Durante os dias passados no acampamento situado na base do morro Kuanda Maúa, o pessoal da CC 115 aproveitou para recuperar das grandes emoções e terrores que, naturalmente os afectaram no acto do combate. As noites que se seguiram foram, de facto intranquilas devido aos ruídos estranhos que se ouviam na floresta próxima, tudo parecendo que eram elementos atacantes que se aproximavam: em intervalos curtos de tempo, os faróis dos carros eram acesos para examinar o campo de tiro.
Nos tempos mais ou menos livres, aproveitou-se para dar uma vista de olhos pelos arredores, subindo o morro de Kuanda Maúa até às posições da 116 e à crista topográfica do monte. Além disso houve tempo para pensar nos familiares e enviar um aerograma para este ou para aquele, ou aquela, conforme as situações.
Segue-se um bate estradas que escrevi em Kuanda Maúa a 19 de Julho, pois tem o carimbo de 21 no Caxito. Foi escrito à pressa com a justificação de a patrulha estar mesmo a sair, mas a verdadeira razão foi que não tinha assunto para transmitir, ou melhor tinha, mas não queria transmitir o que ía na alma.
Desculpem-me pôr aqui este aspecto pessoal, mas é mais um testemunho. Quantos não fizeram o mesmo só para ocultar aos pais os maus bocados que estavam passando.
No dia 19 recebi correio e nesse mesmo dia a 117 avançou para Quicabo sofrendo uma emboscada, de que resultaram 3 baixas: dois mortos e um ferido.
No dia 20, o 3º Pelotão fez uma patrulha até ao acampamento da 117 e esta Companhia avançou para Quicabo onde chegou sem mais contrariedades. O regresso ao acampamento de Kuanda Maúa decorreu sem novidade.
Em 21, ataque perigoso do Quissondo, (perigosas formigas que destroem tudo quanto é comestível).
Em 22, nova patrulha a Quicabo e à Ponte do Lifune. Neste rio aproveitei para lavar a cara, diz o meu diário, e descalcei as botas, o que não fazia há 12 dias.
Na passagem pelo Embondeiro Grande, o cheiro dos corpos em decomposição era insuportável, aliás já chegava ao acampamento de Kuanda Maúa. Para aliviar e suportar esta circunstância faziamo-nos acompanhar de laranjas, que, cortadas ao meio, colocávamos sobre o nariz a fazer de máscara ou filtro. Só passada uma semana as equipas de limpeza terão actuado no local.
1 comentário:
Em Quanda-Maúa recebi uma encomenda, ida do "Puto", que continha uma "Gillette" do último modelo, acompanhada de uma embalagem de 6 lâminas, enviada pelo amigo da família Horta, Fernando Rebelo de Andrade Figueiredo, alto funcionário do Grémio da Lavoura de Serpa.
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