Depois de hesitar sobre a designação a dar ao episódio de guerra ocorrido em 15 de Julho de 1961, no sítio de Kuanda Maúa, entre Anapasso e Quicabo, resolvi adoptar este: "COMBATE DE QUICABO", como lhe chamaram os elementos da UPA. Efectivamente não foi uma batalha porque não houve duas forças a enfrentar-se em campo aberto e bem definido para cada parte; não foi um torneio porque não houve mesmo desportivismo nenhum; nem foi uma emboscada no sentido clássico do termo, embora o inimigo surgisse do bosque (floresta), mas onde não tinha qualquer organização do terreno; portanto foi um encontro de surpresa de duas forças em movimento, sem preparação imediata da parte dos dois contendores e assim "COMBATE DE QUICABO" parece-me uma boa expressão, até porque Kuanda Maúa, nome do morro próximo é difícil de dizer.
Como eu vivi e recordo o COMBATE DE QUICABO:
Pelas seis da manhã de 15 de Julho de 1961, junto à Ponte do Lifune, em Anapasso, dada a alvorada começou a preparação acelerada para a partida em direcção a Quicabo. As viaturas já estavam posicionadas na picada e após a preparação individual de cada um, em breve a Companhia estava pronta para partir. Era uma coluna de mais de vinte viaturas, em que se integrava toda a parte operacional e logística. Nas viaturas com tropa operacional, os militares dispunham-se no banco longitudinalmente sentados, de costas com costas, virados para fora e prontos para atirar ou saltar da viatura, conforme as circunstâncias,
Pelas sete horas, quando tudo estava pronto, chegou a notícia, via rádio, que a CC 117 estava a ser atacada no seu acampamento improvisado na base do morro Kuanda Maúa. Esta notícia acelerou mais a ordem de partida, agora com o objectivo imediato de apoiar aquela subunidade do nosso batalhão.
Recordo perfeitamente as últimas palavras que dirigi ao meu pessoal, antes da partida: -ajustem bem os capacetes, armem baioneta, e tomem a maior atenção para os lados da picada, prontos a receber tiros a qualquer momento!
Por uma picada estreita que mal permitia a passagem de uma viatura, ladeada por capim alto que acariciava as cabeças dos militares caindo sobre as viaturas, e seguido de floresta densa e aparentemente impenetrável, percorremos cerca de 4 quilómetros.
Como eu vivi e recordo o COMBATE DE QUICABO:
Pelas seis da manhã de 15 de Julho de 1961, junto à Ponte do Lifune, em Anapasso, dada a alvorada começou a preparação acelerada para a partida em direcção a Quicabo. As viaturas já estavam posicionadas na picada e após a preparação individual de cada um, em breve a Companhia estava pronta para partir. Era uma coluna de mais de vinte viaturas, em que se integrava toda a parte operacional e logística. Nas viaturas com tropa operacional, os militares dispunham-se no banco longitudinalmente sentados, de costas com costas, virados para fora e prontos para atirar ou saltar da viatura, conforme as circunstâncias,
Pelas sete horas, quando tudo estava pronto, chegou a notícia, via rádio, que a CC 117 estava a ser atacada no seu acampamento improvisado na base do morro Kuanda Maúa. Esta notícia acelerou mais a ordem de partida, agora com o objectivo imediato de apoiar aquela subunidade do nosso batalhão.
Recordo perfeitamente as últimas palavras que dirigi ao meu pessoal, antes da partida: -ajustem bem os capacetes, armem baioneta, e tomem a maior atenção para os lados da picada, prontos a receber tiros a qualquer momento!
Por uma picada estreita que mal permitia a passagem de uma viatura, ladeada por capim alto que acariciava as cabeças dos militares caindo sobre as viaturas, e seguido de floresta densa e aparentemente impenetrável, percorremos cerca de 4 quilómetros.
A dado momento, junto a um embondeiro muito grande que ficou depois como referência do local, a frente da coluna, depois de sofrer muitos tiros de canhangulos e armas ligeiras, foi positivamente assaltada por vagas sucessivas de combatentes, (ditos então terroristas), da UPA, armados de punhais, catanas, pistolas artesanais carregadas com pequenos ferros, fisgas e, por entre as viaturas, deambulava um ou dois indivíduos, (presumivelmente feiticeiros, ou amestrados por feiticeiros para o efeito), que traziam pequenos sacos com pedrinhas, que atiravam aos soldados, acreditando que se os tocassem eles ficariam neutralizados.
Eu ia numa viatura a meio da coluna e a primeira impressão que tive foi que, de facto havia um ataque, mas não sabia donde vinham os tiros, por isso todo o pessoal saltou para o chão e respondeu ao fogo com a violência possível na direcção da mata.
Só passados alguns minutos houve uma percepção concreta do que se estava a passar e que afinal era um ataque localizado na frente da coluna. Concentrado o esforço nessa direcção, o ataque continuou por muito tempo, sucedendo-se avanços e recuos por parte do In, com grande determinação e violência.
Os nossos soldados bateram-se com grande valor: após responderem a tiro à primeira tentativa de assalto do inimigo, porque não voltaram a poder carregar as suas espingardas mauser, arma de repetição, fizeram uso das baionetas das espingardas, que, neste caso, foram muito eficazes: 3 delas ficaram danificadas devido ao uso que se lhes deu.
