sexta-feira, 27 de junho de 2008

CC 115 - Operação Viriato



Antecedentes

A UPA havia-se instalado no chamado “Reino de Nambuangongo”, cuja fronteira Sul era definida pelo Rio Lifune, depois de destruída a Ponte sobre o mesmo rio, em Anapasso. O aparecimento nos meios internacionais da notícia da existência do “REINO DE NAMBUANGONGO”, provocou em Luanda e Lisboa grande perturbação ao nível mais alto do poder político, devido ao impacto que tal notícia provocava nos areópagos internacionais, nomeadamente nas Nações Unidas.

Em consequência o Comando Chefe ordenou a imediata ocupação de Nambuangongo e os estrategas começaram a delinear as tácticas e as manobras operacionais, no sentido de conseguir o desiderato do poder político. Foi assim estabelecido um plano de ocupação de Nambuangongo, (OPERAÇÃO VIRIATO), que seria conseguida do seguinte modo: 3 forças autónomas avançariam sobre Nambuangongo por 3 itinerários convergentes naquela povoação, a saber: a primeira,(BC 114), com base na região de Caxito/Mabubas, avançaria por Anapasso, Quicabo, Balacende, Quissacala, Beira Baixa, Bela Vista, Onzo, Nambuangongo; a segunda, (BC 96), com base em Úcua e contornando a célebre Pedra Verde, avançaria por Pedra Boa, Quibaxe, Quitexe, Mucondo, Muchaluando, Onzo, Nambuangongo; a terceira,(CC 158+), com base na região de Ambriz, avançaria na direcção nascente por Zala, Onzo, Nambuangongo.

Deslocamento para as zonas de reunião
Em 8/9 de Junho o BC 96 deixara Luanda, indo sedear-se na região de Úcua, onde levou a efeito algumas operações iniciais de exploração da zona. Numa tentativa de se aproximar da Pedra Verde, (a mítica Pedra Verde, onde se dizia que existiam galerias subterrâneas, para abrigo dos "terroristas"), ao atingir o local denominado por "as correntes", por ali existirem dois grandes pilares em cimento, ladeando a picada, e ligados por grossas correntes de ferro, o seu avanço foi travado por forte resistência inimiga que lhe causou baixas significativas, perdendo mesmo algum armamento para o inimigo. Estas "correntes" numa picada em plena floresta, tem uma estória , no mínimo, curiosa. Os senhores de Úcua eram os famosos Cunha e Irmão, grandes produtores de cisal, extração de madeiras e detentores de grandes plantações de café, de que sobressaía a Fazenda QUIBABA, de que falaremos mais tarde. Em Quissacala da Pedra Verde existiam muitos autóctones produtores de café com grande sucesso e que já dispunham de viaturas automóveis. A picada que servia Quissacala atravessava parte da Fazenda Quibaba (produtora de madeira e café) e isso desagradava a "Cunha & Irmão". Estes resolveram impedir a passagem a viaturas, colocando as tais correntes.
O certo é que o BC 96(+) não entrou e teve de contornar por Pedro Boa (estrada asfaltada) e seguir por Muxaluando rumo a Nambuangongo.

Na região do Ambriz estava tambem constituída uma unidade de combate: A Companhia de Cavalaria 158, reforçada com armas pesadas e sapadores, (CC 158+), a qual de oeste para leste rumou tambem ao objectivo, Nambuangongo.

Entretanto O BC 114, fazia os preparativos em Luanda e em 26 de Junho dava início ao deslocamento para a sua zona de reunião em Mabubas e Caxito.
Por não existirem viaturas suficientes o deslocamento foi feito em regime de vai e vem, decorrendo a operação três dias: em 28 estava finalizada e as companhias 116 e 117 acantonaram nas Mabubas, junto do Comando do Batalhão e a CC 115 acantonou no Caxito, nuns casarões de quinta já antigos.

