terça-feira, 1 de julho de 2008

CC 115 - Operação Viriato (Continuação)

A GUERRA COLONIAL... vista de dentro - I
Os escritos aqui inseridos são relatos do Senhor Coronel Libânio Pontes Miquelina, em entrevista ao jornal "Correio da Manhã" acontecida em 2007.
------------ Relatos do ex-Alferes Libânio Pontes Miquelina, da Compª. 105 do BCAÇ 96, que viveu directamente, na frente, a Guerra Colonial em Angola, pois o seu Batalhão foi o primeiro a entrar em Nambuagongo, em Agosto de 1961:* "Os combates eram duros e muito feios!" - recorda o Alferes Libânio. "Com o êxito da 'Operação Viriato', a primeira de grande dimensão nas Campanhas de África, acabou-se com o 'santuário da UPA', onde os independentistas se consideravam inexpugnáveis, apesar de alguns aviões da Força Aérea Portuguesa irem lá, de quando em quando, despejar umas bombas."* "A partir de um morro rodeado de matas diabólicas, com as picadas que lá conduziam obstruídas por árvores e muitas valas, a UPA lançava ataques a povoações próximas e mantinha sob ameaça cidades mais distantes, como Carmona, Ambriz e até mesmo Luanda. Para o Comando Militar português destruír a base tornou-se decisivo e não teve dúvidas em montar uma operação de envergadura."* " Por três itinerários diferentes, outras tantas forças militares receberam ordens para chegar a Nambuagongo. O Batalhão de Caçadores 114, comandado pelo Ten Cor. Henrique de Oliveira Rodrigues, foi o único que não conseguiu lá chegar. E o '96', do Ten. Cor. Armando Maçanita, foi o primeiro a atingir o objectivo, tendo à frente a Companhia 103 dos Alferes Santana Pereira, já falecido, e Casimiro, que também morreu em campanha."- O Coronel Libânio Miquelina teve o seu baptismo de fogo a 10 de Junho de 1961, na tomada da Pedra Verde.* " Ficámos um pouco para trás, por causa de um avião Broussard, atingido por uns tiros do inimigo e que, vendo a localidade ocupada por militares, decidiu aterrar na rua central de Muxalando, a uns 20 quilómetros de Nambuagongo. A caminhada que havia sido encetada rumo a este objectivo, durou mais de 20 dias de intensos combates, mas as dificuldades começaram numa ponte sobre o Dange, a 100 quilómetros do alvo. Quando chegámos à zona, tivemos de intervir rápido, porque descobrimos que o inimigo estava a tentar destruír a única ponte existente. Para isso faziam enormes fogueiras, com muitas árvores e ramos sobre o tabuleiro, lançando depois água para cima do mesmo para estalarem o cimento armado por efeito da mudança de temperaturas. Foi um ataque bastante difícil, porque eles já estavam armados com metralhadoras automáticas, além de "canhangulos e bazukas", enquanto no nosso Exército as melhores ferramentas para cavar abrigos eram as... baionetas das velhas espingardas Mauser. Deixei lá dois mortos e muitos feridos. "
* " Os ataques inimigos aconteciam de dia e de noite, ao meio-dia e ao meio da tarde, mas nunca se chegou ao corpo-a-corpo, de que muitas vezes se falava."
Publicada por rotivsaile em 21:02