Para definição final da contenda muito contribuiram três armas estrategicamente colocadas e que batiam o In com grande eficácia: refiro-me a uma metralhadora Breda instalada num jeep de 1/4 ton, um morteiro 60mm utilizado com grande mestria em tiro quase vertical, pelo Tenente Cipriano Pinto e a Bazooka do Cabo Teófilo.
O In revelou boa organização, com equipas de combatentes e missões bem definidas, devidamente comandados e incitados pelos respectivos comandantes: a uma vaga de canhangulos e armas ligeiras (armas finas, como eles diziam), que visaram sobretudo órgãos sensíveis das viaturas, (depósitos de combustível,radiadores e pneus), seguiram-se os combatentes com catanas e punhais na luta corpo a corpo, incitados por gritos de UPA... UPA...! e Wassa... Wassa! (Na altura interpretámos estes incitamentos como, UPA... UPA....! Mata...Mata, mas hoje sabemos que era antes um incitamento dizendo que as armas portuguesas disparavam água, Wassa em quimbundo). Os combatentes da UPA vinham como que drogados e mentalizados para a luta com ideias erradas sobre as armas dos soldados portugueses, (nomeadamente que estas disparavam água). Isto a acrescer à mentalização feita pelos pregadores, (pastores), protestantes evangelistas, que garantiam a ressurreição dos que morressem em combate, e ainda à acção dos feiticeiros, com forte poder sobre as populações da região.
Outras equipas tinham a missão de capturar material, pois que saltaram para as viaturas e tentaram roubar armas e sobretudo cunhetes de munições, tendo alguns sido mortos quando já transportavam algum material, gorando os seus intentos.
Hoje, não temos bem noção do tempo que terá durado a refrega, mas certamente terá durado mais de trinta minutos, Seguiu-se depois a recolha dos mortos e feridos e respectiva evacuação para a retaguarda, operação que durou bastante tempo, dada a dificuldade de manobra das próprias pessoas apeadas por entre as viaturas, espaço pejado de mortos e feridos, de ambos os lados. Lembro-me especialmente do Durval, completamente nok out e com o capacete rachado por uma catanada certeira e outro, o Carlos Pires, condutor da viatura que seguia na testa da coluna e que levava a seu lado o civil, guia, de nome Álvaro, bem como o furriel Enfermeiro que foi uma das vítima mortais. O condutor Carlos Pires, alvo principal da fúria dos atacantes ficou com as costas abertas, por efeito de outra catanada, desde o ombro até à zona dorsal oposta, por onde saía o pulmão ao respirar. Felizmente qualquer deles recuperou e estão ainda entre nós, os dois condecorados com a Cruz de Guerra.
A recolha e transporte dos mortos e feridos em panos de tenda, até à retaguarda, foi traumatizante e de grande risco para os feridos, porque aos mortos, já nada havia a fazer, senão respeitar a sua memória.
O 2º Pelotão do comando do Alferes Barreto, que seguia na testa da coluna, sofreu, de facto o grande embate e dureza do ataque inimigo, tendo respondido com grande valor e audácia. Ficou, no entanto, praticamente dizimado, pois teve mais de vinte baixas: seis mortos e uns dezoito feridos graves.
Eu ia numa viatura a meio da coluna e a primeira impressão que tive foi que, de facto havia um ataque, mas não sabia donde vinham os tiros, por isso todo o pessoal saltou para o chão e respondeu ao fogo com a violência possível na direcção da mata.
Só passados alguns minutos houve uma percepção concreta do que se estava a passar e que afinal era um ataque localizado na frente da coluna. Concentrado o esforço nessa direcção, o ataque continuou por muito tempo, sucedendo-se avanços e recuos por parte do In, com grande determinação e violência.
Os nossos soldados bateram-se com grande valor: após responderem a tiro à primeira tentativa de assalto do inimigo, porque não voltaram a poder carregar as suas espingardas mauser, arma de repetição, fizeram uso das baionetas das espingardas, que, neste caso, foram muito eficazes: 3 delas ficaram danificadas devido ao uso que se lhes deu.
Para definição final da contenda muito contribuiram três armas estrategicamente colocadas e que batiam o In com grande eficácia: refiro-me a uma metralhadora Breda instalada num jeep de 1/4 ton, um morteiro 60mm utilizado com grande mestria em tiro quase vertical, pelo Tenente Cipriano Pinto e a Bazooka do Cabo Teófilo.
O In revelou boa organização, com equipas de combatentes e missões bem definidas, devidamente comandados e incitados pelos respectivos comandantes: a uma vaga de canhangulos e armas ligeiras (armas finas, como eles diziam), que visaram sobretudo órgãos sensíveis das viaturas, (depósitos de combustível,radiadores e pneus), seguiram-se os combatentes com catanas e punhais na luta corpo a corpo, incitados por gritos de UPA... UPA...! e Wassa... Wassa! (Na altura interpretámos estes incitamentos como, UPA... UPA....! Mata...Mata, mas hoje sabemos que era antes um incitamento dizendo que as armas portuguesas disparavam água, Wassa em quimbundo). Os combatentes da UPA vinham como que drogados e mentalizados para a luta com ideias erradas sobre as armas dos soldados portugueses, (nomeadamente que estas disparavam água). Isto a acrescer à mentalização feita pelos pregadores, (pastores), protestantes evangelistas, que garantiam a ressurreição dos que morressem em combate, e ainda à acção dos feiticeiros, com forte poder sobre as populações da região.