Nota: Vidè mapa supra com a indicação das unidades e sua localização.

domingo, 15 de junho de 2008

CC 115 -Luanda de 09 a 26 de Junho de 1961

Ambiente Físico e Social em Luanda



Luanda era uma cidade em franco progresso devido à influência da exportação de café, produzido sobretudo no norte de Angola: apresentava já algumas avenidas bem delineadas e viam-se construções de prédios por todo o lado.
Só que os acontecimentos dos últimos meses, desde 4 de Fevereiro e sobretudo de 16 de Março, tinham paralizado completamente a actividade económica e as populações branca e negra, até há pouco convivendo e relacionando-se com naturalidade, estavam agora separadas por um ódio recíproco que os impedia de se relacionar e conviver uns com os outros, por temor e desconfiança. Aos atos de terror nas Fazendas do Norte, levados a efeito pela UPA, sobre brancos e negros, (bailundos), trabalhadores contratados na região do Bailundo para a safra do café, seguiram-se as represálias por todos os meios e os musseques de Luanda foram campo fértil de atrocidades, agora cometidas por brancos armados e organizados em milícias ad hoc.
Por isto tudo a cidade parecia uma cidade fantasma, sobretudo a partir do fim da tarde, em que alguns negros de mais confiança ou mais afoitos recolhiam aos musseques, regressando do trabalho doméstico. Frequentemente se ouviam tiros de arma de guerra.
Com a presença da tropa a confiança das populações quer branca quer negra, começou a regressar e, quando saimos para o Caxito em 26 de Junho, o clima já era bem diferente: o convívio entre etnias foi retomado e as obras e trabalhos na cidade recomeçaram,regressando ao ritmo normal.
CC 115 - Operacionalidade e Preparação para a Intervenção
O material que ía chegando ao cais de Luanda vindo de Lisboa, era atribuído às subunidades a que se destinava e a CC 115 tambem recebeu o seu.
Segundo o relatório oficial, "o material destinado à 115 vinha em péssimo estado, sobretudo os equipamentos e espingardas, tendo estas sido substituídas por outras, igualmente "mauser", mas de modêlo mais recente, que estavam no Liceu e pertenciam à Província". Havia metralhadoras com percutores partidos e outras com "faltas oficiais" no seu completo.
Relativamente a viaturas, vinham com aspecto bom, mas cedo se verificou que eram viaturas com muito uso vindo este aspecto a revelar-se um dos mais difíceis de resolver e que mais problemas causou durante a campanha, quer no reabastecimento, quer nas operações de combate propriamente ditas.
À CC 115 foram atribuídas uma cozinha rodada, carro de água, viatura de transportes gerais, dois ou três jeeps Willys de 1/4 Ton e 4 ou 5 jeepões Dodge de 3/4 Ton.

Duas cozinhas rodadas, do modêlo que foi atribuído à CC 115

Atrelado de água, rebocado por jeep de 1/4 de Ton

Carro sanitário

Atrelado sanitário



Três viaturas iguais às que foram atribuídas à CC 115: jeep de 1/4 Ton, jeepão Dodge de 3/4 Ton e viatura de transportes gerais. Todas estas viaturas rebocam os respectivos atrelados.

Não havia viaturas em número suficiente para deslocar a Companhia e ao nível do Batalhão o problema era o mesmo. Foi necessário recorrer a viaturas emprestadas pela Guarnição normal de Luanda e recorrer a viaturas civis alugadas, quando foi da deslocação do Batalhão para a zona de Caxito-Mabubas e mesmo assim, ainda houve que recorrer ao sistema de vai-vem, isto é as viaturas que levavam uma companhia voltavam atràs para transportar outra, até que todo o Batalhão estivesse na área pretendida.

