"Tínhamos todos vinte anos", como muito bem disse o Camarada Furriel SanBento, no encontro de Sines! E, alem disso, estávamos todos possuídos, (como que alienados), pela ideia do IMPÉRIO, que nos fora incutida desde os bancos da escola, e fazíamos parte de um povo, todo ele igualmente possuído pela mesma ideia imperialista, embora camufladamente não se falasse de império mas sim de uma nação una e indivisível desde o Minho a Timor, com uma metrópole e províncias ultramarinas.
Nem tínhamos consciência clara de que íamos para a guerra: a propaganda e a ausência de liberdade de imprensa não permitiam ver a realidade das coisas. Os acontecimentos de Angola eram vistos como actos de banditismo de terroristas e bandoleiros, como então se dizia. Ninguém aceitava que os "nossos" indígenas africanos pudessem revoltar-se contra os seus senhores. Isso era coisa de congolês contra os belgas. Os "nossos" eram fiéis à "pátria"! Até havia um tratado de Simulambuco em que o rei do Congo se submetia à coroa portuguesa, como podiam agora os "nossos pretinhos" renegar a "pátria"?
Férias para despedida dos familiares e amigos! Nada mais natural, cada um fê-lo à sua maneira, deixando o maior número de laços possível para depois poderem relacionar-se, em tempos de saudade e melancolia, senão de sofrimento duro. Escusado será dizer que, cada um, procurou arranjar o maior número de "madrinhas de guerra". Lembro-me de que, por minha parte, arranjei algumas oito ou dez, só que nem todas cumpriram o seu dever de solidariedade para com o "afilhado", e ainda bem porque não seria possível corresponder-me com tanta gente. Havia escassez de aerogramas, pelo menos de início, como é sabido.
Enfim lá nos despedimos como pudemos e a 25 de Maio estávamos em Mafra de novo, prontos para as cerimónias de despedida, então da Unidade Mãe, a Escola Prática de Infantaria.
sábado, 17 de maio de 2008
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1 comentário:
O nosso companheiro João San Bento é um "gentleman". Um amigo que toda a "malta" recorda, no bom sentido. Quando o "corneteiro" da CC 115 "toca" para os almoços anuais de confraternização, ele ali está para responder "pronto!...", não obstante residir na sua Ilha de S. Miguel - Açores, donde é natural. Durante a visita que fizemos aos Açores, no período de 26/30Mai2004, não só foi o "cicerone" na Ilha de S. Miguel, como nos acompanhou também na visita à Ilha Terceira. Trata-se de um amigo que está permanentemente bem disposto e com uma alegria de viver contagiante.
Um abraço
MVHorta
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