Outras equipas tinham a missão de capturar material, pois que saltaram para as viaturas e tentaram roubar armas e sobretudo cunhetes de munições, tendo alguns sido mortos quando já transportavam algum material, gorando os seus intentos.
Hoje, não temos bem noção do tempo que terá durado a refrega, mas certamente terá durado mais de trinta minutos, Seguiu-se depois a recolha dos mortos e feridos e respectiva evacuação para a retaguarda, operação que durou bastante tempo, dada a dificuldade de manobra das próprias pessoas apeadas por entre as viaturas, espaço pejado de mortos e feridos, de ambos os lados. Lembro-me especialmente do Durval, completamente nok out e com o capacete rachado por uma catanada certeira e outro, o Carlos Pires, condutor da viatura que seguia na testa da coluna e que levava a seu lado o civil, guia, de nome Álvaro, bem como o furriel Enfermeiro que foi uma das vítima mortais. O condutor Carlos Pires, alvo principal da fúria dos atacantes ficou com as costas abertas, por efeito de outra catanada, desde o ombro até à zona dorsal oposta, por onde saía o pulmão ao respirar. Felizmente qualquer deles recuperou e estão ainda entre nós, os dois condecorados com a Cruz de Guerra.
A recolha e transporte dos mortos e feridos em panos de tenda, até à retaguarda, foi traumatizante e de grande risco para os feridos, porque aos mortos, já nada havia a fazer, senão respeitar a sua memória.
O 2º Pelotão do comando do Alferes Barreto, que seguia na testa da coluna, sofreu, de facto o grande embate e dureza do ataque inimigo, tendo respondido com grande valor e audácia. Ficou, no entanto, praticamente dizimado, pois teve mais de vinte baixas: seis mortos e uns dezoito feridos graves.
O In teve mais de cento e cinquenta mortos, reconhecidos pela própria UPA em documento do Destacamento de Quicabo, assinada por Filipe João Neto, que transcreverei abaixo, alem dos feridos que foram morrendo pelo caminho, como eu próprio tive oportunidade de verificar em reconhecimento passado um mês, em que fui encontrar cadáveres a mais de um quilómetro dali, ainda com os canhangulos por perto. o que parece dizer que não houve recuperação de feridos e muito menos de mortos.
Este é o célebre EMBONDEIRO de Quanda-Maúa, visto de norte para sul, ou seja a CC 115 deslocava-se de lá para cá, que foi testemunha muda dos acontecimentos de 15JUL61.
Repare-se no diâmetro do tronco por comparação com o caminho.
Se pensarmos que nesta “picada”, agora já alargada e limpa de mato até mais de vinte metros para cada lado, podem cruzar-se duas viaturas em movimento, é fácil compreender que o tronco da árvore não terá menos de seis metros de diâmetro.
Pelo mesmo raciocínio concluiremos que a altura rondará os 40 a 50 metros, e que o diâmetro máximo da copa medirá mais de 50.
A seta indica a direcção donde vieram os atacantes que se lançaram sobre as primeiras viaturas da coluna militar, precisamente neste troço visível da picada, que então era um trilho estreito, ladeado por mato e capim alto, caindo sobre as viaturas.
Embondeiro.. De clima tropical,Repare-se no diâmetro do tronco por comparação com o caminho.
Se pensarmos que nesta “picada”, agora já alargada e limpa de mato até mais de vinte metros para cada lado, podem cruzar-se duas viaturas em movimento, é fácil compreender que o tronco da árvore não terá menos de seis metros de diâmetro.
Pelo mesmo raciocínio concluiremos que a altura rondará os 40 a 50 metros, e que o diâmetro máximo da copa medirá mais de 50.
A seta indica a direcção donde vieram os atacantes que se lançaram sobre as primeiras viaturas da coluna militar, precisamente neste troço visível da picada, que então era um trilho estreito, ladeado por mato e capim alto, caindo sobre as viaturas.
Xerófila vegetal,
Eu sou !
Eu sou...
De corpo cavernoso
E tronco garrafal
Enorme. Não formoso,
Árido, descomunal,
De ramos levantados,
(Erguidos pr'os céus)
Nus (de folhas despidos),
Rigando preces a Deus
Estou!
Às chuvas, aos ventos...
Titã rofo, rigente,
De andrajos vestido.
Meu fruto, meu rebento,
Em meus braços detido,
Lembra rato pendente
Pelo rabo sustido.
Em campo desolado
De vastidão sem fim,
Meu corpo se ergueu,
Cresceu... cresceu...
E a meu lado o capim.
Que tristeza! Que solidão!
Se me vem... olham... olham...
Miram... remiram e passam.
Desilusão!
Em minha sombra não descansam!
De corpo hirto descomunal,
Informe (por vezes rachado)...
Lanço os meus braços aos céus
E grito! Oh meu Deus
Antes fosse rasteiro
Pasto de animal!
Não! ... serei o que sou enorme...
Alto, disforme...
Até no nome sou enorme...
EMBONDEIRO!... EMBONDEIRO
Eu sou!
