Foram momentos trágicos os vividos na manhã do dia 15 de Julho em Kuanda Maúa e já relatados.
Felizmente não houve fotografias para documentar os acontecimentos, mas podemos garantir que não houve cabeças espetadas em paus à beira dos caminhos. No BC 114 não era permitido actuar dessa maneira, embora possa não ter sido dado aos mortos do inimigo o mesmo tratamento que demos aos nossos.
Nas horas que se seguiram, fez-se a recuperação das viaturas afectadas pelo ataque inimigo e, pelo meio da tarde, a CC 115 abandonava, com todo o seu pessoal e material, o local do combate, indo acampar na base do morro denominado Kuanda Maúa, à beira da picada, partilhando o espaço com a CC 117.
A noite passou sem sobressaltos, a não ser os ruídos nocturnos da floresta: os animais noctívagos e os necrófagos, não se fizeram rogados e começaram de imediato os seus festins de orgia selvagem.
Ao acordar no dia seguinte, dezasseis, recordo perfeitamente a imagem algo confusa e desolada de quase todos, a comentar factos em que parecia nem queriam acreditar, mas que tinham sido bem reais. Ali estava o atrelado de 3/4 ton cheio de canhangulos, catanas e outras armas recolhidas após a refrega.
Deu-se entretanto um fenómeno curioso: talvez por termos visto os corpos mortos do inimigo e termos capturado aqueles troféus de guerra, ali presentes, o espírito de corpo que antes já era forte, reforçou-se ainda mais e todos começaram a dar força a todos - tinha sido o nosso baptismo de fogo e , por sinal, bem cruento e isso estabeleceu entre todos como que um pacto de sangue.
Daqui para diante nada será como dantes! Por sugestão dos condutores auto as viaturas passaram a ostentar uma flâmula espetada num pau, e a 115 passou a ser a Companhia das Bandeirinhas - "AD OMNIA PARATI!"
Nota do Bloguer -Não resisto a incorporar no blog o comentário deixado na respectiva caixa por MVHorta, pela sintonia que revela com a última parte do post anterior.
MVHorta disse...
À hora do pequeno almoço do dia 14Jul, a CC 115, era constituída por 180 militares:Comando=26; Pelotão de Comando=40; 1º.Pelotão=38; 2º.Pelotão=38; 3º. Pelotão=38.
No dia 15Jul, a CC 115, sofreu 20 baixas: faleceram em combate 6 militares e ficaram feridos 14.
No dia 16Jul, à hora do pequeno almoço (simbólico), não obstante o vazio que se fazia sentir, éramos os mesmos 180!Houve mais baixas durante a Campanha.Os corpos dos militares mortos, inacreditavelmente, ficaram por lá (Angola)!
Hoje, e enquanto um de nós estiver vivo, seremos exactamente os mesmos 180 !!!
Quarta-feira, 16 Julho, 2008
HOMENAGEM AOS MORTOS DA CC 115
Homens da "115"
Os homens da “115” viveram emoções, ansiedades, tristezas, incertezas, expectativas, medo, mágoas. Sentiram de tudo nessa grande agitação de sentimentos. É que nem todos regressaram. Esses deram o bem mais precioso que possuíam - A VIDA.
Publicada por MVHorta
Cemitério de Luanda-Imagem capturada no blog de VLHORTA
PLACA DE HOMENAGEM NA ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA
Foto cedida pelo 1º Cabo Cifrador Vítor Hugo de Sá
2 comentários:
Há hora do pequeno almoço do dia 14Jul, a CC 115, era constituída por 180 militares:
Comando=26; Pelotão de Comando=40; 1º.Pelotão=38; 2º.Pelotão=38; 3º. Pelotão=38.
No dia 15Jul, a CC 115, sofreu 20 baixas: faleceram em combate 6 militares e ficaram feridos 14.
No dia 16Jul, à hora do pequeno almoço (simbólico), não obstante o vazio que se fazia sentir, éramos os mesmos 180!
Houve mais baixas durante a Campanha.
Os corpos dos militares mortos, inacreditavelmente, ficaram por lá (Angola)!
Hoje, e enquanto um de nós estiver vivo, seremos exactamente os mesmos 180 !!!
No acantonamento de Quanda Maúa:
Perante os vários condicionamentos os CMDTs das Companhias Operacionais do "114" (115, 116 e 117), procederam conjuntamente ao estudo da situação e paralelamente traçaram o esquema (possível):
Tratar de problemas relacionados com o apoio logístico; hipóteses pertinentes; planeamentos de emergência e de alternativa e fornecer ao CMDT do BAT, o resultado do estudo/conceito da operação, sobre a forma como estava a ser conduzida.
Entretanto e como era de esperar, nem tudo estava a correr bem. Muito pelo contrário. O pessoal e as viaturas estavam confinados a um espaço limitadíssimo e sem alternativa possível; o medo de outro ataque inesperado, pairava no ar; da densa mata que nos rodeava parecia que as canhanguladas poderiam surgir de um momento para o outro; as temperatuas eram elevadíssimas e os mosquitos ("a força aérea dos turras" - Voz da Caserna) apoquentavam; a saturação, o mau abastecimento, a tensão nervosa que se fazia sentir; a falta de água para matar a sede - comida quente = a zero (0) - e as rações de combate "Rações E", com a bolacha de água e sal, queijo, lata de atum e de sardinha, embalagem de "knorr", a puxar por água (1 cantil de 1L/"racionado"); de longe a longe macarrão com chouriço e ou marmelada; a desorganização na retaguarda foi também um dos factores que concorreu para elevar a tensão nervosa, minimizada pela grande generosidade e capacidade de sofrimento do soldado português.
Toda a gente receou o pior porque o fedor em redor do acampamento tornava a atmosfera irrespirável. Felizmente que nenhuma epidemia daí resultou. Teria sido uma catástrofe.
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