Após a ocupação de Balacende, permaneceu ali a CC 117 e a CC 115 regressou a Quicabo, onde assumiu a missão de reserva do Comando, com um pelotão na Ponte do Lifune.
O acampamento de Quicabo começou a ter forma e depois da recuperação do edifício que fora o Posto de Socorros daquela vila, foram criadas condições para inclusivamente permitir a presença de senhoras. Isso permitiu que, a partir de certa altura, tenham ali chegado as esposas de quatro oficiais da CC 115 e do Comandante do Batalhão.
O Comandante da CC 115, juntamente com alguns oficiais, em observação sobre a região, nomeadamente sobre as zonas de Cachila e Birila que foram os principais objectivos nos dias seguintes.
Este é o panorama que os observadores estudam sobre o M'Zula.
Nesta missão a actividade era permanente: os pelotões de caçadores reforçados com armas pesadas desdobravam-se em patrulhas de reconhecimento e aberturas de itinerários da região, onde sobressaiam Cachila e Birila e sobretudo o itinerário principal de Sassa até Balacende e depois até Quissacala.
A minha agenda que serviu de apontamentos diários está repleta de referências a pequenos episódios, como pequenos animais de caça que traziam alguma alegria ao acampamento, dada a dificuldade de reabastecimento que se verificava.
Em Quicabo, sobre um rochedo ali existente, com o Quilé, o mais alto dos montes Quiunenes em fundo, num momento de descontracção e repouso.
A pequena Pista de Aviação, em Quicabo, já estava funcional e já ali aterrara o primeiro Dornier, facto muito festejado por todas as razões, mas especialmente por trazer correio.
Vou dar voz ao Valadas Horta que relata alguns episódios, com oportunidade e graça:
MVHorta disse...
No desfiar de recordações, ocorre-me a operação de patrulhamento na zona de Quicabo, mais concretamente aos morros de Birila, onde existia uma sanzala com algumas cubatas, aparentemente abandonada (mas havia por lá galinhas!).Por não se saber o que iríamos ali encontrar, o pelotão de artilharia, sedeado em Quicabo e comandado pelo alferes Ruivo? de Oliveira, sob a orientação do Comandante da CC 115, por volta do meio dia, bombardeou aquela zona com tiros de artilharia. Recordo algumas palavras (ordens) do CMDT da Companhia, via TSF: - Oh Oliveira, dispara daí (Quicabo) umas azeitonas para a encosta do morro..., + 1 para...; + outra para...", orientado pela carta topográfica da região. As granadas de artilharia disparadas de Quicabo passavam preciasamente a "rasar" as nossas cabeças emitindo um silvo ensurdecedor de ficar arrepiado!...Na parte da tarde exploramos (batemos) toda a encosta de Birila. O pessoal embrenhado naquela mata densa atingiu a parte mais alta completamente extenuado. De tão cansados e a lamuriar, alguns soldados deitavam-se sobre o capim; um deles (o soldado 534 - Laurentino) careceu de ajuda médica. Entretanto, meio a sério, meio a brincar, até porque a situação exigia ânimo e o local não aconselhava uma paragem demorada da "bicha do pirilau", dizia um superior hierárquico: - Vocês não querem vir? Garanto que os leões hoje não passarão fome.Claro! Que ninguém era deixado para trás!Contudo ao atingirmos a parte mais alta do morro, fomos "recebidos" a tiro. Uns fogachos esporádicos que tiveram resposta imediata.Foi aqui que eu apanhei um dos maiores sustos da minha vida:A fim de asseguar a ligação rádio com a testa do "pirilau" recebi ordem para ficar na retaguarda da coluna por um. Apenas uma secção de atiradores seguia atrás de mim naquele denso matagal. Logo que se desencadeia o tiroteio, não sei bem como nem porquê, os elementos que seguiam à minha retaguarda, ultrapassaram-me rastejando ou não sei como, e, logo que o "fogo" abrandou, olho para a minha retaguarda e não vejo rigorosamente ninguém! Em posição de ataque lá dei uma corrida e vi então o último atirador da secção, uns metros mais à frente. Lá ocupei de novo o meu lugar, mas não deixei de apanhar um valente "cagaço"!... Ainda andei alguns dias a pensar nisso!!!...À noite "descansamos" por aquelas bandas, sobre uma esteira de capim verde que tivemos que cortar. A minha manta nessa noite, foi o lenço verde com que cobri a cara para que não fosse "devorado" pelos mosquitos. Com a cacimbo que caiu durante a noite, o lenço ficou completamente encharcado.