IGOR(cópia do Jornal O Dragão nº 2 de Setembro de 1966)
Segue-se agora um relato na 1ª pessoa feito pelo que foi 1º Cabo Radio telegrafista Manuel Valadas Horta
Para memória futura!
OS GRANDES COMBATES NÃO DEVEM FICAR NO ESQUECIMENTO!!!
Que eu tenha conhecimento, não existiu, em toda a guerra de África, entre 1961/1974, outro confronto tão violento. Eu vi! Eu estava lá! O ataque do IN (tal como era considerado nesse tempo) desencadeia-se com grande fúria, na tentativa de massacrar a nossa tropa, lançando um impetuoso assalto na vanguarda da coluna de viaturas. As primeiras vagas de guerrilheiros da UPA, saíram do interior de uma vegetação densa, a coberto de um enorme embondeiro, onde se encontravam emboscados, lançando-se furiosamente sobre os nossos militares, inclusive, saltando para cima das viaturas ainda em marcha, obrigando-as a parar de imediato. Durante o combate, que prossegue, numa luta violenta e de tumulto ensurdecedor, os comandantes de outros pelotões da retaguarda, encorajando os seus homens, acorrem com prontidão em socorro do pelotão da frente que estava a ser massacrado, e é a partir daí que as hostes guerrilheiras começam a fraquejar e são completamente aniquiladas. Um ou outro guerrilheiro, aterrorizado foge a coberto da densa mata. De um pelotão de 38 elementos que seguiam à frente da coluna, eu fui um dos 18 militares desse pelotão que saiu ileso do feroz combate. A batalha foi muito pelejada e encarniçada fazendo lembrar aqueles filmes das lutas travadas entre exércitos medievais. A luta corpo a corpo entre as forças beligerantes foi inevitável, tendo terminado em desvantagem para a guerrilha. A diferença, a meu ver, consistiu no seguinte: De um lado estava uma força organizada e disciplinada embora mal armada; do outro lado, os grupos de guerrilheiros além de mal organizados apenas dispunham de canhangulos artesanais (ao dispararem o único tiro ficavam fora de cena) e de armas brancas rudimentares. Após a confrontação, os despojos daí resultantes, foram os seguintes: 42 canhangulos, centenas de catanas, além de outras armas brancas e, acredite-se ou não de uma fisga, material que deu para encher um atrelado de um jeep, não tendo havido perdas de armamento por parte da CC 115.
-É minha convicção:Que o soldado português é, por índole e formação, avesso a qualquer tipo de violência. Contudo, ao tomar conhecimento ou ao presenciar que alguém agrediu ou tratou o seu semelhante a ponto ou de molde a provocar-lhe a morte, aquele paradigma de não violência cai pela base dando origem a uma revolta interior que não anda longe de aplaudir uma correcção exemplar ao agressor.
-São estes os relatos dos homens que sofreram e sobreviveram aos anos de guerra que lhes roubou parte dos sonhos da juventude. As contingências desta guerra destruíram muitos sonhos e muitos homens tornaram-se incongruentes.
ApitoO apito a que se refere a foto anterior pertencia ao comandante do grupo emboscado no ataque de Quanda Maúa, morto em combate. Guardei esse apito (The AGMECITY - Made in England) como despojo de guerra e ainda o conservo. Foi utilizado para “dar a ordem de ataque”, contra as nossas tropas, tendo-se ouvido o som produzido pelo apito e imediatamente desencadeou-se a luta. O suposto comandante ostentava divisas de cabo miliciano e contrastava na indumentária com os restantes guerrilheiros que se apresentavam mal vestidos, tronco nu, descalços e com lenços brancos atados na cabeça. As vagas sucessivas de grupos IN encontravam-se embrenhadas por detrás e nas imediações do célebre embondeiro referido na foto, onde a mata e o capim atingiam uma altura superior às antenas verticais instaladas nas viaturas. A foto ao local foi tirada depois da zona ter sido limpa.Publicado por MVHorta.
Nota do Bloguer: Este referido comandante da UPA que usava divisas de cabo miliciano era um tal Manuel Pedro e terá morrido neste combate, porque ao chegarmos a Quicabo ainda estava escrito num quadro de ardósia da escola, o seguinte: O COMANDANTE É (seguia-se o desenho das divisas de cabo miliciano) MANUEL PEDRO. Pelo Chefe do Posto Administrativo de Quicabo foi confirmado que esse tal Manuel Pedro havia servido a tropa portuguesa como cabo miliciano.
Por outro lado verifica-se que em 17 de Julho a carta escrita no Destacamento da UPA de Quicabo para o Pastor do Ambriz é assinada por Filipe João Neto e não por Manuel Pedro, como deveria ser, se este estivesse vivo.
Transcrição de um artigo inserto nas páginas nºs. 34 e 35 do Livro da História da Companhia de Caçadores 116 (28 de Maio de 1961 a 13Jul1966), relatando o ataque de Quanda Maúa:“………….
Nesse mesmo dia (14Jul61) a CCaç.115 chegou a Anapasso com vista a progredir às primeiras horas do dia seguinte à retaguarda da CCaç.117, para a limpeza do terreno e avanço sobre Quicabo.
Combate de Quanda-Maúa.