CC 115 - Instrução e operacionalidade das tropas
Durante o período passado em Luanda a instrução do pessoal consistiu especialmente na preparação física e mental, (motivação anímica e desenvolvimento do espírito de corpo), e no aperfeiçoamento de técnica de tiro, sobretudo numa modalidade nova que parecia a mais adequada ao ambiente esperado, o tiro à caçador ou tiro instintivo. Isto porque se previa a necessidade de fazer tiro em ambientes muito restritos e limitados, devido à grande densidade da floresta.
Por estes motivos, tambem nos deslocamentos, que se previam longos e frequentes, a tática a adotar trazia novidades: a reação rápida a uma emboscada poderia não ser a de saltar das viaturas, mas sim a execução de fogo imediatamente a partir das próprias viaturas, o que revelava uma vulnerabilidade imediata devido à exposição dos combatentes, de peito aberto sobre as mesmas
Concluiu-se daí a necessidade de obter uma proteção mínima, mas imediata, ainda sobre as viaturas. Isso significava blindagem, mas as viaturas eram ligeiras e sem qualquer proteção nesse sentido. Por outro lado não havia materiais disponíveis e adequados para o efeito. Depois de alguma discussão sobre o tema, foi decidido improvisar blindagens com chapas de bidons de 200 litros abertos e colocadas nas viaturas lateralmente, fazendo uma espécie de caixa que se enchia de areia ou terra vulgar. Esta artimanha tinha o inconveniente de sobrecarragar as viaturas, limitando-lhes as capacidades de carga e manobra, mas oferecia alguma proteção contra tiros tensos e de proximidade, sobretudo de canhangulos. O condutor, elemento especialmente visado pelo In, (inimigo), era protegido lateralmente por uma chapa de ferro de 2 ou 3 mm. A segurança oferecida era mais psicológica do que real e, por isso, a parte traseira da viatura ficava aberta e sem qualquer obstáculo para permitir o abandono desta o mais rápidamente possível. Como uma imagem vale mais do que mil palavras, segue-se uma foto da viatura da 1ª Secção de atiradores do 3º Pelotão, em ordem de marcha, tirada no dia 14 de Julho, à saída de Mabubas, rumo a Quicabo.



Quanto à operacionalidade das tropas e sua preparação remota fora muito deficiente, atendedendo sobretudo ao facto de muios dos militares serem oriundos dos serviços e não de unidades operacionais. O relatório oficial refere mesmo um caso de uma companhia cujo pessoal, após um ligeiro exercício de ocupação e organização do terreno em posição defensiva, depois de fazer alguns pequenos abrigos, ficou completamente exausto.



Diz ainda o referido relatório: "Algum tempo depois da estadia na região de CAXITO - MABUBAS, o Comando concluiu que, das CCaç, a melhor preparada, física e técnicamente, era a CCaç 115 e que, embora o moral geral fosse muito bom, era, também a 115 a mais entusiasta."



A avaliar pelo aspecto revelado pela foto supra da 1ª Secção do 3º Pel da CC 115, parece que a referida conclusão do Comando estava bem fundamentada.

Outro aspecto a que foi dada muita atenção, no que se refere à instrução, foram as transmissões.