Transcrevi acima o escrito publicado por "rotivsaile" no seu blog BATUQUES DO NEGAGE.
Porque ele refere o depoimento do Sr Coronel Miquelina, que merece algum reparo, embora seja esclarecedor do ambiente que se vivia na região dos Dembos:
Assim, estranha-se que dê tanto ênfase ao facto do BC 114 não ter chegado a Nambuangongo.
A esse propósito lembra-se que o BC 114 chegou a Luanda em 09 de Junho de 1961. No dia seguinte, 10 de Junho, como bem refere o Sr Coronel, foi o baptismo de fogo do BC 96, na região de Úcua. O dia "D" para o 96 foi portanto 10 de Junho.
Não na tomada da Pedra Verde porque tal não se verificou nessa altura, mas sim na tentativa de chegar à Pedra Verde. O BC 96 e agora sei, porque o afirma, que terá sido a Companhia do Sr Alferes Miquelina, não passou no sítio denominado "das correntes", porque ali foi travada pelo In, onde sofreu baixas e perdeu material de guerra, nomeadamente uma ML, como se soube na altura. O BC 96 não foi à Pedra Verde, nomeadamente a Quissacala que fica na base desse acidente orográfico, limitando-se a contornar por Pedra Boa, por estrada na altura alcatroada, seguiu rumo a Nambuangongo. A tomada da Pedra Verde verificou-se mais tarde, já depois de ocupada a vila de Nambuangongo, numa grande operação em que intervieram várias unidades, entre elas companhias de Pàras.
Tinha portanto o BC 96 um avanço, em tempo, relativamente ao BC 114, de mais de um mês, porque o BC 114 só ficou operacional em 11 de Julho, devido à falta de viaturas.
Mesmo assim, quando o BC 96 chegou a Nambuangongo, (Parabéns!), o BC 114 já andava por Beira Baixa, a cerca de 30 Km do objectivo e só o facto de já ter sido ocupado é que fez derivar a atenção operacional para outros objectivos, menos notórios, mas mais difíceis, como eram Canacassala e Quifula. Canacassala tinha seis mil homens recenseados, o que significa que a sua população total deveria rondar os quinze a vinte mil pessoas, agora refugiadas nas matas circundantes, onde serviam de apoio aos guerrilheiros.
Tambem diz o Sr "Alferes" Miquelina que, cito: "os ataques inimigos aconteciam de dia e de noite, ao meio-dia e ao meio da tarde, mas nunca se chegou ao corpo-a-corpo, de que muitas vezes se falava."
Sortudo o Sr Miquelina!!! Tomou a Pedra Verde e nunca entrou em luta corpo-a-corpo. Pois dir-lhe-ei que outros o fizeram, não na Pedra Verde, mas em KUANDA MAÚA, em 15 de Julho de 1961, como mais tarde referirei na primeira pessoa juntamente com outros companheiros de combate, que tenho a honra de contar entre os que comigo sobreviveram, pois ficaram no terreno seis mortos nossos e uma vintena de feridos. Felizmente não perdemos material de guerra para o inimigo e os danos que se verificaram, foram as baionetas das espingardas mauser dobradas, devido ao uso que se lhes deu. A guerra não é uma brincadeira!
Seria bom que não armássemos em heróis que não fomos. Todos fomos vítimas nos mesmos trabalhos.
O Santana Pereira e o Casimiro tiveram azar, como outros alferes que por lá ficaram. E que dizer dos outros mortos que não voltaram a ver os familiares?
Estes dois oficiais eram do quadro permanente, tal como o Sr Coronel Miquelina.
Eu não gosto de brincar com os militares, até porque tambem o sou, mas não resisto a lembrar aqui a definição de CORONEL que mais tarde, se estabeleceu no meio.
"CORONEL", é um alferes que não morreu!
Isto relativamente aos primeiros anos da guerra, em que operavam activamente em combate alguns oficiais do QP, porque, mais tarde passou a ser: um capitão que não morreu. E finalmente até os capitães eram milicianos, quase todos.
Mas enfim, não perdemos a guerra. Os políticos é que não souberam nem foram capazes de aproveitar o tempo de que dispuseram para resolver o problema com o mínimo de traumatismos.

1 comentário:

MVHorta disse...

Porque sou ex-combatente da Guerra Colonial leio com alguma assiduidade e atenção livros, revistas, jornais, etc., que relatem episódios da Guerra Colonial. Todavia quando deparo com parcialidades/protagonismos, desisto de continuar a leitura; assim aconteceu há relativamente pouco tempo com o primeiro volume de um livro então publicado. Achei que a parcialidade nele contida fechou o espírito a todos os esclarecimentos. Por tal motivo, o autor deste Blog, terá levantado a espada da razão e colocado os pontos nos "ii" !!!