quarta-feira, 16 de julho de 2008

CC 115 - "COMBATE DE QUICABO" Ressaca/Recuperação

Após a tempestade, vem a bonança!
Foram momentos trágicos os vividos na manhã do dia 15 de Julho em Kuanda Maúa e já relatados.
Felizmente não houve fotografias para documentar os acontecimentos, mas podemos garantir que não houve cabeças espetadas em paus à beira dos caminhos. No BC 114 não era permitido actuar dessa maneira, embora possa não ter sido dado aos mortos do inimigo o mesmo tratamento que demos aos nossos.
Nas horas que se seguiram, fez-se a recuperação das viaturas afectadas pelo ataque inimigo e, pelo meio da tarde, a CC 115 abandonava, com todo o seu pessoal e material, o local do combate, indo acampar na base do morro denominado Kuanda Maúa, à beira da picada, partilhando o espaço com a CC 117.
Ali se passou a noite, cada um como pode: uns debaixo, outros ao lado, outros sobre as viaturas colocadas em círculo com as frentes para fora. Os condutores dormiram nos seus locais de condução para, em caso de alerta de ataque do exterior acenderem as luzes a fim de iluminar o campo de tiro. Cada secção de caçadores, mantinha uma vigia de sentinela.
A noite passou sem sobressaltos, a não ser os ruídos nocturnos da floresta: os animais noctívagos e os necrófagos, não se fizeram rogados e começaram de imediato os seus festins de orgia selvagem.
Ao acordar no dia seguinte, dezasseis, recordo perfeitamente a imagem algo confusa e desolada de quase todos, a comentar factos em que parecia nem queriam acreditar, mas que tinham sido bem reais. Ali estava o atrelado de 3/4 ton cheio de canhangulos, catanas e outras armas recolhidas após a refrega.
Deu-se entretanto um fenómeno curioso: talvez por termos visto os corpos mortos do inimigo e termos capturado aqueles troféus de guerra, ali presentes, o espírito de corpo que antes já era forte, reforçou-se ainda mais e todos começaram a dar força a todos - tinha sido o nosso baptismo de fogo e , por sinal, bem cruento e isso estabeleceu entre todos como que um pacto de sangue.
Daqui para diante nada será como dantes! Por sugestão dos condutores auto as viaturas passaram a ostentar uma flâmula espetada num pau, e a 115 passou a ser a Companhia das Bandeirinhas - "AD OMNIA PARATI!"

Nota do Bloguer -Não resisto a incorporar no blog o comentário deixado na respectiva caixa por MVHorta, pela sintonia que revela com a última parte do post anterior.

MVHorta disse...
À hora do pequeno almoço do dia 14Jul, a CC 115, era constituída por 180 militares:Comando=26; Pelotão de Comando=40; 1º.Pelotão=38; 2º.Pelotão=38; 3º. Pelotão=38.

No dia 15Jul, a CC 115, sofreu 20 baixas: faleceram em combate 6 militares e ficaram feridos 14.

No dia 16Jul, à hora do pequeno almoço (simbólico), não obstante o vazio que se fazia sentir, éramos os mesmos 180!Houve mais baixas durante a Campanha.Os corpos dos militares mortos, inacreditavelmente, ficaram por lá (Angola)!

Hoje, e enquanto um de nós estiver vivo, seremos exactamente os mesmos 180 !!!
Quarta-feira, 16 Julho, 2008


HOMENAGEM AOS MORTOS DA CC 115
Homens da "115"
Os homens da “115” viveram emoções, ansiedades, tristezas, incertezas, expectativas, medo, mágoas. Sentiram de tudo nessa grande agitação de sentimentos. É que nem todos regressaram. Esses deram o bem mais precioso que possuíam - A VIDA.
Evoco, desde já, o respeito e a saudade, perante a memória de todos esses nossos companheiros que tombaram ao nosso lado.
Publicada por MVHorta

Cemitério de Luanda-Imagem capturada no blog de VLHORTA



PLACA DE HOMENAGEM NA ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA
Foto cedida pelo 1º Cabo Cifrador Vítor Hugo de Sá

2 comentários:

MVHorta disse...

Há hora do pequeno almoço do dia 14Jul, a CC 115, era constituída por 180 militares:
Comando=26; Pelotão de Comando=40; 1º.Pelotão=38; 2º.Pelotão=38; 3º. Pelotão=38.
No dia 15Jul, a CC 115, sofreu 20 baixas: faleceram em combate 6 militares e ficaram feridos 14.
No dia 16Jul, à hora do pequeno almoço (simbólico), não obstante o vazio que se fazia sentir, éramos os mesmos 180!
Houve mais baixas durante a Campanha.
Os corpos dos militares mortos, inacreditavelmente, ficaram por lá (Angola)!
Hoje, e enquanto um de nós estiver vivo, seremos exactamente os mesmos 180 !!!

MVHorta disse...

No acantonamento de Quanda Maúa:
Perante os vários condicionamentos os CMDTs das Companhias Operacionais do "114" (115, 116 e 117), procederam conjuntamente ao estudo da situação e paralelamente traçaram o esquema (possível):
Tratar de problemas relacionados com o apoio logístico; hipóteses pertinentes; planeamentos de emergência e de alternativa e fornecer ao CMDT do BAT, o resultado do estudo/conceito da operação, sobre a forma como estava a ser conduzida.
Entretanto e como era de esperar, nem tudo estava a correr bem. Muito pelo contrário. O pessoal e as viaturas estavam confinados a um espaço limitadíssimo e sem alternativa possível; o medo de outro ataque inesperado, pairava no ar; da densa mata que nos rodeava parecia que as canhanguladas poderiam surgir de um momento para o outro; as temperatuas eram elevadíssimas e os mosquitos ("a força aérea dos turras" - Voz da Caserna) apoquentavam; a saturação, o mau abastecimento, a tensão nervosa que se fazia sentir; a falta de água para matar a sede - comida quente = a zero (0) - e as rações de combate "Rações E", com a bolacha de água e sal, queijo, lata de atum e de sardinha, embalagem de "knorr", a puxar por água (1 cantil de 1L/"racionado"); de longe a longe macarrão com chouriço e ou marmelada; a desorganização na retaguarda foi também um dos factores que concorreu para elevar a tensão nervosa, minimizada pela grande generosidade e capacidade de sofrimento do soldado português.
Toda a gente receou o pior porque o fedor em redor do acampamento tornava a atmosfera irrespirável. Felizmente que nenhuma epidemia daí resultou. Teria sido uma catástrofe.