Sobre este assunto dou a palavra ao Camarada Valadas Horta, um expert na matéria e que conta na primeira pessoa a sua experiência:
A Equipa das Trasmissões da "115"
Constituição:Chefe – 2º. Sargento Martins;Radiotelegrafistas:1ºs. Cabos: 2199/60, Ribeiro; 2202/60, Xavier; 2200/60, Horta; 2201/60, Correia.Soldados: 2203/60, Pereira; 1455/60,Garcia; 12/60, Lemos; 2204/60, Silva.Cifrador:1º. Cabo 20/60, Sá. A codificação de mensagens estava a seu cargo. Elemento discreto, metódico de qualidades pessoais de educação e sociabilidade destacáveis.Nota: A equipa das transmissões da “115” criou dentro de si um vínculo de amizade e de solidariedade muito forte. O seu trabalho também concorreu para o prestígio alcançado pela “115”.∞No Caxito, os radiotelegrafistas da CC 115 receberam instrução dos equipamentos de transmissões com que iriam trabalhar, do diagrama de redes e indicativos de chamada, da autenticação das mensagens e, de um modo geral, das regras e procedimentos de uma rede rádio.Ficamos a conhecer os equipamentos atribuídos à Companhia:O E/R ANGRC-9, normalmente instalado em local fixo ou em viaturas. Por vezes, em operações apeadas era transportado às costas. O seu completo em termos de acessórios, era composto por uma enorme Unidade de Alimentação, um Gerador Manual, a respectiva antena, chave de morse, micro, auscultadores, etc., mobilizando quase sempre duas ou três pessoas no seu transporte. Este equipamento, a trabalhar em HF, cujo comportamento do sinal de emissão atinge e se reflecte nas altas camadas atmosféricas, era um óptimo equipamento desde que fosse devidamente sintonizado e fossem seleccionadas as frequências diurnas e nocturnas. A antena horizontal deste equipamento estava preparada e aferida tendo em conta a frequência em que se pretendesse trabalhar. Devidamente instalado, cobria todo o território de Angola, nomeadamente em grafia (morse);O E/R PRC-10 que estabelecia o contacto com os aviões no teatro de operações (não cobria grandes distâncias);O E/R CPRC-26?, portátil, apenas funcionava em linha de vista e a curta distância (tipo de comunicação que segue a curvatura da Terra – VHF)Foi ainda no Caxito que demos início à instalação de antenas verticais não verdadeiras (pedaços de verguinha de aço, utilizado no betão armado) em todas as viaturas da Companhia, a fim de evitar que as viaturas onde se encontravam instalados os meios de transmissões fossem referenciadas pelo IN (Inimigo como era considerado na altura).
No Caxito havia muitos mosquitos. A zona tem muitas palmeiras e canais de rega para o palmar e canavial de açúcar da Fazenda Tentativa, pelo que o aparecimento das "melgas" é inevitável, acrescendo ainda o calor tropical que caracteriza a região. Na Fazenda Tentativa, a cana era moída, transportava-se o sumo às caldeiras, onde era cozido e recozido, escumado e lavado, até se pôr nas formas a coalhar; na casa das fornalhas, o calor, a fumaça, o negrume, davam espanto a quem, alheio àquela espécie de trabalho, por curiosidade o contemplava. Só que, devido aos factores referidos, os mosquitos na zona do Caxito apoquentavam de tal ordem que eu fui parar à enfermaria onde levei uma injecção anti-inflamatória (penso que terá sido a última injecção dada pelo furriel enfermeiro Loureiro que faleceria em combate na emboscada de Quanda-Maúa, dias depois).



SEgue-se uma foto da epuipa de radiotelegrafistas das CC 115

segunda-feira, 9 de junho de 2008

CC 115 - Instalação provisória em Luanda



O destino das tropas expedicionárias não era Luanda, mas sim a região norte de Angola, onde os acontecimentos estavam tomando aspectos mais trágicos. Por isso a permanência na cidade foi provisória e passageira, apenas para dar tempo aos necessários preparativos de uma campanha de que não se conheciam bem os contornos, quer em dificuldade, quer em duração.

A CC 115 ficou acantonada num edifício ainda em obras de acabamento e que se destinava a acolher o Liceu Feminino de Luanda, quando estivesse pronto, o que se veio a confirmar posteriormente.
A este propósito diz o Relatório Oficial: "(1) Após o desfile, as tropas foram transportadas em camionetas, pelas ruas da cidade, para as instalações, ainda incompletamente construídas, do Liceu Feminino de Luanda.
Nas vésperas o Liceu fora abandonado pelo BC 96, ficando as CC 107 e 108, que vieram a sair poucos dias depois.
(2)Procedeu-se à distribuição do pessoal pelos alojamentos que, satisfazendo bem, do ponto de vista do arejamento, dispunham de algumas camas para o pessoal."
Deste relatório se conclui que muitos militares não tinham cama e o chão era o melhor que tinham, alem do ar, (bom arejamento), que era de graça...