Domingo, 03 Agosto, 2008
No desfiar de recordações, ocorre-me a operação de patrulhamento na zona de Quicabo, mais concretamente aos morros de Birila, onde existia uma sanzala com algumas cubatas, aparentemente abandonada (mas havia por lá galinhas!).Por não se saber o que iríamos ali encontrar, o pelotão de artilharia, sedeado em Quicabo e comandado pelo alferes Ruivo? de Oliveira, sob a orientação do Comandante da CC 115, por volta do meio dia, bombardeou aquela zona com tiros de artilharia. Recordo algumas palavras (ordens) do CMDT da Companhia, via TSF: - Oh Oliveira, dispara daí (Quicabo) umas azeitonas para a encosta do morro..., + 1 para...; + outra para...", orientado pela carta topográfica da região. As granadas de artilharia disparadas de Quicabo passavam preciasamente a "rasar" as nossas cabeças emitindo um silvo ensurdecedor de ficar arrepiado!...Na parte da tarde exploramos (batemos) toda a encosta de Birila. O pessoal embrenhado naquela mata densa atingiu a parte mais alta completamente extenuado. De tão cansados e a lamuriar, alguns soldados deitavam-se sobre o capim; um deles (o soldado 534 - Laurentino) careceu de ajuda médica. Entretanto, meio a sério, meio a brincar, até porque a situação exigia ânimo e o local não aconselhava uma paragem demorada da "bicha do pirilau", dizia um superior hierárquico: - Vocês não querem vir? Garanto que os leões hoje não passarão fome.Claro! Que ninguém era deixado para trás!Contudo ao atingirmos a parte mais alta do morro, fomos "recebidos" a tiro. Uns fogachos esporádicos que tiveram resposta imediata.Foi aqui que eu apanhei um dos maiores sustos da minha vida:A fim de asseguar a ligação rádio com a testa do "pirilau" recebi ordem para ficar na retaguarda da coluna por um. Apenas uma secção de atiradores seguia atrás de mim naquele denso matagal. Logo que se desencadeia o tiroteio, não sei bem como nem porquê, os elementos que seguiam à minha retaguarda, ultrapassaram-me rastejando ou não sei como, e, logo que o "fogo" abrandou, olho para a minha retaguarda e não vejo rigorosamente ninguém! Em posição de ataque lá dei uma corrida e vi então o último atirador da secção, uns metros mais à frente. Lá ocupei de novo o meu lugar, mas não deixei de apanhar um valente "cagaço"!... Ainda andei alguns dias a pensar nisso!!!...À noite "descansamos" por aquelas bandas, sobre uma esteira de capim verde que tivemos que cortar. A minha manta nessa noite, foi o lenço verde com que cobri a cara para que não fosse "devorado" pelos mosquitos. Com a cacimbo que caiu durante a noite, o lenço ficou completamente encharcado.
Domingo, 03 Agosto, 2008
HOMENAGEM
Neste regresso a Quicabo verificou-se em 03AGO61 uma ocorrência lamentável, que foi a morte, por acidente com arma de fogo, do soldado 1507/60, JOSÉ M. REIS, o "Mafra", assim conhecido por ser natural daquela cidade.
Aqui o recordamos com respeito e saudade.
1 comentário:
Tardiamente?
EM BOA HORA decidiu o meu amigo NOCA criar o Blog CC 115, sobre o passado desta prestigiada Companhia de Caçadores, já que a memória dos homens é curta e a acção inexorável do tempo tudo apaga.
E foi pena que este trabalho desinteressado e dedicado a todo o universo dos antigos combatentes, em particular dos homens do BC 114, não tivesse tido a devida relevância por parte de quem o deveria ter feito há já algum tempo.
Não fosse a inicitava do NOCA, todo o trabaho desenvolvido pelo "114" seria apagado pela esponja do esquecimento.
Fazer um relato exaustivo dos principais acontecimentos que ocorreram há 47 anos e devidamente documentado, não está ao alcance de qualquer um.
A vivência diária no período de 28Mai61 a 13Jul63, esta recheada de muitos riscos, emoções, incertezas, ansiedades, e ele, descreve-os como tivessem ocorrido há relativamente pouco tempo.
Mais uma vez, os meus PARABÉNS!
Essa tua agenda que serviu de apontamentos diários durante a nossa permanência em Angola é um TESOURO. Quem terá outro assim?
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