Às 06.15 h. do dia 15 a CCaç.117 começou a ser atacada por 2 grupos IN, num total de cerca de 80 homens.
b) O alarme foi dado por um tiro disparado pelo IN da mata a E do estacionamento da CCaç.117, sobre um soldado desta Companhia que se afastara um pouco do estacionamento. Este tiro atingiu o praça no pescoço, sem consequências de maior. Foi o primeiro militar ferido na Unidade e, por coincidência, tinha o nº. do próprio Batalhão: soldado 114/60.
c) O ataque foi efectuado por 2 grupos. Um com cerca de 50 homens, com canhangulos e catanas, vestindo calção e camisa azul e com um lenço atado à volta da cabeça atacou de frente, ao longo do itinerário para Quicabo. O outro grupo, de cerca de 30 homens, a maior parte vestidos de caqui (o que levou ao pensamento momentâneo de ser pessoal nosso) atacou em direcção à orla E do estacionamento da CCaç.117.
d) Localizados os grupos a CCaç.117 abriu fogo sobre o primeiro grupo, tendo a maioria dispersado e, posteriormente, juntado ao outro grupo localizado a E.
e) A CCaç.116, que dominava o terreno em redor abriu fogo sobre este grupo provocando inúmeras baixas. São de realçar os efeitos da Metralhadora Pesada Breda e do Lança Foguete 8,9 (Bazooka).
f) Salienta-se que, como sempre se veio a constatar, o IN preocupou-se em levar consigo, na retirada, os feridos e o armamento.
g) Nesse mesmo dia e pouco tempo depois do ataque à 117, a CCaç.115 que se encontrava em Anapasso, recebeu ordem para seguir para a região e, quando estava prestes a atingir Quanda-Maúa, foi surpreendido por um violento ataque lançado por um grupo IN que se dissimulava na mata à direita da estrada.
h) O ataque desencadeado com tiros de canhangulos e caçadeiras, lançando-se imediatamente à abordagem utilizando catanas. Os elementos IN ziguezaguavam entre as viaturas, saltando sobre elas. Alguns dos homens da 115 foram atingidos mortalmente e feridos com gravidade. A CCaç.116, que ocupava uma posição dominante, não podia actuar pois colocaria debaixo de fogo e, portanto, em grande risco os elementos da CCaç.115.
i) Calcula-se que nessa acção contra as CCaç.115 e 117 o grupo IN era constituído por um número bastante superior a 500, na quase totalidade rapazes novos.
j) Foi este o baptismo de fogo do Batalhão 114.
k) …”.NOTA: Segundo alguns cronistas a Operação Viriato suplantou as outras grandes operações dessa mesma guerra. Referem que esta operação foi provavelmente a acção militar portuguesa mais importante não só de Angola mas também de toda a Guerra de África 1961 – 1974 (destacando-se o ataque de Quanda-Maúa).
Segue-se mais um relato na 1ª pessoa, agora do 1º Cabo 12/58, Benjamim Morim
bmorim1 disse...Porque estive nas mesmas datas e locais, pois era o1º cabo apontador da Bazooka do 2º pelotão da C.Caç117.
bmorim1 disse...Porque estive nas mesmas datas e locais, pois era o1º cabo apontador da Bazooka do 2º pelotão da C.Caç117.
Fiquei encantado por finalmente ter descoberto na Web alguém a falar do B.C.114 e descrever parte do que eu também vivi. Todos temos uma forma muito pessoal de descrever os mesmos acontecimentos. Dependendo da predisposição e o porquê de nos encontrarmos em determinados locais ( eu fui voluntário para a tropa e para a guerra ), porque neles participamos e não só ouvimos relatos, temos portanto a autoridade de quem viu e viveu directamente nos acontecimentos, para os relatarmos. A minha versão do que se passou, entre o Rio Lifune, ponte ( Anapasso ) e Quanda Maúa, local do 1º combate em que intervieram as tropas do B.C.114 é a seguinte:
A C.Caç.117 deslocou-se de Mabubas a 13 de Julho com destino à ponte do rio Lifune cuja reconstrução estava a cargo das tropas de Engenharia comandadas pelo Tenente Varela. A primeira noite passada a descoberto na mata de Angola houve luta com as formigas terríveis (quissundo). Dia 14 de manhã continuava a reconstrução da ponte mas de forma lenta para ser segura. Chegado ao local o comandante do B.C.114, verificando o atraso na reconstrução, protesta fortemente com o referido Tenente, este e seus homens conseguem até ao principio da tarde desse dia concluir a reconstrução da ponte em madeira por onde passou toda a companhia 117 e seu material de transporte e equipamento logístico e de combate. A poucos kilómetros de distância fica uma pequena elevação cujo local de designa por Quanda Maúa, nesse local e em condição de guarda avançada à reconstrução da ponte estava parte da C.Caç.116 comandada pelo Capitão Velasco, em cujo encontro ao final da tarde do dia 14 com o nosso Capitão Marques Pereira, acordaram passar a noite no local pois era do conhecimento das tropas instaladas que pouco mais à frente havia uma vala na estrada ( picada ) que cabia uma GMC.
Assim foi dada ordem para montar acampamento no local, em forma de meio círculo cuja abertura estava tapada com o morro onde estava instalada a tropa da 116.