CC 115 chega a Luanda

Durante a tarde do dia 8 os trabalhos a bordo já foram orientados para a preparação do desembarque em Luanda: distribuição de equipamentos, armamento e munições. Afinal não íamos para uma brincadeira. Agora era mesmo a sério.


De madrugada o N/M Niassa atracou ao cais de Luanda e, de manhã, por cerca das dez horas, depois da formatura geral das tropas e cumprimentos de boas vindas, pelo Comandante da Região Militar de Angola, estávamos a desfilar pela Avenida Marginal onde muitos milhares de pessoas aclamavam os expedicionários, cuja presença lhes inspirava a segurança de que careciam.

domingo, 8 de junho de 2008

CC 115 - Luanda à vista

Depois de tanto mar: "Já dez sois eram passados!", desde que saíramos do Cais de Alcântara, o N/M Niassa estava ao largo da Baía de Luanda. Pelas vinte e duas horas e cinquenta minutos do dia 8 de Junho de 1961, avistámos as primeiras luzes da já grande cidade de Luanda - a mítica Cidade do Café!
A notícia correu célere pelos porões e todos correram a ver os primeiros sinais de terra à vista, embora não se visse mais que umas luzes na linha do horizonte.

Cabe agora divagar sobre os nomes : ANGOLA e LUANDA.
Para tanto vou socorrer-me do meu Amigo e Companheiro de lides militares e internauticas VALHOR que no seu blog: http://valhor.blogspot.com/, apresenta trabalho de investigação com muito interesse:
"Angola:
O nome "Angola" tem raiz no termo "Ngola" que era título de um dos potentados Ambundos que existia no Antigo Reino do Ndongo, entre o Anzele, Ambaca e Pungo Andongo ( nas actuais províncias do Bengo, Kwanza Norte, Kwanza Sul e Malange) no tempo do início da expansão da influência dos portugueses sobre o Antigo Reino de Ndongo, na segunda metade do século XVI.
O termo "Ngola" tem por sua vez raiz no termo "Ngolo", o que em quimbundo (língua do povo Ambundo) significa "força", de acordo com o "Ensaio de Diccionário Kinbundu - Portuguez", preparado por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, publicado em Lisboa no ano de 1893. O mesmo termo em quicongo significa "rigor, força, fortaleza, ou robustez". Os Portugueses depreenderam assim que o Ngola era aquele que tinha força, aquele que era poderoso.
-
Luanda:
Escrito com "o" Loanda
Com a reconquista de Angola e a expulsão dos Holandeses de Angola em 1648 pela esquadra luso-brasileira sob o comando de Salvador Correia de Sá e Benevides, o nome da cidade foi mudado para "S. Paulo da Assumpção de Loanda", porque o antigo nome de Loanda tinha muita parecença com "Holanda", e em memória de Nossa Senhora da Assunção, em cujo dia (15 de Agosto de 1648) se restaurou o domínio Português sobre a colónia de Angola, é hoje feriado municipal.
Só em Abril de 1927 é que "Loanda" passou a "Luanda".
(Do Blog de Helder Ponte "Xinguila", conceituado historiador, natural de Angola, a residir no Canadá) "

sexta-feira, 6 de junho de 2008

A Estrela Polar e O Cruzeiro do Sul

Assi passando aquelas regiões
Por onde duas vezes passa Apolo,
Dous invernos fazendo e dous verões ,
.............................................................
Vimos as Ursas, a pesar de Juno,
Banharem-se nas águas de Neptuno.

