quinta-feira, 3 de julho de 2008

CC 115 - Caxito (Zona de Reunião)


MAPA DA REGIÃO CAXITO-MABUBAS
Terminada a prè preparação em Luanda e ainda com grandes carências de material, a CC 115 , integrando o BC 114, deslocou-se em 26 de Junho de 1961 para o Caxito, onde se acantonou num edifício já velho, que poderia ter sido uma casa "senhorial" de quinta, ou mesmo um edifício público com alguma notoriedade, isto é, era relativamente grande, mas em muito mau estado.
Os dias que se seguiram, foram de continuação da preparação com vista à intervenção operacional e ao mesmo tempo os afazeres próprios de tropa em campanha, em subunidades autónomas, com órgãos próprios para satisfazer as necessidades imediatas: alimentação, higiene, descanso e defesa da subunidade.



Durante o descanso o pessoal dedicava-se a descascar a batata para a refeição seguinte.


Com o Cabo cozinheiro (Cunha, salvo erro), e dois ajudantes de cozinheiro.
Na retaguarda vê-se o aspeto das instalações/barracões a que me referi acima.




Aqui, no Caxito ainda havia estes tanques para lavar a roupa, depois o problema será mais complicado.


Aspecto da vida social no Caxito. Uma família de alfaiates/Costureiros.


Uma Rua de bairro no Caxito: mistura de casa portuguesa, ao fundo e casas indígenas, em
primeiro plano.
Este personagem é, ou era, o José Correia de Almeida Ferreira, Prof Aux da Missão Católica.

INSTRUÇÃO E PRIMEIRO CONTACTO COM O MATO
Ali permanecemos dezassete dias, ocupando o tempo em patrulhamentos na região, para conhecimento e adaptação ao mato, bem como para reconhecimento e contactos com as populações. Os primeiros exercícios e tentativas de pôr em prática os conhecimentos teóricos adquiridos para reacção às emboscadas revelaram-se um desastre: a limpeza do terreno com formações em linha, como nos haviam dito era de todo impossível.

A densidade da vegetação era tal, que, a dois metros de distância, em pleno dia, era impossível ver o camarada do lado. Uma única formação táctica se mostrou possível: a "bicha do pirilau", isto é, a coluna por um e sempre em ligação visual.


Uma imagem vale mais que mil palavras: as fotos que antecedem dão a verdadeira imagem das dificuldades de progressão encontradas pelos militares - o capim atinge os três metros de altura e cresce por todo o lado, de modo que as picadas são invadidas por essa praga que as faz desaparecer, desde que não sejam limpas atempadamente e com frequência.
O grande inimigo aqui no Caxito eram os mosquitos. A zona tem muitas palmeiras e canais de rega para o palmar e canavial de açúcar da fazenda Tentativa, pelo que o aparecimento dos mosquitos é fatal, acrescendo ainda o calor tropical que caracteriza a região.

1 comentário:

MVHorta disse...

É verdade, sim senhor!
Hoje percebemos que a nossa preparação militar era deficiente; que, em termos de logística, a movimentação e abastecimento das tropas em campanha não chegava ao local exacto e no tempo adequado; que as fardas (amarelas) inadaptadas, não disfarçavam imperfeições, tanto assim que ao fim de pouco tempo foram substituídas pelos camuflados; os militares, equipados com burnais e com capacetes de aço feitos para a II Guerra Mundial e armados com a velha mauser, substituída algum tempo depois de ter sido utilizada nos vários confrontos que entretanto se sucederam. Outra contrariedade: Ter sido dada instrução de uma arma e, durante o teatro de guerra, ter de voltar tudo à estaca zero, porque aos combatentes lhes foi entregue (toma lá, dá cá!)outra arma, G3, de características completamente diferentes.
Foi assim que, em 1961, os soldados e oficiais portugueses foram empurrados para a guerra, que se travava no meio de um capim altíssimo e de matas densíssimas, direccionado para um inimígo invisível (...) que espreitava as nossas movimentações no terreno.
Foi assim com a tropa de 1961 e não tanto assim com a tropa de 1970! Aqueles primeiros contingentes chegados a Angola, recebidos pelos colonos desesperados, nos dias subsequentes à chegada a Luanda, eram "despachados" para as picadas do Norte de Angola.
Ninguém poderá ficar indiferente àquilo que se passou nesse tempo. Não foram tempos normais; foram sim senhor, tempos difíceis.