Relembro que estávamos todos mal preparados e mal equipados para o que nos esperava, pois, levavamos munições contadas para a Mauser e as granadas de Bazooka e Morteiros encaixotadas além de levarmos também as viaturas carregadas de laranjas do pomar do Lifune. Cerca das 6H00 do dia 15, estava eu ainda deitado no banco traseiro do jipão, ouvi dois tiros e os gritos de terroristas, era o soldado nº114 do 2º pelotão da 117, de nome Américo da Silva Moreira mais conhecido pelo Festas, pois atingido na face e no pescoço até cortou o fio de ouro que usava com uma medalha. Rastejando e com a cobertura do fogo dos seus colegas consegue de novo entrar nas mini trincheiras onde foi socorrido e temos assim o primeiro ferido do B.B.114, em combate. Este soldado tinha-se afastado até junto do arame farpado de protecção para fazer as suas necessidades fisiológicas intestinais. Os terroristas tentavam entrar no nosso acampamento, eram impedidos pelo nosso fogo que entretanto foi reforçado com os morteiros e bazookas que passaram a estar operacionais depois de eu à machadada rebentar os respectivos cunhetes e distribuir as munições. Seguidamente e junto com os meus dois municiadores carregados de granadas e a respectiva bazooka subimos o referido morro e fomos instalar-nos sensivelmente a meia altura, daí tínhamos um campo de visão privilegiado, igual ao de esquadra de Breda a Norte creio que Brauning a Sul, ficando a minha esquadra de bazooka no centro, víamos a movimentação dos terroristas e era fácil para nós atingi-los com tiros certeiros e vermos os estragos que causamos, entretanto sentimos que se aproximavam as tropas da C.Caç.115 que era suposto vir em nosso auxílio. Disso também se aperceberam os terroristas e deslocaram grande quantidade de elementos que fizeram a abordagem ás primeiras viaturas da 115, mas esta parte saberá o meu amigo bem descrever o que foi a carnificina em que lamentamos a morte de seis colegas e ferimentos em quase duas dezenas. Enquanto isto chegaram também os aviões PV2 que metralhavam os inimigos sobre quem lançaram bombas Napal, seguidos dos aviões Fiat que lançavam bombas de rebentação e, dizia-se de fragmentação. A tudo isto assisti e participei numa posição privilegiada pois como disse coloquei-me no morro de Quanda Maúa cuja figura integra as elementos do emblema de B.C.114. Fico-me por aqui, este relato vai longo, mas afirmo que os meus traumas são pela forma como pessoas oportunistas fizeram a descolonização e desrespeitam quem combateu pela Pátria quer queiram quer não.
Ex 1º cabo 12/58
Segue-se cópia da carta enviada por FILIPE JOÃO NETO para um Pastor do Ambriz
"Destacamento da U.P.A em QUICABO, 20 de Julho de 1961
Meu bom Pastor
Ambriz
Os meus respeitosos cumprimentos e melhoras de boa saúde.
Eu bom e são graças a Deus.
Estou em QUICABO no combate, aliás no www distacamento. Fizemos o combate no dia 15, de cujo êxito foi muito mau para nós.Se bem que os inimigos tiveram mais de 60 baixas, nós tivemos de abandonar no campo de batalha mais de 150 mortos, excluindo os feridos. Este é o segredo: agradeço que não diga a mais ninguém. Quero esclarecer-lhe que 60 dos inimigos são os brancos e muito mais número de pretos que estavam arrolados na parte deles. Quer dizer que também tiveram mais de 100 baixas. Três carros foram derrotados. Esses carros encontram-se no logar onde se travou a luta.
Agradeço que apresente os meus cumprimentos à U.P.A de Mufuque.
Uma das suas cartas, na qual disse-me que careciam de sal e sabão, recebi-a a qual me veio encher de grande vulúpia. De que então já tem canhangulos; Parabens.
Quanto a recomendação de pólvora, não sei se poderei arranjar visto que muita foi abandonada no referido combate de QUICABO. Na mesma carta de que já me referi, ainda disse-me que chegou de me escrever por intermédio do Sr. Celestino. Pois digo-lhe que ignoro-a .
Aos Senhores Paim e Assis não deixa de apresentar os meus cumprimentos.
Sempre virei mas presumo eu que será um pouco tarde.
Vossas saudades tem sido a minha dor de cabeça.
Saudades da Nina, Blek e Quinho, saudades da Dona, avó, tia Isabel, tia Juliana, Velho Bembo, etc..
Resta-me dizer que ao invés de uma arma que recebemos aos inimigos quando metemo-nos em fuga, tivemos de abandonar muitas armas de canhangulos e finas.
Naquele combate fomos derrotados porque de todos os bandidos que tem estado em Luanda até à presente data, encontram-se alistados na parte dos brancos; muitos rapazes de Nambuangongo e Dembos dentre esses alguns conhecidos; Chamavam pelo nome dizendo que fugissemos visto que Lumumba é pobre e por esta razão não podemos vencer os Portugueses. A pobreza de que se referiram creio eu que é de material. O comandante de Quipedro resolveu prender todas as mulheres de cujos maridos se encontram actualmente em Luanda. Caso não tenha mulher vai uma pessoa de família.
Abraços e beijos às crianças
Deste que lhe estima e venera
Filipe João Neto
Tenho a lamentar a morte, aliás as mortes de dois tios e de um primo.