Idem V-XV


Já descoberto tínhamos diante,
Lá no novo Hemisfério, nova estrela,
Não vista de outra gente, que, ignorante,
Alguns tempos esteve incerta dela.
Idem V-XIV


Aproveitando esta circunstância de termos passado o Equador e observando a nova constelação do Cruzeiro do Sul, a instrução incidiu sobre orientação nocturna, tendo como referência, agora o Polo Sul e não o Norte, como acontecia na Metrópole.
Esta instrução nocturna era mais facilmente aceite por ser muito prática e sobretudo por a noite consentir algum tempo mais fresco.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Viagem Lisboa - Luanda no N/M Niassa

"Sempre enfim para o Austro a aguda prôa,
No grandíssimo golfão nos metemos,
Deixando a Serra aspérrima Leoa,
Co'o Cabo a que "das Palmas" nome demos."
Lusíadas, V-XII

O aquecimento atmosférico e o aumento de humidade denunciavam a aproximação do Equador.
A passagem por essa linha imaginária constitui sempre motivo para comemorar pelos viajantes de qualquer embarcação que a tal se atreva. As tropas ocupantes do Niassa, não faltaram a essa praxe. Nessa região do grande golfo da Guiné, (grandíssimo golfão), o mar torna-se diferente: fica com uma cor de chumbo devido ao reflexo das núvens que são mais densas. A ondulação é de vaga muito larga e o navio adquiriu um movimento estranho, como que de pressessão, retorcendo-se como se fora feito de material flexível. Este movimento anormal do navio causava sensações de indisposição do aparelho digestivo com o reaparecimento dos vómitos dos primeiros dias.
Na área dos oficiais, 1ª classe, decorreu uma cerimónea adequada, embora sem grande brilho.
À noite houve jantar de gala, oferecido pelo Comandante de Bandeira e Tripulação do Niassa aos expedicionários embarcados. Foi a única ocasião em que vesti a farda branca.


Nem todos os oficiais tinham farda branca, como se vê



A Ementa foi de pompa, como é apanágio dos Homens do Mar

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Lisboa-Luanda - N/M Niassa

Duas fotos a bordo do Niassa, cedidas pelo Cabo Vítor Sá

terça-feira, 3 de junho de 2008

Viagem Lisboa -Luanda no N/M Niassa

Voltemos ao mar porque:
"O barco vai de viagem,
Adeus ó Cais de Alcântara!"

Fausto -Poeta Cantor.
Neste sexto dia de viagem, já teríamos passado o paralelo do Cabo Bojador e as temperaturas do ar começavam a subir acentuadamente, à medida que nos aproximamos do Equador. Por isso o pessoal passava as noites nos deks, do navio, ao ar livre, fugindo assim ao péssimo ambiente dos porões/casernas.
Entretanto tinhamos, depois da crise de enjôos do segundo e terceiro dias, passado por situações de interesse, como foram as sessões de instrução a bordo, primeiro para regular a adaptação ao ambiente a bordo e depois para dar início a instrução já orientada para a guerra e situações previsíveis em clima tropical.
No dia 31 foi exibido o filme: "As sete filhas do Sr Conde", com agrado geral da assistência, no mesmo dia tivemos conhecimento de um desastre grave com um avião em Lisboa e ainda decorreu o jogo Benfica-Barcelona, ganho pelo Benfica por 3-2.
No dia um de junho, ainda dentro do programa de recuperação dos elementos mais afectados pelo ambiente a bordo, foi exibido outro filme cómico: "Sénéchal- O magnífico".
O pessoal passava o tempo como podia. Alem das sessões de instrução, nesta altura já se jogava à "SUECA" e à "LERPA".

47º Aniversário da CC 115 - Mais umas fotos interessantes


O Valadas Horta falando às massas.











Nem todos podem exibir esta elegância

47º Aniversário da CC 115 - O Bolo


Bolo de aniversário Soprando e apagando as velas "47"


Tarefa de partir e distribuir o Bolo de aniversário

segunda-feira, 2 de junho de 2008

47º Aniversário da CC 115 - Fotos diversas

Aqui vai uma série de fotos sem qualquer critério de escolha.


Valadas Horta e a D Eugénia. Vítor Sá e Sanbento


O Homem que foi da GNR. O "Pastilhas" e o nosso "Vate"
.

