quinta-feira, 5 de junho de 2008

Viagem Lisboa - Luanda no N/M Niassa

"Sempre enfim para o Austro a aguda prôa,
No grandíssimo golfão nos metemos,
Deixando a Serra aspérrima Leoa,
Co'o Cabo a que "das Palmas" nome demos."
Lusíadas, V-XII

O aquecimento atmosférico e o aumento de humidade denunciavam a aproximação do Equador.
A passagem por essa linha imaginária constitui sempre motivo para comemorar pelos viajantes de qualquer embarcação que a tal se atreva. As tropas ocupantes do Niassa, não faltaram a essa praxe. Nessa região do grande golfo da Guiné, (grandíssimo golfão), o mar torna-se diferente: fica com uma cor de chumbo devido ao reflexo das núvens que são mais densas. A ondulação é de vaga muito larga e o navio adquiriu um movimento estranho, como que de pressessão, retorcendo-se como se fora feito de material flexível. Este movimento anormal do navio causava sensações de indisposição do aparelho digestivo com o reaparecimento dos vómitos dos primeiros dias.
Na área dos oficiais, 1ª classe, decorreu uma cerimónea adequada, embora sem grande brilho.
À noite houve jantar de gala, oferecido pelo Comandante de Bandeira e Tripulação do Niassa aos expedicionários embarcados. Foi a única ocasião em que vesti a farda branca.


Nem todos os oficiais tinham farda branca, como se vê



A Ementa foi de pompa, como é apanágio dos Homens do Mar

1 comentário:

MVHorta disse...

Estaria muito longe de supôr que um passageiro do N/M Niassa que fez a viagem de Lisboa para Luanda, há 47 anos, pudesse ter guardado uma simples "ementa" do jantar (07Jun1961) oferecido pelo Comandante da embarcação, à passagem da linha do Equador.
Simplesmente, fantástico!
Sei que o homem traz naturalmente dentro de si o gosto das colecções, de guardar isto ou aquilo. Se se entregar a um desses "hobbys", quer guardando documentos quer se entregue ao coleccionismo (eu colecciono selos, moedas, medalhas, etc.)prolonga os sonhos de infância, dá corpo a algumas das aspirações de adolescente, vota a sua vida a uma finalidade cuja realização constitui prazer, porque passa melhor os seus tempos livres.
Guardar uma ementa de há 47 anos, e que tão necessária e oportuna é agora a sua publicação, só poderia ter aontecido com o meu amigo NOCA. A arte de saber guardar tem muito a ver com a sua subtil "arte de saber viver".