sexta-feira, 30 de maio de 2008

Viagem (NIASSA) - 28MAI61 a 09JUN61

A viagem decorreu sem grandes incidentes e com certa normalidade, dentro dos condicionalismos consentidos pelo alojamento de cerca de três mil homens em porões de um cargueiro adaptados a casernas, onde, a certa altura, os enjoos e indisposições provocaram toda a espécie de mal estar, com cheiros insuportáveis e temperaturas que dificultavam a respiração.
O Relatório Oficial relativo a esta operação diz o seguinte:
"Após os primeiros momentos a bordo, em que foram estabelecidas as normas de vida, constatou-se ser o navio insuficiente para tão elevado número de pessoal, por falta de alojamentos capazes, especialmente do ponto de vista da higiene.
Tudo se arranjou o melhor que foi possível e saiu-se a barra do Tejo, rumo a Angola. Para a quase totalidade do pessoal, rumo ao desconhecido; para alguns rumo ao ignorado."

Lugares de refúgio eram os deks, as cobertas, a proa e a popa do navio, que serviam de parada para instrução e especialmente para passar alguns bocados a ver os peixes voadores ou o simples ondular das águas cortadas pela quilha do grande barco.
No dia 30 de Maio, deixadas já para tràs as ilhas de Madeira e Porto Santo, passamos ao largo das ilhas Canárias, e surgiu, como por acaso, uma embarcação militar que soubemos ser a escolta da nossa Marinha de Guerra, a Corveta LIMA que nos acompanhava discretamente a meia distância. Aliás esta escolta durou todo o percurso, só que a certa altura deixou de ser a corveta "Lima", ida de Lisboa, para ser outra baseada em Cabo Verde ou vinda de outro lado qualquer. O Império Português ainda existia e o Mar ainda era, em grande parte, também Português.


Esta escolta era totalmente justificada, por motivos de segurança do navio transporte de tropas, considerada em todas as suas vertentes esterna e interna.
Externa, digo eu, contra qualquer ataque vindo do exterior a uma unidade de tansporte de pessoal completamente indefesa e portanto muito vulnerável; interna porque garantia ao Comando Militar do navio uma intervenção em caso de indisciplina a bordo.

4 comentários:

MVHorta disse...

Lá íamos assistindo às acrobacias dos peixes voadores e aos seus rápidos mergulhos, por vezes levados ao exagero quando o perigo existe também dentro da água para escaparem aos velozes golfinhos!

MVHorta disse...

Acompanhamento do vaso de guerra português!
"Não fosse Neptuno deixar-se influenciar por Baco e permitir o envio do seu coche (submarine) puxado por cavalos marinhos em direcção ao casco do indefeso navio mercante...".

NOCA disse...

Bom comentário mvhorta!
Essa possível intervenção de Baco está muito bem vista e com muito humor!
As guerras dos deuses são isso mesmo: uma avalanche de humor, embora os nossos antepassados assim não pensassem porque os deuses eram vindicativos e aterrorizavam o homem.
Já vi o teu trabalho sobre o dia 8 no Fundão.
Muito bem!!!

NOCA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.