Soldados VÍtor e Branquinho. Os irmãos metralhas


Arm. Guerreiro Américo P. Alves e Esposa


Os de São Martinho do Porto

47º Aniversário da CC 115 -As Esposas da CC 115


As Senhoras deram brilho ao nosso convívio.
Elas são as Companheiras que aturam as nossas rabujices e traumas nem sempre contidos.

47º Aniversário da CC 115


Para a posteridade aqui fica uma foto dos 25 magníficos que celebraram os 47 anos da CC 115, no encontro que tiveram em Loures, no dia 31 de Maio de 2008.
Clik sobre a foto para aumentar, p.f.

domingo, 1 de junho de 2008

47º Aniversário da CC 115

Enquanto decorre a evocação da viagem Lisboa - Luanda no N/M Niassa, outro episódio chama a nossa atenção no presente: a comemoração do 47º aniversário do embarque para essa viagem, que então fizemos e agora comemoramos.

Se "dez anos é muito tempo", como diz o Paulo de Carvalho, quarenta e sete anos é muito mais!

Mas nem por isso as memórias e recordações daqueles dois anos de vida anormal das nossas vidas, se apagam na nossa memória. Bem pelo contrário parece que elas são, cada vez mais vivas e fortes e mais nos chamam para reviver a amizade profunda que nos une.

A concentração teve lugar no Parque da cidade de Loures, onde decorreram os primeiros abraços, após reconhecimentos de muitos que já não se reconheciam. Mas todos se abraçaram num grande amplexo, envolvendo muitas famílias que vieram dar mais brilho e juventude ao nosso encontro.

Apesar de as actividades previstas para ocupação de tempos intermédios, não terem sido muito conseguidas, tal não causou qualquer embaraço porque não houve tempo disponível nem intermédio entre as várias acções previstas: o tempo todo, não foi muito para reviver as emoções do reencontro.

Quero agora referir algumas presenças e intervenções mais notórias de elementos mais activos.

Desde logo tenho de mencionar o Vítor Sá, o responsável directo e causador disto tudo. Depois o Subintendente Valadas Horta, homem das transmissões durante toda a sua vida e agora totalmente empenhado nas novas tecnologias da comunicação: PCs e Internet: ele desdobra-se, ele faz, é um espectáculo! Depois o Furriel Coelho, o Poeta da CC 115, que nos deliciou com um poema de sua autoria declamado com exaltante fervor, parecendo que nos estava a incitar de novo para aquela união e espírito de corpo que tão necessários e vincados foram durante os dois anos da guerra. O espírito da 115, como diz o Fernando Cardoso, e que foi criado de baixo para cima, como bem refere o Furriel Coelho.

Depois tenho de referir com admiração todos os que vieram de longe: do norte, do sul, do este e do oeste, isto é de todo o Portugal, incluindo as ilhas, muito bem representadas pela família SANBENTO, que não regateia sacrifícios para estar conosco. Alguns se associaram por mensagens, entre os quais o "Tenente" Cipriano Pinto e o "Alferes" Freitas, cuja ausência foi muito notada pelos elementos do 1º Pelotão, nomeadamente.

Não houve discursos fervorosos, muitas vezes demasiado lamechas e nem sempre oportunos. Apenas se citaram, com o respeito que nos merecem, os falecidos, de que houve conhecimento no último ano, entre os quais se destaca o Comandante, Capitão Alípio Emílio Tomé Falcão.

As emoções, que as houve com abundância, guardaram-se para os pequenos grupos que se constituiram em amena cavaqueira de recordações.

Finalmente, em geito de despedida, foi lançado o projecto para o próximo encontro que poderá ter lugar na zona norte-centro do país: ali pelo triângulo formado por Coimbra, Viseu e Serra da Estrela.

Reconfortados com a amizade mútua que se reforçou ainda mais, seguimos aos nossos destinos levando conosco os sons poéticos do Furriel Coelho!

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