A viagem decorreu sem grandes incidentes e com certa normalidade, dentro dos condicionalismos consentidos pelo alojamento de cerca de três mil homens em porões de um cargueiro adaptados a casernas, onde, a certa altura, os enjoos e indisposições provocaram toda a espécie de mal estar, com cheiros insuportáveis e temperaturas que dificultavam a respiração.
O Relatório Oficial relativo a esta operação diz o seguinte:
"Após os primeiros momentos a bordo, em que foram estabelecidas as normas de vida, constatou-se ser o navio insuficiente para tão elevado número de pessoal, por falta de alojamentos capazes, especialmente do ponto de vista da higiene.
Tudo se arranjou o melhor que foi possível e saiu-se a barra do Tejo, rumo a Angola. Para a quase totalidade do pessoal, rumo ao desconhecido; para alguns rumo ao ignorado."
Lugares de refúgio eram os deks, as cobertas, a proa e a popa do navio, que serviam de parada para instrução e especialmente para passar alguns bocados a ver os peixes voadores ou o simples ondular das águas cortadas pela quilha do grande barco.
No dia 30 de Maio, deixadas já para tràs as ilhas de Madeira e Porto Santo, passamos ao largo das ilhas Canárias, e surgiu, como por acaso, uma embarcação militar que soubemos ser a escolta da nossa Marinha de Guerra, a Corveta LIMA que nos acompanhava discretamente a meia distância. Aliás esta escolta durou todo o percurso, só que a certa altura deixou de ser a corveta "Lima", ida de Lisboa, para ser outra baseada em Cabo Verde ou vinda de outro lado qualquer. O Império Português ainda existia e o Mar ainda era, em grande parte, também Português.
Esta escolta era totalmente justificada, por motivos de segurança do navio transporte de tropas, considerada em todas as suas vertentes esterna e interna.
Externa, digo eu, contra qualquer ataque vindo do exterior a uma unidade de tansporte de pessoal completamente indefesa e portanto muito vulnerável; interna porque garantia ao Comando Militar do navio uma intervenção em caso de indisciplina a bordo.
sexta-feira, 30 de maio de 2008
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4 comentários:
Lá íamos assistindo às acrobacias dos peixes voadores e aos seus rápidos mergulhos, por vezes levados ao exagero quando o perigo existe também dentro da água para escaparem aos velozes golfinhos!
Acompanhamento do vaso de guerra português!
"Não fosse Neptuno deixar-se influenciar por Baco e permitir o envio do seu coche (submarine) puxado por cavalos marinhos em direcção ao casco do indefeso navio mercante...".
Bom comentário mvhorta!
Essa possível intervenção de Baco está muito bem vista e com muito humor!
As guerras dos deuses são isso mesmo: uma avalanche de humor, embora os nossos antepassados assim não pensassem porque os deuses eram vindicativos e aterrorizavam o homem.
Já vi o teu trabalho sobre o dia 8 no Fundão.
Muito bem!!!
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