domingo, 6 de julho de 2008

CC 115 - Ponte do Lifune


Mapa da região Mabubas-Anapasso: A picada, hoje nítida, não se veria nestas circunstâncias, se houvesse google em 1961.

Primeira Patrulha de Reconhecimento à Ponte de Anapasso


Faz hoje precisamente 47 anos! Os preparativos para dar início à Operação Viriato exigiam a reconstrução da ponte destruìda pelo In em Anapasso, sobre o Rio Lifune.

De Mabubas para norte pela picada que conduz a Quicabo, há mais de três meses que ninguém se atrevia a passar, o que permitiu aos elementos da UPA destruir a ponte sobre o Rio Lifune, uma obra de arte de algum vulto uma vez que o rio ali já é bastante largo.

O 3º Pelotão da CC 115, comandado por NOCA, (Nobre Campos), reforçado com uma secção de sapadores, recebeu a missão de explorar e abrir a picada até Anapasso, escoltando o Engenheiro, Tenente Varela, este para analisar e projectar a reconstrução da Ponte.

Anapasso dista cerca de 18 kilómetros de Mabubas. A picada tinha um piso relativamente bom, mas o capim crescera muito e, em alguns troços já não se via a picada. Lá íamos apalpando o terreno e avançando devagar. Havia várias abatizes, (árvores atravessadas na picada para impedir a passagem de viaturas), que se foram removendo com alguma facilidade por serem de pequeno porte, uma vez que a mata naquela região é de tipo savana com grandes embondeiros dispersos, mas esses não são práticos para fazer abatizes.

Chegada a Anapasso a Patrulha deparou com a Ponte completamente destruída: dos seus dois tramos maiores um estava no leito do rio e o outro desprendera-se de um dos apoios, ruindo também. Os destroços da ponte permitiam a passagem a pé de uma margem para outra.
A destruição da ponte fora conseguida por meio de água e fogo, ou melhor, fogo e água: fizeram grandes fogueiras sobre o taboleiro da ponte e de seguida, lançaram água, provocando a fractura e deslocamentos da estrutura de cimento. Havia vestígios dos materiais utilizados nesse sentido.

Próximo da ponte e na margem esquerda do rio o In erguera uma grande tabuleta constiuída por duas grandes tábuas, com os dizeres :"DAQUI PARA DIANTE NÃO PASSA PÉ DE BRANCO" e " TUDO O QUE PASSA MORRE".

Enquanto uma parte da força mantinha a segurança periférica para permitir ao Engenheiro Varela fazer as suas análises e estudos da obra de arte, outra parte dedicou-se à exploração dos arredores, dando de imediato com uma Fazenda, denominada de "Maria Amélia" e que consistia num imenso pomar de laranjeiras, com fruta capaz de ser colhida. Isto foi motivo de regozijo e, dada a escassez de meios disponíveis, fez-se uma boa colheita que muito alegrou depois o vago-mestre da Companhia.

Ao fim do dia, cumprida a missão, o 3º Pelotão da CC 115 regressou ao acantonamento, no Caxito.

2 comentários:

MVHorta disse...

47anos não são 47 dias! Como o tempo "voa"!...
São memórias que permanecem para sempre gravadas na mente de quem as viveu um dia!
O rio Lifune situa-se na região onde praticamente começou, em 1961, a denominada rebelião Angolana.
A ponte de alvenaria fora destuída pela UPA, a fim de cortar o avanço das tropas do BC 114 que se propunha reocupar Nambuangongo.
Alguns meses mais tarde, o rio Lifune também teve a sua utilidade para a pesca dos lagostins em abundância naquele rio.

NOCA disse...

Lagostins e caranguejos!!! Quem diria que a mais de cem kilómetros do mar tais artrópodes poderiam ser encontrados...
Ainda sobre a "compita de chegar primeiro a Nambuangongo", convém esclarecer o seguinte: nesta altura já o BC 96 se encontrava para lá de Pedra Verde que contornou, (a estrada de Sassa-Mabubas até Muxaluando estava alcatroada), e o Capitão Abrantes com a sua CC 158(+) estaria por Bela Vista ou coisa que o valha; o BC 114 continuava sem material circulante, (viaturas), suficiente e, mesmo que o tivesse não podia transpôr o Lifune cuja ponte só agora iria ser reconstruída.