Este utimo digo último, morreu no Matoio; um dos tios era enfermeiro em Aparia (?) onde foi morto; outro tio irmão de meu pai, deixou de ter vida no recente combate de Quicabo. O Domingues envia muitos cumprimentos a todos."
Nota do Bloger -Esta carta merece ser analisada com espírito crítico:
Meu bom Pastor
Ambriz
Os meus respeitosos cumprimentos e melhoras de boa saúde.
Eu bom e são graças a Deus.
Estou em QUICABO no combate, aliás no www distacamento. Fizemos o combate no dia 15, de cujo êxito foi muito mau para nós.Se bem que os inimigos tiveram mais de 60 baixas, nós tivemos de abandonar no campo de batalha mais de 150 mortos, excluindo os feridos. Este é o segredo: agradeço que não diga a mais ninguém. Quero esclarecer-lhe que 60 dos inimigos são os brancos e muito mais número de pretos que estavam arrolados na parte deles. Quer dizer que também tiveram mais de 100 baixas. Três carros foram derrotados. Esses carros encontram-se no logar onde se travou a luta.
Agradeço que apresente os meus cumprimentos à U.P.A de Mufuque.
Uma das suas cartas, na qual disse-me que careciam de sal e sabão, recebi-a a qual me veio encher de grande vulúpia. De que então já tem canhangulos; Parabens.
Quanto a recomendação de pólvora, não sei se poderei arranjar visto que muita foi abandonada no referido combate de QUICABO. Na mesma carta de que já me referi, ainda disse-me que chegou de me escrever por intermédio do Sr. Celestino. Pois digo-lhe que ignoro-a .
Aos Senhores Paim e Assis não deixa de apresentar os meus cumprimentos.
Sempre virei mas presumo eu que será um pouco tarde.
Vossas saudades tem sido a minha dor de cabeça.
Saudades da Nina, Blek e Quinho, saudades da Dona, avó, tia Isabel, tia Juliana, Velho Bembo, etc..
Resta-me dizer que ao invés de uma arma que recebemos aos inimigos quando metemo-nos em fuga, tivemos de abandonar muitas armas de canhangulos e finas.
Naquele combate fomos derrotados porque de todos os bandidos que tem estado em Luanda até à presente data, encontram-se alistados na parte dos brancos; muitos rapazes de Nambuangongo e Dembos dentre esses alguns conhecidos; Chamavam pelo nome dizendo que fugissemos visto que Lumumba é pobre e por esta razão não podemos vencer os Portugueses. A pobreza de que se referiram creio eu que é de material. O comandante de Quipedro resolveu prender todas as mulheres de cujos maridos se encontram actualmente em Luanda. Caso não tenha mulher vai uma pessoa de família.
Abraços e beijos às crianças
Deste que lhe estima e venera
Filipe João Neto
Tenho a lamentar a morte, aliás as mortes de dois tios e de um primo.
Este utimo digo último, morreu no Matoio; um dos tios era enfermeiro em Aparia (?) onde foi morto; outro tio irmão de meu pai, deixou de ter vida no recente combate de Quicabo. O Domingues envia muitos cumprimentos a todos."
Nota do Bloger -Esta carta merece ser analisada com espírito crítico:
- Os sublinhados são meus.
- O autor da carta pede segredo sobre o assunto principal, tentando ocultar aos outros combatentes o desaire sofrido e mente ao Pastor, exagerando nas baixas sofridas pela tropa portuguesa.
- De 6 mortos ele passou para 60. Se usou o mesmo método para avaliar as suas mortes, quando diz que foram mais de 150, então teremos que sofreu mais 1500 mortos, o que em verdade nos parece exagero, embora tenham sido muitos.
- Mas depois quando argumenta dizendo que muitos dos mortos negros que ficaram no terreno eram do lado dos portugueses, aumentando assim as baixas do lado dos portugueses, está novamente a mentir, pois apenas dois negros acompanhavam a tropa portuguesa e nenhum deles morreu nem ficou ferido.
- Refere finalmente e perda de armas, (canhangulos e finas), e pólvora.
- Finalmente a referência às viaturas que ainda estariam no local, tambem é falsa porque todas as viaturas foram recuperadas no próprio dia 15 e a meio da tarde do mesmo dia toda a CC 115 estava acampada na base do morro Kuanda Maúa.
6 comentários:
Na noite de 14 para 15Jul1961, a CC 115 acampou e pernoitou na margem direita do rio Lifune em Anapasso.
De manhãzinha, o nosso guia, português que antes residia em Quicabo, comentou o seguinte:
"Durante a madrugada ouvi-os (IN) a buzinar através de conchas de gatrópode aquático que eles utilizam normalmente quando pretendem reunir-se. Ecoava forte e o som produzido pelo búzio vinha dos lados de Quicabo".
Pareceu-nos apreensivo. Ele lá sabia porquê!
Para memória futura!
OS GRANDES COMBATES NÃO DEVEM FICAR NO ESQUECIMENTO !!!
Que eu tenha conhecimento, não existiu, em toda a guerra de África, entre 1961/1974, outro confronto tão violento.
Eu vi!
Eu estava lá!
O ataque do IN (tal como era considerado nesse tempo) desencadeia-se com grande fúria, na tentativa de massacrar a nossa tropa, lançando um impetuoso assalto na vanguarda da coluna de viaturas.
