61 a MAI62, e as mais eficazes, consequentes e até agradáveis, enquanto na ZIL•, Alto Zambeze, saliente de Cazombo, zona pacificada, de JUN62 a JUL63.
A este forte “espírito de corpo”, chamaria o camarada Fernando Cardoso:
"O CARÁCTER DA 115".

•ZIN -Zona de Intervenção Norte (DEMBOS: zona de guerrilha muito activa – de Junho/61 a Maio/62)
•ZIL -Zona de Intervenção Leste (MOXICO: zona pacificada, mas em pré-subversão – de Junho/62 a Julho63

1 comentário:

MVHorta disse...

VALHOR disse:
NOCA!!
Continuo a navegar na blogosfera.
Tenho lido as tuas fantásticas postagens e revejo-me nelas.
Um abraço
MVH