As primeiras vagas de guerrilheiros da UPA, saíram do interior de uma vegetação densa, a coberto de um enorme embondeiro, onde se encontravam emboscados, lançando-se furiosamente sobre os nossos militares, inclusive, saltando para cima das viaturas ainda em marcha, obrigando-as a parar de imediato.
Durante o combate, que prossegue, numa luta violenta e de tumulto ensurdecedor, os comandantes de outros pelotões da retaguarda, encorajando os seus homens, acorrem com prontidão em socorro do pelotão da frente que estava a ser massacrado, e é a partir daí que as hostes guerrilheiras começam a fraquejar e são completamente aniquiladas. Um ou outro guerrilheiro, aterrorizado foge a coberto da densa mata.
De um pelotão de 38 elementos que seguia à frente do coluna, eu fui um dos 18 militares desse pelotão que saíu ileso do feroz combate.
A batalha foi muito pelejada e encarniçada fazendo lembrar aqueles filmes das lutas travadas entre exércitos medievais. A luta corpo a corpo entre as forças beligerantes foi inevitável, tendo terminado em desvantagem para a guerrilha. A diferença, a meu ver, consistiu no seguinte: De um lado estava uma força organizada e disciplinada embora mal armada; do outro lado, os grupos de guerrilheiros além de mal organizados apenas dispunham de canhangulos artesanais (ao dispararam o único tiro ficavam fora de sena) e de armas brancas rudimentares.
Após a confrontação, os despojos daí resultantes, foram os seguintes: 42 canhangulos, centenas de catanas, além de outras armas brancas e, acredite-se ou não de uma fisga, material que deu para encher um atrelado de um jeep, não tendo havido perdas de armamento por parte da CC 115.
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É minha convicção:
Que o soldado português é, por índole e formação, avesso a qualquer tipo de violência. Contudo, ao tomar conhecimento ou ao presenciar que alguém agrediu ou tratou o seu semelhante a ponto ou de molde a provocar-lhe a morte, aquele paradigma de não violência cai pela base dando origem a uma revolta interior que não anda longe de aplaudir uma correcção exemplar ao agressor.
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São estes os relatos dos homens que sofreram e sobreviveram aos anos de guerra que lhes roubou parte dos sonhos da juventude. As contingências desta guerra destruíram muitos sonhos e muitos homens tornaram-se incongruentes.
SE DÚVIDAS HOUVESSE!
O nosso companheiro de armas, radiotelegrafista da CC 116, em "Baptismo de Fogo", no seu Livro "História da CC 116 - 28 de Maio de 1961 a 13 de Julho de 1963, Pág.68 - Editor José Augusto Belchior Henriques", refere:
"............
Descrever o que se passou não é fácil.
O IN atacava em grupos aos gritos, eram novos e velhos, alguns de mão dada, vinham armados com canhangulos e catanas. Após a surpresa do ataque foram repelidos e procuravam abrigo, nas árvores e na mata mais cerrada, só que não contavam com a posição da nossa Companhia.
Instalados ao longo do monte tínhamos uma posição pivilegiada sobre a estrada e as nossas secções de metralhadoras Breda, morteiros 60 e bazooka foram batendo todos os locais onde se abrigavam. Entretanto uma parte do inimigo deslocou-se no sentido da ponte, e à aproximação da Comp. 115, que atravessara o Lifune, atacaram-os.
Os primeiros carros foram assaltados à catanada e aquela companhia de imediato sofreu oito ou nove baixas e vários feridos. Foi um rude golpe. Da nossa posição no monte fomos espectadores de mais este ataque, mas desta vez sem possibilidades de intervir pois colocaríamos debaixo de fogo a 115.
Os tiros, os mortos e o cheiro a pólvora marcaram-nos profundamente.
..........".
Uma palavra para o médico da CC 115, Dr. Correia Simões:
Na maioria dos casos em que a vida humana corre perigo, o médico é indispensável e insubstituível. Só ele tem a preparação teórica e prática suficientes para agir no no melhor sentido; o médico da CC 115 teve, em Quanda Maúa, muito trabalho e certamente nunca teria visto, até então, tantos corpos humanos mortos e outros vivos às portas da morte ou em luta com o sofrimento.
Ao realizar uma pesquisa acerca do Batalhão de Caçadores 114, mais propriamente da companhia 115, que foi onde o meu pai, 1.º Cabo Fernando Tomás Domingues Ferreira, prestou serviço, deparei-me com este blog que narra um combate que ouvi falar pela primeira vez devia eu ter os meus 9 ou 10 anos de idade, ou talvez menos, o que mais recordo foi o meu pai ter -me contado que havia um soldado que tinha levado um golpe de catana nas costas e que se via os pulmões quando respirava. Desconhecia que tinha sido em Quicabo, conheço a história da Operação Viriato, tenho em meu poder algumas fotos da época, algumas do rio Lifune e da ponte que o Batalhão construiu (julgo eu) e outras mais. Estou a pensar em fazer um trabalho e publicá-lo na net como homenagem a estes homens que perderam uma boa parte da sua juventude em território Angolano.
Confirmo que tudo que foi citado é verdade. Pois era o condutor do 3'poletão da 115.
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